O fotógrafo Nuremberg José Maria, de 67 anos, atingido por uma bomba caseira lançada por um torcedor do Atlético durante a final da Copa do Brasil contra o Flamengo, no dia 10 de novembro, na Arena MRV, ficará afastado do trabalho de um a três meses em função dos ferimentos.

Autônomo há mais de 20 anos e sem previdência privada ou fundo de garantia, o profissional contou à reportagem de O TEMPO SPORTS que enfrenta dificuldades financeiras para arcar com despesas como IPTU, condomínio, telefone e internet. “Essas contas continuam chegando. Estou recebendo muita ajuda de amigos e familiares. Fizeram até rifas e vaquinhas para arrecadar dinheiro. Só tenho a agradecer a todos que estão me ajudando neste momento difícil”, destacou.

Além dos ferimentos, Nuremberg perdeu os óculos recém-comprados por R$ 600 e teve seu equipamento de trabalho danificado durante a confusão. “Já recebi parte do dinheiro arrecadado de amigos. Sempre trabalhei como autônomo. Tive comércio, depois comecei a trabalhar como cinegrafista e fotógrafo. Acredito que, aos poucos, a vida vai retornando ao curso. É tempo”, afirmou.

Internado inicialmente no Hospital João XXIII, Nuremberg foi transferido para um hospital particular com apoio do Atlético e recebeu alta na última quinta-feira (14/11). Segundo ele, o clube tem fornecido suporte médico desde o incidente na Arena MRV. 

 “O presidente Sérgio Coelho foi ao hospital público onde eu estava, conversou comigo e providenciou minha transferência para um hospital particular. Fiquei internado lá de um dia para o outro e recebi alta”, explicou. “Estou me recuperando em casa, tomando medicamentos mais fortes para aliviar as dores. Estou usando a bota térmica e cuidando do corte, onde foram dados os pontos. No dia 21, vou retornar ao médico, o doutor Otaviano, para avaliar como está a cicatrização e os ossos, e decidir os próximos passos”, completou.

Presidente do Atlético, Sérgio Coelho, ao lado de Nuremberg no Hospital | Arquivo Pessoal

Apesar do apoio, Nuremberg considera não retornar ao trabalho na Arena MRV, decisão que ainda discute com a família. “Minha família não quer que eu volte, mas minha esposa pensa diferente, porque sabe o quanto amo esse trabalho e o bem que ele faz para minha cabeça. Tive câncer em 2019, tratei até 2023 e fiquei muito mal emocionalmente quando parei de trabalhar. Então, acredito que vou voltar, mas só se houver mais segurança. Do jeito que está, a proximidade entre jornalistas e torcedores na Arena MRV é muito perigosa”, detalhou.

Com mais de 20 anos de carreira e experiência em estádios no Brasil e na Europa, Nuremberg destacou ainda que nunca presenciou nada tão grave quanto o ocorrido na Arena MRV.

“A ideia de aproximar torcedores dos jogadores pode ser interessante, mas aqui não funciona devido à nossa cultura. Mesmo com vidro, bombas e objetos podem ser lançados por cima. Sinto-me mais seguro no Mineirão, tanto no gramado quanto na saída”, reflete sobre a necessidade de melhorias estruturais e de segurança nos estádios na capital mineira.

Torcedor preso

No último domingo (17/11), o torcedor suspeito de lançar a bomba foi preso. O homem, de 25 anos, não integra nenhuma torcida organizada, mas adquiriu o ingresso com um integrante de uma delas. Ele pode responder por tentativa de homicídio.

O governo de Minas Gerais informou que a identificação do suspeito foi possível por meio de imagens de mais de 300 câmeras da Arena MRV e de agentes de segurança.

 “Desde o domingo, estamos trabalhando na identificação desse homem. Fizemos um trabalho de trás para frente: contamos com imagens de mais de 300 câmeras, além de câmeras de agentes de segurança, e identificamos de onde veio a bomba. Depois, o percurso que esse homem fez, com quem ele foi, até que chegamos à identidade dele”, explicou o governador em exercício, Professor Mateus.

Questionado sobre a prisão do torcedor atleticano, Nuremberg defendeu uma punição exemplar. “Espero que ele seja punido, para servir de exemplo e evitar que outros façam o mesmo. Não desejo mal a ninguém, acredito em Deus e acho que vingança não leva a nada, mas a punição é necessária”, concluiu.