O dom que ele tem para fazer gols talvez seja igualmente proporcional ao dom da palavra. Em entrevista coletiva nesta terça-feira, o atacante e pastor Ricardo Oliveira proferiu um discurso emocionado, motivacional e de apelo nunca antes visto na Cidade do Galo.
Só para se ter uma ideia, a primeira resposta do jogador teve exatos 11 minutos e 24 segundos. Se dirigindo muitas vezes aos torcedores, Ricardo Oliveira procurou ser o mais sincero possível, expondo os altos e baixos do clube na temporada e os ajustes nos objetivos propostos.
Até o meia Cazares apareceu para ouví-lo na sala de imprensa. O jogador demorou tanto que foi preciso apressá-lo pois o grupo o esperava para a exibição de um vídeo antes do treino desta terça-feira. Nestaquarta-feira, o Atlético recebe o líder São Paulo, pelo Campeonato Brasileiro.
Veja como foi a entrevista na TV Galo
Confira partes do discurso de Ricardo Oliveira:
Motivos para assinar com o Galo
“Eu tive a possibilidade de permanência no Santos, de sair para outros lugares, mas uma coisa mexeu comigo. Sou movido a desafios e não gosto de ficar na zona de conforto, haja vista quando sai do bairro do Carandiru (em São Paulo). As coisas que aconteceram na minha vida nunca foram fáceis. Eu assisti o Atlético jogar em 2013 e em 2014, onde o Atlético tinha que se reinventar a cada partida, que foi o “Eu acredito” da nossa torcida. Todos os jogos no Independência e no Mineirão escutava esse grito. Eu joguei contra e ouvi esse grito contra. É algo que me motivou a vir para cá. Sentir esse calor, esse grito e essa torcida empurrando seu time do coração para frente”
Novos tempos
“Quando cheguei aqui, cheguei debaixo de muita desconfiança e muita incerteza pelos problemas que tive (médicos, de lesão). Joguei muito pouco (no Santos), fiz 40 jogos no ano e fiz 12 gols se não me engano. Aqui estou batendo os 40 jogos, não sofri nenhuma lesão... Mas sinto que o meu torcedor está meio inseguro, meio triste. Não sei se pelo fato de não estar conseguindo fazer o jogo que eles gostariam”
Apelo ao torcedor
“Acredito. Estamos a seis pontos do quarto colocado e a seis do que está em terceiro. Estamos a duas vitórias de bater lá em cima, restando ainda 16 jogos no Campeonato Brasileiro. Não é esse ambiente que eu queria enfrentar aqui. O ambiente não é hostil, mas não é o que eu gostaria de enfrentar aqui. Gostaria de transmitir isso para o torcedor, porque juntos nós somos mais fortes. Todo mundo que vinha aqui perdia. Se erra uma bola, o torcedor não vaia. Ele aplaude e joga para cima. No esporte coletivo, quando um está fora, compromete todo o coletivo”
Desafios e confiança
“ Eu aceitei esse projeto do Atlético. Não estou satisfeito e sei que posso melhorar. Nós vamos melhorar. O time vai crescer. Eu não desisti de sonhar e acreditar que isso ainda vai virar porque, com o trabalho, se consegue o resultado que ele busca para obter. Aqui tem trabalho, aqui tem qualidade e pessoas envolvidas. Quando o presidente Sérgio me chamou, através do Alexandre Gallo, e passou esse projeto... Eu acredito, porque eu sou um cara de fé”
Sentimento de artilheiro
“Quando eu perco gol é assim. Não fico feliz. Custo a dormir, para digerir, principalmente quando compromete um resultado coletivo, quando foi contra o Vitória (ele e o time perderam chances clareas). Eu também sinto essa tristeza, mas não deixo ela tomar conta. Não deixo ela me derrubar. Ela serve de estímulo, porque eu venho para cá e trabalho mais”
Andando junto
“Acho que o torcedor precisa demonstrar que ele é Galo, que ele é apaixonado por esse clube, que ele vai abraçar os jogadores que estão aqui e nós precisamos dele. Eu fiquei até pensando no que falar para vocês, mas eu venho com esse discurso. Eu queria sentir o torcedor junto com a gente... Que cada um que errar, saiba que ninguém quis errar. A gente trabalha para acertar. Por isso estou feliz no Atlético. Gostaria de sentir o calor que eu vi de fora. Nunca fui muito bom de fazer marketing. Eu sou bom de demonstrar. Isso eu sou bom. Quando me colocam nas quatro linhas, ali eu sou bom. Erro muito. Com 38 anos eu erro demais, mas trabalho para caramba e sei que vou acertar. A gente sabe que não é fácil. Não é o discurso para jogar para cima. Nós vamos lutar com todas as forças”
Objetivo é G-4
“ Eu afirmo que nós estamos sentindo por não estar dando o resultado que o nosso torcedor gostaria. Nós sabemos que poderíamos estar em uma situação melhor do que estamos. Poderíamos estar lá em cima. Por coisas não se deram (certo), mas nós não vamos deixar de lutar. E nós acreditamos. Hoje o meu discurso não é o mesmo de estar brigando pelo título, como foi a dias atrás. Meu discurso é estar entre os quatro primeiros colocados”
Uma dose de realismo
“Hoje, esse é o meu discurso. Nós sabemos da nossa realidade. Um pouco de realismo é importante. Nós estamos nessa situação, mas é importante que a gente entenda e que o nosso torcedor acredite na gente. Nós temos condições. Não podemos deixar que esse pessimismo tome conta da gente e esse pessimismo tome conta da gente. Nosso torcedor é fundamental nisso e nós não vamos desistir. Eu não acredito que o torcedor atleticano fará isso, mas para que isso aconteça, vamos lutar e não vamos desistir. É a paixão de jogar futebol e vestir a camisa de um grande clube como é o Atlético”
Jejum de gols
“Tem que acabar. Já era para ter acabado isso muito antes. Isso me incomoda demais, mas não a ponto de tirar minha confiança e atrapalhar quem eu sou. Nos últimos três anos e meio são quase 90 gols. Sei quem eu sou, e o torcedor atleticano também sabe. A cobrança que eles fazem, eu também sei, mas tem que ser uma cobrança para vir junto. Já fiquei até mais tempo sem marcar, mas nunca deixei de acreditar e dar o meu melhor. Tem que acabar isso e nada melhor que um jogo como esse (contra o São Paulo)”