Do alto das arquibancadas do Mineirão, o menino Rael dos Santos, de 2 anos, começou a escrever o seu capítulo na história de um gigante de 59 anos. O garoto foi flagrado sendo lançado para cima pelo seu pai após a vitória do Cruzeiro sobre o Atlético Goianiense no último domingo (1º de setembro). O registro despretensioso ocorreu no primeiro encontro do garoto com o seu time do coração e com o estádio, que é símbolo do futebol mineiro e, mesmo após cinco décadas, ainda continua como palco de fortes emoções.

"Ele (Rael) estava muito feliz, comemorando bastante. Como o jogo já estava acabando, decidi festejar e joguei ele para o alto. Felizmente, rendeu essa imagem que é marcante", disse o pai do menino, o autônomo Rafael Gomes do Santos, de 33. A fotografia, feita no setor laranja superior, localizado atrás de um dos gols do Mineirão, mostra o menino parado no ar entre os braços do seu pai, que estão estendidos. 

A imagem do menino Rael dos Santos, de 2 anos, sendo lançado para o alto pelo seu pai viralizou após o jogo do Cruzeiro - Foto: Marote

A imagem foi registrada nos minutos finais da partida, após algumas tentativas do fotógrafo Mário Fabiano Moreira, conhecido como Marote, de 45. Ele estava com a esposa, a filha e dois sobrinhos, que saíram do interior do Estado para celebrar o aniversário no Gigante da Pampulha. "De onde estava, percebi a relação entre pai e filho. O menino, primeiro, estava nas costas do pai. Tentei fazer algumas fotos, mas não ficaram boas. Quando já estava desistindo, ele começou a jogar o garoto para o alto e aquele foi o momento certo", contou.

Marote não conhecia Rafael e Rael quando registrou a imagem. O primeiro contato entre eles ocorreu pelas redes sociais depois que a fotografia viralizou. A foto foi publicada pelo Cruzeiro e compartilhada por vários torcedores celestes. "Quando vi a imagem, achei linda. Jamais podia imaginar que aquele garoto era o meu filho. Quando descobri que era o Rael, só lembrei do meu marido dizendo que iria levá-lo ao jogo e tudo seria tranquilo. Muito tranquilo, certo?", brincou a mãe do menino, a auxiliar administrativa Tawany Antunes da Silva, de 26.

Assim como o marido e o filho, Tawany também vivenciou momentos marcantes no Mineirão. Torcedora do Atlético, ela esteve presente em jogos das campanhas dos títulos da Libertadores, das Copas do Brasil e do último Campeonato Brasileiro. Apesar da rivalidade com o companheiro, Tawany nunca impediu que o filho pudesse acompanhar a "paixão do pai" pelo Cruzeiro. 

"O Rafael sempre vai aos jogos e o Rael sempre pedia para ir junto. E dessa vez, felizmente, tivemos a oportunidade dele ir. Como gostamos muito de futebol, esse momento foi muito importante para a gente. Ver o Rael feliz, dizendo que é Cruzeiro cabuloso, supera qualquer rivalidade", afirma a mãe.

Emoção também compartilhada pelo autônomo Rafael, pai do menino. Segundo ele, poder levar o seu filho ao Mineirão, um lugar onde frequenta desde a sua juventude, foi um "dos momentos mais marcantes" já vivenciados. "O amor que a gente tem pelo Cruzeiro é algo que vem do berço. A música que a torcida canta diz isso, e o Rael é mais um. Nasceu cruzeirense e, agora, está se formando cada dia mais", finalizou.

A família do menino Rael dos Santos encontrou com os familiares do fotógrafo Mário Fabiano Moreira após a imagem viralizar na web - Foto: Flávio Tavares / O Tempo

Cuidados

Apesar do registro que emocionou torcedores e viralizou na internet, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) destaca que esse tipo de comportamento com crianças pode oferecer riscos de lesões e sequelas que podem durar por toda a vida. "Até os três anos, as crianças ainda não têm todos os mecanismos de proteção para segurar a cabeça quando ela é sacudida. A musculatura é mais frágil, assim como a estrutura óssea. Então ela pode ter uma lesão cerebral, algum problema na coluna e, em casos mais graves, até mesmo a morte", alerta o sargento Allan Azevedo.

A medicina reconhece esses problemas como síndrome do bebê sacudido (SBS), também chamada de trauma não acidental. Ela consiste em um diagnóstico de ossos longos quebrados, como braços ou pernas, fraturas do crânio, sangramento cerebral e hemorragias retinianas. "Importante que os pais tenham consciência de que até essa idade (três anos) as crianças continuam em desenvolvimento, até mesmo com a cabeça maior em relação ao corpo. Então esse movimento pode ocasionar algum tipo de inchaço no cérebro, possibilitando algum tipo de atraso mental, deficiência visual e retardo no desenvolvimento motor", finaliza o sargento.