Todo torcedor é movido pela sua paixão por futebol. Se o time ganha, a semana é incrível, mas, se perde, não existe ninguém feliz, a não ser os rivais. Em dia de clássico as coisas mudam. Mesmo aquela pessoa que não acompanha futebol, quando a partida é contra o maior adversário da cidade, a energia é diferente, o sentimento é outro. A equipe de O Tempo Sports conversou com cruzeirenses para relembrar os clássicos mais marcantes. 

Nesta segunda-feira (13), a Arena Independência recebe o embate entre Cruzeiro e Atlético, às 20h, pela 5ª rodada do Campeonato Mineiro. Os torcedores dos dois lados estão vivendo apenas por este confronto. São mais de 100 anos de história do clássico que leva multidões aos estádios. 

Essa rivalidade movimenta principalmente Belo Horizonte, que irá receber mais um capítulo desta história. Após quatro anos, Cruzeiro e Atlético voltam a jogar no Horto, local que recebeu o embate em 2019 por três ocasiões. Pelo Mineiro, o jogo terminou empatado por 1 a 1, com o título para o Cruzeiro. Na Copa do Brasil, a equipe alvinegra venceu por 2 a 0, mas a classificação ficou na conta da Raposa, e pelo Brasileirão o Atlético também venceu por 2 a 0.

Para ajudar a contar capítulos já escritos desta história, conversamos com dois torcedores cruzeirenses. Leticia Utsch, de 22 anos, que pegou a fase celeste dos anos 2000, e Jeová Pereira, de 80 anos, que acompanhou desde o início os títulos do Cruzeiro de grande relevância. 

 

Reviravolta no consultório

Em 1967, o Campeonato Mineiro era disputado com o sistema de pontos corridos. Era bem parecido com o Campeonato Brasileiro atual, com turno e returno, e o último colocado era rebaixado. Em um domingo, no dia 26 de novembro daquele ano, o Atlético estava cinco pontos à frente do Cruzeiro, e caso conquistasse a vitória no clássico, seria o grande campeão estadual naquela temporada. Porém, o percurso foi diferente.

Natural de Resplendor, Jeová Pereira chegou em Belo Horizonte na década de 60. Com mais de 58 anos na capital belorizontina, o torcedor pôde acompanhar inúmeros clássicos na cidade. “Essa rivalidade mexe muito com a torcida, envolve as pessoas, mexe com BH, mesmo. O clima sempre fica diferente. É incrivel”, disse em entrevista à equipe de O Tempo Sports. 

Jeová naquele dia estava trabalhando na área médica do Mineirão como enfermeiro. Por ali, o cruzeirense recebia torcedores que estavam passando mal durante o clássico, que até o primeiro tempo, o Atlético vencia por 3 a 0, e consequentemente ganhando o título Mineiro. Segundo o torcedor, o dia no ambulatório foi muito agitado. 

Enquanto o rival vencia, o consultório médico estava lotado de cruzeirenses desmaiados. Porém, no segundo tempo a história tomou outro rumo. O time celeste começou a reagir, e os torcedores foram levantando aos poucos, enquanto ia chegando os atleticanos desmaiados. Em menos de 15 minutos, o Cruzeiro emplacou três gols. Natal marcou dois e Piazza fechou o último do empate.

De acordo com Jeová, um torcedor que marcou bastante para ele havia chegado ainda antes do primeiro gol marcado pelo ‘Diabo Loiro’. “Um homem chegou desmaiado, ai demos café e jogamos água no rosto dele. Todo momento ele perguntava o placar, mesmo sonolento. Quando o Cruzeiro fez o segundo, a reação do torcedor foi gritar um ‘O QUE?’, e começar a levantar a cabeça. Com o terceiro, levantou correndo e foi para a arquibancada para assistir o jogo”, disse o enfermeiro celeste.

Jeová Pereira e sua esposa Elizabeth Caetano em um jogo no Mineirão

Jeová Pereira e sua esposa Elizabeth Caetano em um jogo no Mineirão - Reprodução/ @jeova0035

 

Sem confiança, mas virou goleada

Em 2019, Cruzeiro e Atlético se encontraram nas quartas de finais da Copa do Brasil. No jogo de ida, a equipe celeste venceu no Mineirão por 3 a 0, resultado que auxiliou para que a Raposa se classificasse para as semifinais. Leticia Utsch se recorda desse jogo como um dos mais importantes da história recente do Cabuloso. 

“O Cruzeiro tinha começado o ano bem, estávamos na Libertadores e atuais campeões da Copa do Brasil. Até que fomos sorteados para enfrentar o Atlético nas quartas de finais. Eu sentia aquela ‘sede de vingança’ em ganhar deles por conta de 2014 (Atlético campeão da competição em cima do Cruzeiro). Fui ao jogo com toda aquela tensão”, relatou Leticia.

Durante a partida, Letícia ficou menos agoniada. Logo aos 13 minutos, Pedro Rocha abriu o marcador, e em seguida, na marca dos 27’, foi a vez do Thiago Neves. A equipe celeste encerrou a goleada por 3 a 0 na etapa complementar, com Robinho marcando aos 10 minutos.  

“A torcida do Atlético ficou em silêncio. Eu já estava sem voz, gritando tanto que tive que diminuir para não desmaiar. E para consagrar, no segundo tempo, o terceiro gol com o Robinho. Fui à loucura, o Atlético não era um time ruim, muitos apostavam na vitória alvinegra, inclusive”, completou Letícia.

A confiança da torcida estava com a possibilidade de levar um bom resultado para o jogo de volta, que aconteceu uma semana depois na Arena Independência. Para Letícia, não seria diferente. “Eu estava confiante na vitória, mas nem nos meus melhores sonhos imaginava que seria esse o placar. Se formos pegar, é óbvio que tivemos muitos outros clássicos importantes. Porém, tenho 22 anos, não consegui assistir muitos jogos contra o Atlético ‘in loco’. Sempre gostei de futebol, sempre amei, mas quando eu era novinha meus pais não deixavam eu ir em clássicos. Então, só comecei a ir ao estádio nestes jogos mais velha”, disse a torcedora celeste.

Com 22 anos, a torcedora cruzeirense enxerga que nos últimos tempos, o clássico mineiro tem ficado mais ‘pegado’. “O clássico mexe muito com BH, com certeza uma das maiores rivalidades que temos no Brasil.  Eu acho que ultimamente está mais fervoroso e agressivo do que quando eu era mais nova. Na minha vivência e pelo o que acompanho futebol é muito mais rivalidade do que o povo valoriza de fora”, finaliza Letícia.

Leticia Utsch coloca como o clássico de 2019 como um dos mais importantes da história recente do Cruzeiro

Leticia Utsch coloca como o clássico de 2019 como um dos mais importantes da história recente do Cruzeiro -  Reprodução/ @leticiautsch