As nuvens carregadas que pairavam sobre a Cidade do Galo se dissiparam, pelo menos momentaneamente, mandando para longe a tempestade que ameaçava assolar o CT alvinegro. O Atlético vinha de quatro jogos sem vencer. Bastaram, contudo, dois triunfos seguidos sobre o Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro (2 a 0) e pelas oitavas de final da Copa do Brasil (2 a 1), para o bom tempo voltar a predominar pelas bandas de Vespasiano. O pacote foi fechado com o 3 a 2, de virada, diante do Fortaleza, pela Série A.

“Foram resultados muito importantes (contra o Flamengo) para que equipe recuperasse a confiança, a energia positiva e isso precisa ser um ponto de partida para as grandes competições que teremos daqui para frente”, reconhece o técnico Antonio Turco Mohamed. “Tivemos uma grande virada e isso vai nos ajudar no psicológico”, acrescentou, após garantir os três pontos sobre o Fortaleza, aos 51 minutos do segundo tempo.

A reviravolta responsável por amenizar o clima no Atlético se dá em momento oportuno. Nesta terça-feira (28), o Galo encara o Emelec, às 19h15, no estádio George Capwell, em Guyaquil. O confronto no Equador será o primeiro do mata-mata das oitavas de final da Libertadores. O pontapé inicial de mais uma decisão.

Sob o prisma da Psicologia do Esporte, os recentes triunfos habilitam o alvinegro a chegar mais confiante ao duelo contra o time equatoriano.

“Cientificamente, as vitórias em sequência aumentam a autoconfiança, a autoestima, a autoeficácia. Ao mesmo tempo em que os bons resultados fazem crescer essas capacidades psicológicas, há a diminuição dos níveis de estresse e de ansiedade, do medo de errar. O atleta fica mais leve (sentimento de 'flow felling') e confiante em campo para jogar, mais solto. Ele passa a desempenhar um melhor futebol e coloca todo o seu lado criativo para fora em prol da equipe”, explica Varley Costa, professor da UFMG, Doutor em Psicologia do Esporte Aplicada ao Futebol.

Varley sustenta que os bons resultados melhoram o clima interno do clube, bem como as relações entre os atletas, membros da comissão técnica e da diretoria de modo geral. “O ambiente de trabalho no clube é distensionado, e a confiança entre as pessoas aumenta”, analisa.

Fora de campo, o professor aponta que o ambiente também se torna mais ameno, neste caso, em relação às arquibancadas. “A torcida começa a pegar menos no pé de determinados jogadores e normalmente volta a viver lua de mel com o clube. Há um clima de paz, e os torcedores tendem a apoiar mais a equipe e OS atletas que, teoricamente, não estavam performando”, reforça.

“Isso também acontece em relação a alguns setores da imprensa, que, muitas das vezes, criticavam com e sem razão a performance da equipe e de alguns jogadores. Este clima positivo acaba por contagiar a equipe na busca da classificação nas oitavas de final da Libertadores. No futebol, quando todos 'jogam juntos', o caminho se torna um pouco menos árduo”, acrescenta Varley.

O “caso” Ademir

O atacante Ademir estava incomodado. A exemplo do time do Atlético, vinha sendo cobrado e criticado. Os apupos, porém, não se restringiram aos estádio. Por meio das redes sociais, o jogador recebeu mensagens ofensivas e os xingamentos atingiram até mesmo a esposa do camisa 19 do Galo.

Nos dois embates contra o Flamengo, Ademir foi decisivo. Balançou as redes do rubro-negro em ambas as partidas, tirou o fardo das costas e tornou público seu martírio.

“Levei muita pancada nos últimos dias, muitas críticas, muitas palavras que não condizem com quem eu sou. Sou um cara trabalhador, quem me conhece sabe disso. Algumas pessoas mandaram mensagens para minha esposa, humilhando-me, pedindo para eu sair do Atlético. Elas têm de entender que ninguém chega aqui à toa. É um clube grande, que respeito muito e trabalhei para essa oportunidade”, desabafou o jogador, que chegou ao Atlético no início deste ano, após grandes temporadas pelo América.

“Ademir é um bom exemplo para se observar. Nas últimas partidas, fez dois gols importantes contra o Flamengo. Isso acaba gerando maior nível de autoconfiança, de autoestima. Ele se sente importante para o grupo. Ele passa a ter maior nível de motivação interna. Ao mesmo tempo, destravou seus medos e a ansiedade de ainda não ter marcado gol. Nesse tipo de situação, os atletas tendem a crescer ainda mais de produção ao longo da temporada”, explica o professor.

Varley ressalta que Ademir é um atleta já conhecido e Minas Gerais e tem todas as condições para recuperar a melhor forma. “É um jogador de comportamento muito profissional dentre e fora de campo. Agora, está conseguindo, com seu trabalho, com a confiança do treinador e dos seus companheiros reverter este contexto. Se a torcida o abraçar, esse processo fica ainda mais facilitado”, aponta o doutor em Psicologia do Esporte no Futebol.

“Reforço”

Bom para o técnico Turco Mohamed, que ganha um “novo” jogador para o confronto diante do Emelec. Especialmente se o titular Hulk não tiver condição de entrar em campo no Equador, por causa de edema no pé direito. Na vitória sobre o Fortaleza nesse sábado (25), o craque do Galo não atuou e segue em tratamento.