Pesquisadores do King's College London desenvolveram uma tecnologia que utiliza queratina, uma proteína presente em cabelos, pele e lã, para reparar o esmalte dentário e interromper estágios iniciais de cáries. A pesquisa foi publicada na revista “Advanced Healthcare Materials” e divulgada nesta quarta-feira (13/8). O estudo demonstra que a proteína forma uma camada protetora que imita a estrutura e função do esmalte natural quando entra em contato com minerais da saliva.

A equipe de pesquisadores verificou que a queratina, ao ser aplicada na superfície do dente, cria uma estrutura cristalina organizada que atrai íons de cálcio e fosfato, formando uma cobertura semelhante ao esmalte natural ao redor do raiz do dente.

A investigação surgiu da necessidade de encontrar soluções para problemas dentários comuns. Alimentos e bebidas ácidas, higiene bucal inadequada e envelhecimento contribuem para a erosão do esmalte e cáries, causando sensibilidade, dor e possível perda dentária.

Os cientistas inicialmente extraíram queratina da lã, mas descobriram que a proteína também pode ser obtida de materiais biológicos descartados, como cabelos e pele.

Sara Gamea, pesquisadora de doutorado na instituição britânica e primeira autora do estudo, trabalhou com Sherif Elsharkawy, consultor em prótese dentária e autor sênior da pesquisa. Os pesquisadores constataram que, enquanto as pastas de dente com flúor atualmente utilizadas apenas retardam o processo de deterioração, os tratamentos à base de queratina conseguem interrompê-lo completamente. A queratina forma uma camada mineral densa que protege o dente e veda os canais nervosos expostos que causam sensibilidade.

A equipe estima que tratamentos dentários à base de queratina possam chegar ao público nos próximos dois a três anos, tornando-se uma alternativa sustentável e eficaz. O produto poderá ser disponibilizado como pasta de dente para uso diário ou como gel aplicado profissionalmente para reparos mais direcionados.

"A queratina oferece uma alternativa transformadora para os tratamentos dentários atuais. Não apenas é obtida de forma sustentável a partir de materiais de resíduos biológicos como cabelo e pele, mas também elimina a necessidade de resinas plásticas tradicionais, comumente usadas na odontologia restauradora, que são tóxicas e menos duráveis. A queratina também parece muito mais natural do que esses tratamentos, pois pode combinar mais de perto com a cor do dente original", afirmou a pesquisadora, Sara Gamea, em comunicado. "Esta tecnologia preenche a lacuna entre biologia e odontologia, fornecendo um biomaterial ecológico que espelha processos naturais", acrescentou a pesquisadora.

O consultor em prótese dentária, destacou as perspectivas futuras da descoberta. "Estamos entrando em uma era empolgante onde a biotecnologia nos permite não apenas tratar sintomas, mas restaurar a função biológica usando os próprios materiais do corpo. Com mais desenvolvimento e as parcerias industriais certas, em breve poderemos estar cultivando sorrisos mais fortes e saudáveis a partir de algo tão simples quanto um corte de cabelo".