Em tempos de discussões acaloradas sobre o uso de novas tecnologias, inteligência artificial e novas formas de se conectar com o mundo, os clubes de futebol estão tentando entender como lidar com o seu novo tipo de torcedor e trazer ele para “viver e consumir” as agremiações. 

O grande desafio, sem dúvidas, é conseguir chamar a atenção de uma geração que tem grande facilidade com o mundo virtual, mas  tem timidez com coisas práticas do dia a dia. E o Atlético é, neste momento, o clube brasileiro que mais está compreendendo as novas realidades. 

Com um setor de inovação, que visa atender todas as demandas do clube, inclusive do futebol, e tem projetos  diferentes para uma instituição esportiva, como um mundo virtual do clube, o Galo Verso; portas abertas para eventos de games, como o Desafio Brasileiro de Esportes Eletrônicos e até a criação de uma equipe alvinegra de esportes eletrônicos. 

A Head de Inovação do Galo, Débora Saldanha, falou com a reportagem de O Tempo Sports e detalhou como o Atlético está trabalhando novidades que podem gerar novos produtos, receitas e aproximação com os torcedores do presente e do futuro.  Confira abaixo o as novidades e bate papo sobre o mundo do Galo, além do campo de futebol. 

 

O Tempo Sports- O que é e como o setor de inovação do Atlético foi criado e como isso foi inserido em uma estrutura que não tinha esse foco até alguns anos atrás?

 

Débora Saldanha: Então, o setor de inovação no Atlético foi criado em 2021, com o apoio e  ajuda da Ernst & Young, que sugeriu que seria interessante que o Atlético tivesse esse setor. Então, lá em 2021, logo após a pandemia, a gente estava passando  por  aquele momento complicado,  retomando a vida. Aí,  o Atlético decidiu criar o setor.  Quem começou o trabalho foi o Felipe Rib. Ele foi o primeiro gerente de inovação do Atlético que ficou durante este ano de 2021. A Inovação do clube  foi criada na área de negócios, primeiramente, para ajudar a pensar esses novos negócios, principalmente. 

Quando eu cheguei, o Felipe saiu em 2021 e me convidou para o setor. Perguntou se eu toparia ser a gerente de inovação no lugar dele. Comecei no Atlético em janeiro de 2022, ainda na área de negócios. Depois, nesse meio tempo, a gente já estava com a Arena MRV, para ficar pronta em 2023. 

Daí, tendo muitas conversas com o diretor de tecnologia e pensando no que a gente poderia trazer de experiências e novos negócios para a Arena, acabou que eu fui para a área de tecnologia,  pensando, claro, que eu seguiria ajudando e apoiando a área de negócios, mas com a ideia de ter um foco principal para a MRV é, na verdade, ter um foco de inovação para todo clube. 

E, estamos trabalhando, tentando gerar e elaborar esses novos negócios através das novas tecnologias, tendências que a gente tem, mas também apoiando todo o clube a inovar, a trazer essa cultura de inovação.

E esse setor de inovação  atua  nessas frentes,  com alguns projetos principais, como o Super App do  Galo,  e os projetos de games. Mas  atuamos também com a inteligência artificial, novas tecnologias, tendências para os outros setores, seja jurídico, , comunicação, administrativo. Então esse é o nosso papel hoje: ajudar e a pensar nos próximos anos do clube.

 

OTS:  O olhar para o digital, para o novo mundo das tecnologias não poderia ser mais ignorado pelo futebol, certo? O que impulsionou a criação da área de inovação no Atlético?

 

DS:  Poucos clubes têm um setor de inovação. E por que foi inserido, por que a Ernst Young sugeriu isso? Acho que com a questão da pandemia, o mundo inteiro teve que olhar mais para o digital, para as novas tecnologias, para como acelerar processos, como acelerar negócios, como manter nessas situações. E o viés da população como um todo se tornou muito mais, se tornou digital, como você vive no mundo digital em pandemia. E aí essa realidade, óbvio que iria perdurar, não ia ser só naquele momento. Então a gente vive em um mundo, que já passou dessa questão das redes sociais, acho que é muito mais do que isso. Então o digital está muito presente na realidade de crianças a idosos, e a inovação lá vem com essa pegada de ter esse olhar para esse novo perfil. De fã para um novo perfil de consumo, de esporte, do futebol e tudo mais.

OTS-  Sobre o futuro time de esportes eletrônicos e outros projetos. Como andam os trabalhos, prazos e quais são as metas e o calendário previstos para implantar esses projetos? 

 

DS: Como esportes eletrônicos, a gente no ano passado estudou muito o mercado, a gente chegou a fechar uma parceria com uma equipe, testamos essa parceria ali, uma construção dessa parceria, mas a gente acabou decidindo dar um passo atrás. 

Por muitas questões, já que em 2023 era o primeiro ano de SAF do clube, e dessas questões de games também, a gente achou que teria que estruturar  um pouco melhor, pavimentar mais esse caminho para então lançar. Então, a ideia é ter o time de esportes eletrônicos, talvez começar com equipe de futebol, nem tanto as outras, mas a gente quer sim ter uma equipe de CS (Counter Strike), ter uma equipe de Fortnite, que é um que a gente já tem também. 

