A cada vez que chega perto de uma das montanhas mais altas do mundo para encarar ultramaratonas, a mineira Fernanda Maciel, com seus 1,60m, se agiganta para fazer valer sua condição de grande nome da modalidade. A partir desta sexta-feira, ela começa a disputa do Ultra Trail du Mont Blanc, que desafiará os 10.000 competidores de 100 países em 171km pelo interior da França, Itália e Suíça.
Serão 20.000m de desnível, testando os atletas a todo momento em uma das principais provas da temporada. Ao lado de europeus e asiáticos especialistas, se encontrará uma concorrente do seu patamar, a única representante da América Latina.
“Eu não posso olhar para cima. É assustador”, garante Fernanda, admitindo um lado que nem todos percebem quando olham sua lista de feitos. Em corridas de longa distância, Fernanda é referência internacional, tendo batido recordes em lugares como Aconcágua e Kilimanjaro. Na Marathon de Sables, entre 250km no deserto do Saara, ela soma dois pódios. A cada corrida, um novo desafio que tem sua bagagem e experiência como grande suporte para ser desbravado.
“Essa é uma corrida muito técnica, muito difícil, e que cada segundo conta. Não existe parar. Eu conto os mililitros de água que bebo. Eu paro uma única vez em toda a corrida para ir ao banheiro. Como o nível dos competidores é muito alto, um minuto influencia muito. Mesmo com toda a estrutura que se tem para comer e dormir, nós da elite não podemos nos dar ao luxo de descansar. A pressão é enorme e precisamos ter 100% de foco em nosso objetivo”, aponta a atleta, que terá dias duros pela frente.
Até o dia 2 de setembro, Fernanda vai ser testada até seu limite para mostrar porque é uma das maiores do mundo dentro de ultramaratonas. A previsão é que consiga completar a prova em 26h e 27h, bem na frente de atletas 'amadores', que chegam ao destino final após 40h.
Provações
Chuva, frio, cansaço serão alguns dos perrengues, que precisarão ser bem trabalhados por Fernanda Maciel, que saiu dos pés da Serra do Curral, em Belo Horizonte, para montanhas muito mais altas e desafiadoras do mundo. “Eu venho acompanhando a previsão do tempo e, para esse ano, acho que será melhor. A prova começará às 18h, na sexta-feira. O pior trecho é esse, pela noite. Como é o começo, ainda temos muito gás. O topo das montanhas é o que mais preocupa, porque por lá pode estar nevando em alguns trechos”, indica.
Para se aclimatar ao ambiente que enfrentará, Fernanda chegou na região da prova com dois meses de antecedência. "Os treinos, no geral, são muito mais cansativos que a prova", brinca. "Eu passo muitas horas treinando na montanha. Para que meu corpo esteja preparado para a competição, treino além do que ela me exige. Nesse período que antecede a prova, eu começo a dar um descanso para o corpo", explica.