O Atlético está próximo de anunciar a venda de Savinho, cria da base atleticana, por 6 milhões de euros (R$ 36,5 milhões) ao Grupo City, segundo informação de Bruno Andrade, colunista do UOL. O meio-campista, de 17 anos, se despedirá do clube tendo jogado apenas 23 jogos oficiais, dado que só ilustra a tendência das equipes do exterior em contratar jogadores cada vez mais jovens. 

Nos últimos anos, o exemplo mais emblemático é o de Vinícius Júnior. Considerado hoje o jogador mais valioso do mundo, segundo o CIES Football Observatory, o atacante revelado pelo Flamengo foi vendido ao Real Madrid em 2017, antes mesmo de completar 18 anos, por R$ 165 milhões. No ano seguinte, Rodrygo, do Santos, seguiu o mesmo caminho e também se transferiu ao clube merengue seis meses depois de atingir a maioridade. 

Segundo o levantamento mais recente do observatório francês CIES Football, o Brasil é o país que mais exporta atletas para o mundo. De acordo com o estudo, são 1,2 mil jogadores atuando em 23 campeonatos. Diante dessa vitrine mundial, os clubes brasileiros, sobretudo nos momentos de dificuldades financeiras, enxergam nos talentos da base uma oportunidade de arrecadação e vendem seus atletas de forma precoce para o exterior. 

Para Júnior Chávare, dirigente de futebol com experiência em captação e formação de jogadores em clubes como São Paulo, Grêmio e Atlético Mineiro, o mundo ideal é que esse atleta, antes de ser vendido para fora, possa ajudar o time dentro de campo e proporcione, além de dinheiro aos cofres da agremiação, um retorno técnico. 

“É preciso tomar cuidado para não queimar etapas. Em alguns casos, os clubes têm pressa para vender o jogador porque precisa usar esse dinheiro para sanar pendências financeiras. Com isso, na maioria das vezes essas vendas ficam aquém do que poderiam se esse menino tivesse mais tempo para se desenvolver. Porém, cada dirigente sabe a realidade do seu clube e onde isso afeta no seu dia a dia”, acrescenta Chávare, que saiu do Atlético em 2021 após a mudança de presidência, conviveu de perto com Savinho e afirma que ele sempre teve um estilo diferenciado de jogo, desde que chegou ao clube. 
 
O presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, segue uma linha de raciocínio parecida em relação ao aproveitamento desses jogadores no profissional. “Quanto mais tempo o atleta passa no time principal, em nível de experiência e minutos jogados, isso tende a valorizá-lo. O timing perfeito é quando existe uma resposta dentro de campo, para, aí sim, posteriormente, poder gerar um retorno financeiro ao clube, que seja vantajoso para ambas as partes”, completa. 

Clubes antecipam revelação de atletas

Outro fenômeno que é possível observar nesses últimos anos é a estratégia dos clubes brasileiros em dar oportunidade cada vez mais cedo aos jogadores da base. Na última edição da Copa São Paulo de Futebol Júnior, por exemplo, os clubes não tiveram medo de antecipar a revelação de alguns talentos. 

Atletas de 15 anos receberam a oportunidade de atuar na competição de base mais importante do país e, para a euforia dos torcedores, corresponderam dentro de campo com dribles, gols e lances de efeito. O atacante Endrick, do Palmeiras, que completará 16 anos em julho deste ano, foi um dos principais nomes do torneio. 

Além da joia palmeirense, que inclusive já desperta interesse de grandes equipes da Europa, outros nomes da geração 2005/06 chamaram atenção, exemplo dos atacantes Pedro, do Corinthians, e Rayan, do Vasco da Gama. 

Para Lúcio Rodrigues, Gerente das Categorias de Base do Juventude, os clubes têm buscado dar rodagem aos talentos das categorias inferiores com o objetivo de valorizar ainda mais os jogadores. “Quando um jovem de 15 ou 16 anos se destaca em uma competição como a Copa São Paulo, que hoje é a maior vitrine do futebol de base do país, ele ganha notoriedade e, com isso, facilita uma futura negociação”, explica. 

Na Copinha, o time jaconero tinha três jogadores no elenco pertencentes a geração 2005, todos com 16 anos, caso dos atacantes Weliton e Ruan, além do zagueiro Bernardo. Na opinião de Rodrigues, o cuidado dos dirigentes e comissão técnica para esses garotos não queimarem etapas é fundamental. “Este atleta precisa estar preparado psicologicamente. Eles não podem ser transformados em protagonistas antes do tempo”, conclui o executivo do Juventude. 

Gustavo Grossi, Gerente das Categorias de Base do Internacional, afirma que a Copinha deve servir como uma oportunidade para os atletas que ainda estão mais distantes do processo de transição para o time profissional. “É um torneio de formação. Para aqueles que já estão perto do time principal, não vejo sentido que eles disputem a competição. Nossos destaques do time campeão do ano passado estiveram em pré-temporada com o profissional e por isso optamos por utilizar os atletas 2004 que serão os próximos a jogar as competições mais importantes de base do ano”, completa.