Com mais de 20 anos de experiência como treinador, tendo trabalhado em mais de duas dezenas de clubes e conquistado “tudo”, o técnico Cuca finalizou no início deste ano o curso para obter a licença Pro da CBF, a mais alta graduação na formação de treinadores.
O curitibano terminou o ano passado em destaque, ao ter comandado o Atlético nas conquistas do Mineiro, Brasileiro e Copa do Brasil. Alegando questões particulares, pediu para deixar a Cidade do Galo. Sem clube, parte do tempo livre ele usou para se qualificar.
“Os dias que ficamos reunidos na Granja (Comary) foram muito bons para podermos discutir e abordar todos os assuntos e aspectos. Oportunidade de entender o próximo, e ele te entender. Isso nos faz melhorar como ser humano, não só como treinador. Porque cada técnico tem sua ideia, sua maneira de agir. Mas, ali, aprendem-se diversas coisas sobre futebol”, avalia Cuca.
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Embora tenha a experiência dos gramados, tendo sido atleta de times grandes e de sucesso, como Grêmio e Internacional, Cuca ressalta a importância de se capacitar.
“O pessoal fala que, para ser treinador, tem de ter sido jogador. Ajuda, mas não é o fundamental. O estudo é importante porque você aprende a dar treino, mas há outras questões que são tão importantes quanto. O dia do jogo, a preparação. É muito legal trocar esse tipo de informação, essas ideias e conhecer o perfil dos outros treinadores”, argumenta o técnico.
Foco no crescimento profissional
O ex-atacante Roger, de 37 anos, é o treinador mais jovem do Campeonato Mineiro. Em início de carreira, fez grande trabalho à frente do Athletic, sendo eliminado na semifinal pelo Cruzeiro, após duas derrotas (2 a 0 e 2 a 1).
Roger tem a licença B e vai iniciar o curso para a obtenção da A nesta semana. Adianta, porém, que não vai parar por aí. “Tenho a ideia de fazer o curso na AFA (Argentina). É muito longo, precisa de uma aceitação de lá também, mas meu objetivo é me profissionalizar o máximo possível. Crescer, entender, ouvir, aprender. Compreender o que está sendo feito no Brasil, na Argentina, na Europa, o trabalho, as ideias”, explica.
O treinador do Athletic também destaca a importância da especialização. “Penso que quem realmente quer ser treinador precisa passar pelo curso, até para ter a dimensão das ideias, da troca. Há várias possibilidades, e você vai abrindo a mente para o novo”, justifica Roger.
O catarinense Hemerson Maria, de 49 anos, já comandou mais de dez clubes profissionais. No mês passado, assumiu a direção técnica do Tombense. Possui a licença Pro e destaca os benefícios da formação.
Para o curso se tornar mais acessível à maioria dos interessados, já que os preços são altos, Hemerson Maria acredita que poderia haver incentivo dos clubes e das federações.
“Deveriam desenvolver projetos para dar bolsas, por exemplo, com base não só no interesse, mas no merecimento. As pessoas procurariam desenvolver em seus Estados, nos seus clubes e receber o incentivo. Os valores não são acessíveis a todos, e isso acaba limitando vários profissionais que desejariam fazer o curso”.
Além disso, cita a importância de conhecer colegas de todo o país e divisões. “Você cria uma rede de relacionamentos, algo muito importante na profissão”, destaca.
“Principalmente para os treinadores mais jovens, que terão maior nível de aprendizagem do que a minha geração e as que me antecederam. Na nossa época, não tínhamos cursos, a questão da literatura. O treinador brasileiro escreve pouco, publica pouco material. Não há a troca de ideias como ocorre em outros países”, pondera.
"Invasão" estrangeira
Depois da passagem avassaladora do português Jorge Jesus pelo Flamengo, entre 2019 e 2020, os dirigentes passaram a apostar em nomes de fora. Até então, entre os 20 times da Série A, nove terão estrangeiros no banco de reservas neste ano. Em BH, Atlético e Cruzeiro estão sendo comandados, respectivamente, pelo argentino “Turco” Mohamed e pelo uruguaio Paulo Pezzolano.