Cientistas da Universidade Yale descobriram que o HIV utiliza um fator de transcrição chamado BACH2 para se esconder em células T do intestino, escapando dos tratamentos antirretrovirais. A pesquisa foi publicada na revista Immunity nesta quinta-feira (21/8). O estudo revela um potencial alvo para futuras terapias que busquem eliminar completamente o vírus do organismo.
Apesar dos avanços nos medicamentos que prolongam a vida dos pacientes e reduzem a transmissão, ainda não existe cura definitiva para a infecção pelo HIV. Quando tomados regularmente, os antirretrovirais impedem que o vírus infecte células sanguíneas, mantendo-o fora de circulação.
"Este fator de transcrição chamado BACH2 faz três coisas que são, normalmente, muito protetoras", explica Ya-Chi Ho, MD, PhD, professora associada de patogênese microbiana na Escola de Medicina de Yale e autora sênior do estudo. "Primeiro, o BACH2 diz às células T que chegam ao intestino que elas devem permanecer lá e não viajar para nenhum outro lugar. Em seguida, diz a elas para ficarem por um tempo realmente longo – basicamente, para sempre. E terceiro, diz a essas células para pararem de lançar armas defensivas e inflamatórias, a fim de evitar que as células prejudiquem o tecido saudável e sensível ao redor."
O intestino humano está constantemente exposto a diversos patógenos presentes nos alimentos, incluindo bactérias, fungos e vírus. Para combater essas ameaças, o corpo posiciona células T ao longo do trato intestinal, criando um sistema de defesa especializado.
"Mas isso também é perfeito para o HIV", diz Ho. "Quando ele infecta essas células T de longa duração, tem um lugar realmente seguro para ficar por um tempo muito longo."
Maior concentração do vírus está no intestino
A equipe de Yale descobriu que a maior concentração do HIV persistente se encontra no intestino, especificamente nas células T. Em outras regiões do organismo, o sistema imunológico consegue identificar e eliminar células infectadas, mas isso não ocorre no ambiente intestinal.
Os cientistas analisaram a regulação gênica nas células intestinais e identificaram que o BACH2 transforma células T de vida curta em células persistentes de longa duração, criando um refúgio para o HIV.
Apesar de representar um alvo promissor para novas terapias, o desenvolvimento de tratamentos direcionados ao BACH2 enfrenta desafios significativos. Este fator de transcrição está presente em todo o organismo e cumpre funções essenciais para o funcionamento normal do sistema imunológico.
"Então não podemos simplesmente atingir o BACH2 e nos livrar de todas essas células T de longa duração", explica Ho. "Precisamos ser específicos e encontrar uma maneira de atingir apenas as células T infectadas pelo HIV."
Pesquisa em outras áreas do corpo
A equipe está expandindo sua investigação para compreender como o HIV consegue se ocultar em outras partes do corpo. "Estamos usando essa abordagem para entender como o HIV se esconde em outras áreas, como nos gânglios linfáticos e em células cancerígenas", afirma Yulong Wei, PhD, pesquisador de pós-doutorado no laboratório de Ho e autor principal do estudo.
Os pesquisadores também investigam os mecanismos que controlam o BACH2, analisando como as células imunes vizinhas no intestino se comunicam com as células T e como os micróbios intestinais influenciam essa interação. "Queremos entender como todas essas células conversam entre si", explica Ho. "Isso poderia revelar outros alvos para eliminar o HIV."
A abordagem busca mapear as interações celulares que permitem ao vírus estabelecer reservatórios no organismo e abre caminho para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficazes.