De tantos personagens possíveis no Mineirão, a imagem do advogado Silvio Teixeira, de 40 anos, rodou o mundo como o “rosto do 7 a 1”. Um fotógrafo canadense flagrou o momento em que, debruçado sobre o guarda-corpo da arquibancada do Gigante da Pampulha, o homem chora copiosamente.
Silvio era um dos 58.141 torcedores presentes no Mineirão no dia 10 de julho de 2014, quando a seleção brasileira, única pentacampeã mundial, entrou para a história de uma maneira inesperada. Há dez anos, a Amarelinha sofria sete gols e fazia apenas um contra a Alemanha, na segunda Copa do Mundo em casa.
“Havia uma criança do meu lado chorando, desesperada. O menino falou ao pai que não gostava mais de futebol, do Brasil e que não queria mais torcer para o Galo. Quando escutei isso, eu não sei exatamente o que aconteceu. A chave virou. Naquele momento, percebi o tamanho daquela tragédia. Como eu ainda estava impactado pela notícia de que eu iria ser pai, só conseguia pensar se aquela situação, aquele jogo e aquele resultado poderia no futuro mudar a relação que eu imaginei construir com meu filho ou minha filha, de ir ao estádio, de torcer para o Galo, de ter essas experiências. E aí eu fiquei muito mal, a tristeza tomou conta de mim”, contou Teixeira.
Ingresso de graça
No ócio de um dia comum no trabalho, Silvio clicou em um anúncio virtual de uma patrocinadora da Confederação Brasileira de Futebol. A empresa prometia presentear um internauta com um par de ingressos para a semifinal da Copa do Mundo de 2014, caso o número da sorte obtido após o cadastro na promoção fosse o sorteado.
Silvio sabia que concorria em uma espécie de loteria federal. De qualquer maneira, cadastro devidamente feito. Dias depois, uma ligação da patrocinadora tratou de informar a Silvio que o improvável acontecera. Ele, a esposa Luciana e Manoela, ainda na barriga mãe, estariam na arquibancada do Mineirão para uma semifinal de Copa do Mundo. O destino, pelo menos antes do apito inicial, pode-se dizer, presenteara a família com um Brasil e Alemanha.
“Eu estava bem empolgado, até demais. Como não gastei nada com ingresso, pensei: ‘Vou tomar uma cervejinha’. Tinha um tanto de copos colecionáveis. Então, a minha missão era levar o máximo deles para minha casa. Por isso, bebi um pouquinho além da conta. Fiz amizade com muitos estrangeiros. Estávamos perto de um grupo de australianos e arranhava um inglês para falar com eles. Foi um dia memorável”, lembrou.
Depois do pré-jogo, cinco gols em apenas 28 minutos de bola rolando, em uma semifinal de Copa do Mundo. Tal como identificar os autores dos tentos, era difícil para Silvio ter certeza do que sentia a cada bola na rede.
“Quando o jogo começa e as coisas começam a desandar, o primeiro momento é de muita surpresa. A forma como os times se comportaram e a velocidade com a qual os gols saíam gerou um susto. Depois, as pessoas ao redor passaram de surpresas a revoltadas. Depois do terceiro, quarto, quinto gol, estava todo mundo muito bravo com o que acontecia”, relembra.
O pós
Passados dez anos da goleada alemã, o “rosto do 7 a 1” considera que o resultado não representa um trauma pessoal.
“Como qualquer atleticano, fui talhado a muito sofrimento, e a gente não se abala por qualquer coisa. Mas, confesso que minha relação com a seleção mudou um pouco, não só pelo 7 a 1, mas por um processo que tem acontecido há um bom tempo. A seleção tem se distanciado dos torcedores, é cada vez mais um time europeu, sem jogadores identificados. O 7 a 1 virou a chave para entendermos que já não existe mais superioridade do Brasil” disse.
E completou: “Se tem uma lição que o 7 a 1 nos deixou, foi essa mudança do cenário do futebol mundial, a ideia de que tínhamos de que a Seleção era soberana, em razão dos talentos dos brasileiros, das habilidades individuais. É muito importante que a gente perceba isso para nos reinventarmos, para estabelecer uma conexão dos jogadores com os brasileiros e voltarmos a sermos protagonistas no futebol”, finalizou.