Regularizada no Brasil no segundo semestre do ano passado, a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) ocupa boa parte dos interesses dos principais clubes do país. No entanto, o assunto ainda apresenta dúvidas e incertezas para muitos agentes envolvidos com o futebol. 

Por conta de um caráter de urgência, o Cruzeiro foi um dos pioneiros na transformação em empresa. Desde quando foi eleito, em outubro de 2020, o presidente do Cruzeiro Sérgio Santos Rodrigues já apresentava a proposta da SAF como uma possível salvação para a grave crise financeira do clube.

Foram meses de expectativa da aprovação da SAF no Congresso e depois rodadas de negociação com os conselheiros do clube para alteração no estatuto. No dia seguinte aos trâmites concluídos, em 18 de dezembro de 2021, de forma surpreendente, a Raposa anunciou venda de 90% das ações ao Ronaldo Fenômeno. 

Leia mais: Com Ronaldo no Indepa: relembre desempenho do Cruzeiro aos 'olhos do patrão'

O advogado Luiz Henrique Martins Ribeiro, que participou junto ao Congresso Nacional de audiências públicas e comissões na construção da legislação sobre clubes empresa no Brasil, entende que o pioneirismo do Cruzeiro encorajou outras instituições no país.  

"Vou ser muito honesto. Quando a legislação entrou em vigor, pós derrubada dos vetos presidenciais, que daí a norma se tornou muito mais atrativa para os clubes, nós que estamos operando, não acreditávamos que a lei fosse pegar tão rápido. Porque as normais e leis são feitas, mas tem que esperar para ver se de fato elas vão entrar em pronta execução. E esse movimento do Cruzeiro foi muito importante para o mercado brasileiro de modo geral", analisa Luiz Henrique.

 

As SAF's de Atlético e América

Atlético e América já demonstraram o interesse na transformação para Sociedade Anônima, porém, pregam cautela. O Coelho se encontra mais adiantado neste processo, com a criação do CNPJ, mas ainda não acertou com nenhum investidor. Os dirigentes desejam um modelo de SAF que pouco interfira na autonomia da associação, o que seria uma proposta mais difícil de se apresentar no mercado. 

Para Luiz Henrique, este é um dos momentos mais delicados antes da venda de ações para investidores. "Cada clube tem a sua forma de pensar, o seu conselho, as regras culturais e a sua forma de gerir o próprio clube. Então, às vezes, uma interferência muito forte de um investidor, sem ouvir o clube, sem entender os interesses do clube e da sua torcida ou de patrocinadores históricos, investidores antigos que só apoiavam sem interesse econômico, tudo isso pode interferir de forma negativa", ponderou. 

Leia mais: Galo se mobiliza para votação para a venda de shopping, que poderá ser dia 30

Quanto à cautela apontada pelo advogado, ele relembra o caso do goleiro Fábio, que não houve um acerto com a SAF do Cruzeiro e a nova gestão teve dificuldade para administrar a situação.   

"Dando como exemplo o que aconteceu com o Cruzeiro, no episódio do goleiro Fábio. A SAF tomou uma decisão técnica e pragmática. Uma decisão de gestão. Mas ela teve um reflexo ao torcedor, à cultura local, por ser um atleta muito querido com uma história muito grande no clube. Então conseguir chegar nessa posição mediana, conciliadora e mais equilibrada, não será fácil para os investidores nem para os gestores do clube", finalizou.