O Atlético ficou com o vice da Libertadores 2024, ao ser derrotado para o Botafogo, neste sábado (30), em Buenos Aires, na Argentina. O placar foi, sobretudo, justo. Muito justo. Num mesmo jogo, pela dimensão única que ele tem, é possível cravar, por ordem de importância, que donos, Milito e atletas são corresponsáveis, mas têm culpas distintas.

Por ora, olhemos para o campo, que se ofereceu para o Atlético desde os primeiros segundos da partida, com a expulsão de Gregore. Ficou evidente qual dos times é melhor treinado. O Atlético teve a óbvia posse de bola, mas sabia pouco o que fazer com ela, jogando um futebol igualmente óbvio. Alonso adiantado, mas sem reais qualidades ofensivas, Scarpa isolado, além de Hulk, Paulinho e Deyverson subutilizados, eram situações sintomáticas. Muita gente boa. Pouco repertório para combiná-las a ponto de surpreender um Botafogo duplamente concentrado para defender. 

Ninguém, em sã consciência, vai dizer que é fácil superar nove jogadores postados na linha de defesa, num contexto tenso, de final, de decisão da América. Ninguém, em sã consciência, pode achar normal que os jogadores de ataque do Atlético não poderiam fazer mais do que fizeram. Eis a parcela de Gabriel Milito na final: jogar com um homem a mais desde o segundo 41 e tomar 3 a 1 no fim das contas é indefensável. A rigor, o Atlético fez um gol de bola parada. Uma jornada infeliz, pobre e que escancara que, do outro lado, havia um trabalho bem melhor do que o do técnico argentino. Havia, para ser justo, peças bem melhores do outro lado, mas por isso Milito já não responde.

Antes de analisar os responsáveis diretos por disponibilizar a Milito os jogadores que ele tem, é possível apontar falhas dos próprios atletas. O primeiro gol do Botafogo combina troca de passes, desmarques, movimentações e precisão - justamente do que precisava o Atlético para fazer valer o homem a mais. Mas este é um mérito do Botafogo, nada a reclamar. O segundo gol, sim, é lamentável. Everson e Arana conseguem cometer uma penalidade com uma bola que só precisava ser cercada. No terceiro, Alonso saiu para caçar Júnior Santos e só voltou para buscar a bola dentro do gol.

Como dito no início do parágrafo, porém, tratam-se de falhas. Qualquer jogador está suscetível a isso. Se estes três atletas envolvidos muito mais acertam do que erram - na atual temporada e na história - não há nada mais a se fazer a não ser lamentar. Impossível crucificar.

Por fim, este Botafogo é o mesmo clube que perdeu um Campeonato Brasileiro há um ano, de forma vexatória. Seu dono, embora seja uma figura controversa, que precisa provar as supostas tantas irregularidades que denuncia no futebol brasileiro, não deu a entender que diminuiria os investimentos na temporada seguinte. John Textor comportou-se como investidor de fato: dobrou a aposta, meteu a mão no bolso, pagou caro por jogadores inquestionáveis e está prestes a reverter a piada que fizeram com o time dele, já que ganhou a Libertadores e está prestes a erguer a taça do Brasileirão.

Por aqui, estranhamente já há o discurso, uma narrativa noticiada, de que a não vaga na Libertadores do ano que vem significará uma redução de investimentos. O Atlético sentiu falta de jogadores nas duas finais de copas que disputou. Os adversários deixaram claro nas decisões o quanto são mais completos, mais fortes, mais poderosos. O Atlético não se reforçou o suficiente em 2024 para, na hora exata, ganhar. Neste contexto, se de fato se comportassem como investidores, os donos do Atlético dariam uma de John Textor: mão no bolso para o ano seguinte.

A SAF do Atlético não cansa de dizer que se orgulha de ser composta por atleticanos. O atleticano comum, aquele que não é dono, sabe o que faltou para ganhar. Veremos o quão atleticanos são aqueles que mandam.