A denúncia do atacante Allano, do Operário, de injúria racial por parte do meia Miguelito, do América, levantou novamente a bola do racismo no futebol. O caso ainda está sob investigação, mas pode se juntar aos diversos casos de preconceito no esporte. Um especialista ouvido por O TEMPO Sports pensa que a falta de punições mais severas, principalmente aos clubes, é um facilitador para que os casos continuem ocorrendo. 

No último domingo (4), Miguelito foi acusado de injúria racial contra o atacante Allano, durante a partida entre Operário e América, pela Série B do Campeonato Brasileiro. O árbitro registrou na súmula que o jogador do time paranaense alegou ter sido chamado de ‘preto cagão’ pelo atleta americano. Miguelito chegou a ser preso, foi solto e, nesta terça-feira (6), foi suspenso preventivamente pelo STJD

Atos discriminatórios configuram infração contra o artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva.  O documento indica como possíveis punições a suspensão do jogador de até dez partidas, além de uma multa: 

"Suspensão de cinco a dez partidas, se praticada por atleta, 
mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, e suspensão pelo prazo de cento e vinte a trezentos e sessenta dias, se praticada por qualquer outra pessoa natural submetida a este cógido, além de multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais)", enumera o CBJD. 

Andrei Kampff, advogado especializado em direito esportivo e direitos humanos no esporte, entende que esse tipo de punição não é o suficiente para combater o racismo no futebol. Além da multa e da suspensão, o especialista defende que o clube sofra punições mais severas.  

“Tem que ter perda de pontos, perde a partida por 3 a 0, como aconteceu com o Colo-Colo (contra o Fortaleza, na Libertadores), em decorrência de um episódio de violência. Se for um torcedor isolado praticando preconceito, não pode dar causa de anulação de uma partida. Mas um grupo significativo de torcedores agindo de maneira preconceituosa pode. Um dirigente ou jogador se manifestando assim também tem que dar causa de perda de pontos. E isso a gente não tem”, lamenta. 

Andrei afirma que esse tipo de punição tem sido rara no Brasil e cita apenas dois casos em que ocorreu algo do tipo. “A gente tem o histórico do Grêmio punido com perda de mando de campo, pelo caso do goleiro Aranha. E em 2022, um dirigente do Brusque foi racista com um jogador do Londrina e o time perdeu pontos”, relembrou. Mas no geral, as punições se limitam a multas e suspensões. 

Andrei Kampff enxerga que os clubes têm papel educador no combate ao preconceito no esporte e, por isso, defende maior rigor com as agremiações.

“Clubes e federações devem ter o entendimento de que eles devem conscientizar e educar os atores do futebol sobre os direitos humanos no esporte. Isso pode trazer uma punição dentro do esporte, uma vez que esses direitos sejam violados. O direito também tem essa força coercitiva, de fazer com que as pessoas, com medo de punição, ajam em conformidade com a lei”, pondera.