Em dia marcado pelo brilhantismo da estreia de brasileiros na Libertadores, a Sul-Americana reserva um duelo inédito nesta quinta-feira (3): Mushuc Runa x Palestino. Por menos midiático que seja, o confronto reafirma o traço representativo da Copa de apresentar histórias "reais" do futebol da América do Sul.
Criada em 2002, a Sul-Americana é o segundo competição mais importante do continente. Conhecida pelo equilíbrio, somente o Boca Juniors alcançou o bicampeonato consecutivo e só mais quatro clubes têm duas taças — Athletico-PR, Independiente, LDU e Independiente Del Valle. Fora as honrarias, o torneio caracteriza-se pela democratização à disputa continental, uma vez que clubes de menor investimento e sem chances de competir na Libertadores, conseguem participar da Sula.
Mushuc Runa: ancestralidade indígena e senso de comunidade 🏦
É o caso do Mushuc Runa, sexto colocado do Campeonato Equatoriano na temporada passada. Fundado em 2002 na cidade de Ambato, o clube começou a partir de uma instituição comunitária de serviços financeiros originada em 1977, formada pelo povo nativo Chibuleo, localizado no centro do país. O estádio, inclusive, leva o nome "Cooperativa de Ahorro y Crédito" (em tradução livre, "Cooperativa de poupança e crédito").
Em 12 anos de existência, a equipe chegou à primeira divisão e, apesar da queda em 2016, retornou à elite duas temporadas depois para não sair mais. Apesar da rápida ascensão local, o Mushuc Runa segue fortemente relacionado à comunidade que representa. Autointitulado como orgulho o futebol indígena equatoriano, o clube tem o poncho, vestuário típico do grupo Chibuleo, como principal símbolo, sendo possível observar no escudo da entidade. Ademais, o hino tornou-se viral nas redes sociais pela originalidade; escute abaixo ⬇️
Eliminado na primeira fase em 2019 e do jogo preliminar em 2022, o Mushuc Runa jogará a fase de grupos da Sul-Americana pela primeira vez. Ao lado do Cruzeiro no grupo E, o primeiro "financiamento" da edição será gasto contra o Palestino, quarto colocado do Campeonato Chileno no ano passado.
Palestino: o time que fala por um país 🟢🔴⚫⚪
No início do século XX, quando imigrantes árabes como libaneses e sírios começaram a migrar para países da América do Sul, como Brasil e Argentina, os palestinos tomaram um caminho diferente: o Chile. Devidamente instalados no país, eles fundaram o Palestino em 1920, a fim de manter viva a memória do próprio povo, em fenômeno similar as criações dos rivais Unión Española e Audax Italiano, também formados por colonias de estrangeiros.
Apesar dos 13 mil quilômetros de distância entre os dois Estados, o clube é o braço futebolístico que representa a força da comunidade palestina, visto que o Chile é o local com o maior número de palestinos fora do território no Oriente Médio. Em campo, a tradicional equipe é bicampeã nacional e velha conhecida dos brasileiros em competições continentais, a caminho de iniciar sua sétima participação na Sula.
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O valor da Sul-Americana 🏆
Além dos gramados, o futebol troca passes com cultura, política e até religião. A disputa pela Grande Conquista dá oportunidade para muitos clubes levantarem um troféu inédito, ou mesmo participarem dignamente de um torneio imprevisível. Contudo, em tempos de um esporte cada vez mais distante de suas origens, a Copa pode abrir os caminhos de uma comunidade aos olhos do mundo, enaltecendo os valores dos povos originários ou até mesmo do amor de um povo por um time que joga do outro lado do mundo.
Que duelos entre Mushuc Runa e Palestino possam continuar dando sentido a jogos de Sul-Americana. As equipes se enfrentam nesta quinta-feira (3), às 23h (de Brasília), com transmissão da ESPN 4, pela rodada inaugural da competição.