Inclusive já temos o  nosso ambiente próprio lá no Fortnite. A ideia é estruturar essas equipes, mas a gente está muito pé no chão para que a gente não passe pelo mesmo que outros clubes passaram, né. Eles  fizeram parcerias que não evoluíram e acabaram tendo que fechar esses espaços, ou acabaram até perdendo um certo, eu não digo controle, porque a ideia não é que a gente tem controle. Mas a ideia é não ter só um parceiro, só licenciar a marca, a ideia é de ser realmente um parceiro dessa equipe ou dessa agência ou dessa, né, dessa organização que vai nos ajudar a colocar o Atlético nos esportes eletrônicos.

Logo, a proposta  é finalmente lançar esse ano os esportes eletrônicos do clube, começando aos poucos.  Começando a pensar que não é só ter uma equipe; Tem todas as questões jurídicas: são atletas, tem a parte de  fazer peneiras.

Como a gente fala no futebol. São muitos caminhos que a gente pode seguir, então a gente está indo muito devagar, entendendo qual é  o melhor caminho, como pavimentar muito bem para quando o Atlético se lançar, ter realmente um futuro importante, deixar um legado que não seja um projeto que já nasça com os descontados. Então por isso que a gente ainda não lançou, mas a ideia é que pelo menos até a metade desse ano a gente já tenha pelo menos uma equipe lançada.

OTS: Quais são os pilares e caminhos que os esportes eletrônicos terão no Atlético? 

DS: Eu gosto sempre de falar que a gente tem quatro pilares na linha de games:  o primeiro foi já o primeiro passo que a gente deu com Fortnite, esse ano em breve a gente terá um novo um novo game a ser lançado até final de fevereiro. Então a ideia é ter o Mundo do Atlético Arena MRV para dentro dos games, os que forem possíveis.  Então, a gente levou para dentro de Fortnite, e vamos levar para dentro de outro game. Seguiremos nessa construção e entendendo o público, entendendo o perfil do fã que está ali.  Como que a gente pode mesclar o mundo, o esporte tradicional com games. 

Esse é o primeiro caminho. O segundo pilar são os eventos:  trouxemos o Desafio Brasileiro de Esportes junto da Liga Brasileira de Esportes para ser um primeiro passo e para abrir as portas da arena, mostrar que a arena está aberta. Aberta para esses eventos de esportes eletrônicos.

E a gente espera, sim, ter um evento próprio, do Atlético, este ano, já pensando no que vem aí de equipe,  já pensando nesses lançamentos, mas também dizer que estamos abertos para fazer essas parcerias e movimentar cada vez mais a Arena MRV, Belo Horizonte e Minas Gerais, nesse cenário de esportes eletrônicos. O Desafio Brasileiro de Esportes Eletrônicos foi um sucesso  e a gente pretende seguir nesse caminho.

OTS: Como anda o Galo Verso? Há números, dados sobre o projeto e como ele pode incrementar a presença do torcedor nos mundos virtuais e físicos?

DS: O Galo Verso, para quem não sabe, é a nomenclatura que a gente deu para este projeto de games como um todo, né? Então, quando lançamos o mapa no Fortnite, a gente lançou como Galo Verso, mas é o mapa que está dentro do Galo Verso. 

 

O Galo Verso são multiversos do Galo, né? Então, a gente está aí no Fortnite, como eu falei. E vamos lançar o próximo game. E tudo isso é essa construção. E não é do dia para a noite, não é simples você dizer, que  vou entrar em games, vou levar um mapa, ou criar mapas.  

Pode parecer fácil, pode parecer simples, para quem já é desenvolvedor ou está no meio. Mas no futebol,  num mundo tão tradicional, enfim, são muitas variáveis. São muitas questões e principalmente essa questão do público, do torcedor, do fã, quem que está lá, né?

Como é que a gente consegue conectar o torcedor do Galo, a Massa, a esse público que é mais, esse fã que é mais gamer, que tá mais focado nesse mundo dos games. Trouxemos bons números, bons dados.  

Tivemos em menos de seis meses mais de 100 mil pessoas, 150 mil pessoas acessando o Galo Verso. Isso é  muito engajamento das pessoas querendo saber mais. Ainda não conseguimos focar nesse crescimento tão grande do ano passado quanto a gente queria, porque também há um custo. 

 Todo esse desenvolvimento é um custo elevado e a gente precisa trazer mais parceiros.  E quando falamos com parceiros, com as marcas, nem todas estão preparadas, ou nem todas estão com esse viés de levar sua marca para os games, ou não há um entendimento tão claro a respeito disso.

Por isso, precisamos ter esse cuidado,não só com o fã, mas também de pensar quais são os parceiros que a gente pode trazer para nos ajudar a criar esses mapas,  para que eles tenham um resultado também importante nesses mapas e para que a gente consiga fazer algo legal.

 

Por isso fomos  um pouco mais devagar nesse processo, mas esse ano a gente vem com tudo para mostrar que tem um público muito engajado, que tem um público que a gente quer se conectar e precisa se conectar, porque os jovens estão muito mais nessa área de games.  Os jovens estão muito mais nesse viés.

 E temos muitos jovens que torcem para o Atlético. Logo, precisamos nos conectar com eles também através desse mundo, para que aqueles que não estejam tão ligados ao Atlético no futebol.  Eles vão poder consumir o Atlético dentro dos games, que é o que eles têm como maior entretenimento, como maior consumo. Acho que essa é a ideia, a gente vai trabalhar para isso muito forte esse ano também.