Era para a noite dessa sexta-feira (18/10) ser mais uma de diversão para a torcedora do Cruzeiro Kíria Ribeiro, no entanto, o que ela passou no Mineirão a faz não querer mais comparecer aos jogos. A jornalista de 30 anos denuncia que sofreu injúria racial no estádio por uma mulher durante discussão por causa de uma cadeira.

"Fui ao Mineirão com minha prima, algo que gosto de fazer muito. Em determinado momento, um rapaz, que estava ao meu lado irritado com o jogo, começou a bater na cadeira e arrancou uma lasca dela. Falei para ele não fazer isso, pois era um patrimônio e ele poderia prejudicar o próprio clube. É um ato de vandalismo", disse ao O TEMPO Sports.

A conversa, então, tomou outro rumo quando a irmã do vândalo interferiu. "Em seguida, a irmã dele apareceu e disse: 'Quem você pensa que é para falar assim com meu irmão? Você sabe o setor em que você está? Você sabe que ele é mais caro, né. Esse setor aqui é para gente como eu'", teria falado a suspeita sobre o Vermelho Inferior.

"Perguntei porque eu não poderia estar ali, se era por causa da minha cor, e ela confirmou", completou a vítima, que ficou sem reação. "Eu não quero mais saber de jogo, de futebol. Pois sei que toda vez que eu voltar ao Mineirão lembrarei desse triste dia", explicou.

"Na hora, fiquei com muita raiva. Depois, me bateu um sentimento de tristeza. E, agora, pensando bastante no ocorrido, quero deixar uma reflexão importante sobre o que aconteceu comigo e o que acontece com diversas pessoas todos os dias: não foi apenas um ataque pessoal o que essa moça fez. O que essa pessoa fez foi uma manifestação evidente de racismo que, infelizmente, ainda permeia a nossa sociedade", escreveu.

Autodeclarada preta, Kíria Ribeiro afirmou que ainda não fez boletim de ocorrência, mas pretende acionar Mineirão, Cruzeiro e demais órgãos competentes para identificar e punir a infratora. "Estarei onde eu quiser estar! Nunca, jamais me curvarei ao racismo e à intolerância, seja ela qual for. Não cederemos um milímetro ao ódio. Como dizia Mandela, o racismo precisa ser conscientemente combatido, e não discretamente tolerado", concluiu.

Jogo

O caso aconteceu durante a partida contra o Bahia, válida pela 30ª rodada da Série A do Campeonato Brasileiro. A Raposa abriu o placar, resultado que a faria ultrapassar o próprio Esquadrão de Aço e retornar ao grupo dos seis primeiros colocados, mas sofreu o empate no fim, o que gerou frustração aos mais de 34 mil torcedores que compareceram ao Gigante da Pampulha.

Posicionamento

Em nota, a Minas Arena, concessionária que administra o Mineirão, informou que realiza atos de conscientização e, em caso de fatos como esse, trabalha para acolher a vítima e identificar os autores (veja abaixo). O Cruzeiro ainda não se pronunciou sobre o assunto.

"O Mineirão lamenta e repudia qualquer ato de injúria racial que por ventura ocorra dentro do estádio. Quando um fato é de seu conhecimento, o Mineirão busca trabalhar no atendimento, acolhimento, encaminhamento e acompanhamento de vítimas. O estádio tem 365 câmeras de vigilância e está sempre à disposição das autoridades policiais para auxiliar nas investigações.

Com o apoio dos clubes e de órgãos públicos, o Mineirão faz constantemente campanhas educativas com o torcedor, tanto em dias de jogos quanto em suas redes sociais. O estádio tem um canal de denúncias por Whatsapp, com QR Codes espalhados por pelo estádio, para casos de injúria racial, importunação sexual ou qualquer tipo de discriminação. A intenção é agilizar o atendimento e colaborar com apuração dos fatos junto aos órgãos de segurança. É importante que as denúncias aconteçam para que os responsáveis sejam punidos."