Pesquisadores irlandeses descobriram que o risco de sofrer um infarto aumenta 13% às segundas-feiras em comparação com outros dias da semana. O estudo foi conduzido pelo Belfast Health and Social Care Trust em parceria com o Royal College of Surgeons na Irlanda, analisando dados de 10.528 pacientes hospitalizados entre 2013 e 2018 na Irlanda e Irlanda do Norte.

A investigação focou em casos de STEMI (infarto do miocárdio com elevação do segmento ST), tipo mais grave de ataque cardíaco caracterizado pelo bloqueio completo de uma grande artéria coronária. Os dados mostraram uma concentração maior desses eventos cardíacos no primeiro dia útil da semana, com taxas também mais elevadas do que o esperado aos domingos.

"O que encontramos foi que as chances de sofrer um ataque cardíaco eram cerca de 13% maiores na segunda-feira em comparação com os outros dias da semana. Resultados semelhantes foram relatados anteriormente em estudos internacionais, mas é a primeira vez que observamos o fenômeno em um cenário irlandês", explicou o presidente de Pesquisa Cardiovascular da Escola de Farmácia e Ciências Biomoleculares da RCSI e Diretor de Cardiologia do Hospital Mater Private, professor Robert Byrne.

"O mecanismo exato para essas variações é desconhecido, mas presumimos que tenha algo a ver com como o ritmo circadiano afeta os hormônios circulantes que podem influenciar ataques cardíacos e derrames", declarou o cardiologista que liderou a pesquisa no Belfast Health and Social Care Trust, Jack Laffan, em comunicado oficial.

O especialista apresentou uma hipótese para explicar o fenômeno. "É provável que seja devido ao estresse de voltar ao trabalho. O aumento do estresse leva ao aumento dos níveis do hormônio do estresse cortisol, que está associado a um maior risco de ataque cardíaco", afirmou.

Laffan acrescentou que "o momento mais provável do dia para ter um evento cardiovascular é nas primeiras horas da manhã, entre 6h e 10h. É quando o cortisol e outros hormônios em nosso sangue aumentam quando acordamos, e esses hormônios também aumentam quando estamos sob estresse".

A pesquisa reforça estudos anteriores que já sugeriam relação entre alterações no ritmo circadiano – o ciclo natural de sono e vigília do corpo – e o aumento na incidência de infartos, estabelecendo uma correlação mais clara com o início da semana de trabalho. Os resultados foram apresentados na Conferência da Sociedade Cardiovascular Britânica (BCS) de 2023.

O STEMI requer avaliação e tratamento de emergência para minimizar danos ao coração, normalmente realizado com angioplastia de emergência - um procedimento para reabrir a artéria coronária bloqueada. "Este estudo adiciona evidências sobre o momento de ataques cardíacos graves, mas agora precisamos entender quais são os gatilhos que os tornam mais prováveis em certos dias para que possamos salvar mais vidas no futuro", acrescentou o professor Byrne.

Casos no Brasil

No Brasil, ocorrem entre 300 mil e 400 mil casos de infarto agudo do miocárdio anualmente, configurando a principal causa de mortes relacionadas a problemas cardiovasculares no país. As internações por infarto registradas pelo Sistema Único de Saúde aumentaram mais de 25% entre 2019 e 2022. Em 2016, foram registradas 81.500 hospitalizações por essa causa, número que superou 100 mil em 2022.

Um levantamento do Instituto Nacional de Cardiologia mostrou que, no período entre 2008 e 2022, as internações por infarto cresceram aproximadamente 158% entre homens e 157% entre mulheres no Brasil.