Um medicamento inovador desenvolvido no Brasil, a polilaminina, está demonstrando uma capacidade sem precedentes de regenerar a medula espinhal em pacientes com paraplegia e tetraplegia. Desenvolvido ao longo de 25 anos de pesquisa a partir de proteínas da placenta humana, o fármaco permitiu a recuperação de até 70% do controle do tronco em alguns pacientes e a recuperação total em casos de lesão recente.

Apresentada na terça-feira (9/9) pelo laboratório Cristália, a polilaminina atua estimulando neurônios maduros a se regenerarem e formarem novos axônios, as estruturas essenciais para a transmissão de impulsos elétricos pelo corpo.

Como funciona a polilaminina?

A polilaminina é uma proteína derivada da laminina, substância naturalmente presente no organismo humano que desempenha papel fundamental na regeneração de tecidos. No contexto do tratamento de lesões medulares, esta proteína atua como um "andaime molecular" que guia o crescimento de novos neurônios e facilita a reconexão das vias nervosas danificadas, representando uma possível solução para condições até então consideradas irreversíveis pela medicina convencional.

Durante a fase experimental, o medicamento é aplicado diretamente na coluna vertebral dos pacientes, com resultados que variam conforme o caso e o tempo decorrido desde a lesão. A pesquisadora Tatiana Coelho de Sampaio, professora da UFRJ, dedicou 25 anos ao estudo da proteína laminina e suas propriedades reparadoras no sistema nervoso.

 

Aguardando a aprovação da Anvisa para ampliar os testes, o laboratório Cristália apresentou resultados promissores. Dentre os voluntários, a atleta paralímpica Hawanna Cruz Ribeiro, tratada três anos após sua lesão, recuperou entre 60% e 70% do controle do tronco. Já Bruno Drummont de Freitas, que recebeu a polilaminina apenas 24 horas após o trauma que o paralisou, relatou recuperação completa em cinco meses, retomando sua rotina normal.

Os testes em animais também foram bem-sucedidos. Cães com lesões medulares recuperaram totalmente a capacidade de andar. Em ratos, os efeitos positivos foram observados em apenas 24 horas.

Próximos passos

O laboratório Cristália, que já está produzindo a polilaminina a partir de placentas doadas por mulheres saudáveis, aguarda a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar estudos clínicos regulatórios em maior escala. A expectativa é que a autorização seja concedida em aproximadamente um mês.

Inicialmente, o tratamento será destinado a pacientes com diagnóstico de lesão medular recente (até três meses). Instituições como o Hospital das Clínicas e a Santa Casa de São Paulo já estão preparadas para realizar as aplicações assim que forem autorizadas.

Os pesquisadores destacam que, até o momento, não foram observados efeitos colaterais. Para lesões mais antigas, o medicamento também mostra impacto positivo, embora os resultados possam variar e depender do comprometimento do paciente com a reabilitação pós-operatória.

"Não vendemos ilusões, trazemos evidências. Os resultados não são iguais para todos", enfatizou Ogari Pacheco, fundador e presidente do conselho do Cristália. "Mostramos que quanto mais rápida a aplicação, melhor o resultado. Estamos também trabalhando em casos crônicos e estamos avançando."