Telê Santana é idolo de São Paulo e Fluminense, que se enfrentam neste domingo (27), às 16h, pelo Brasileirão. O confronto entre o clube que o revelou e o que encerrou sua carreira no futebol, ocorre um dia depois do que seria o aniversário de 94 anos do "Fio de Esperança", que marcou os Tricolores dentro e fora de campo.
Por conta disso, o Lance! conversou com Renê Santana, filho de Telê, sobre sua relação com os clubes e o legado de seu pai no futebol brasileiro. Com o coração dividido, declarou para quem vai sua torcida na partida da 17ª rodada.
— Eu me comporto como aprendi com meu pai. E ele, se estivesse aqui agora, com certeza te responderia assim também: já que são meus dois queridos times, eu vou torcer para aquele que for melhor, jogar um futebol limpo, um futebol bonito e abrangente.
➡️ São Paulo x Fluminense: onde assistir, horário e prováveis escalações
Fluminense:
Despontou nas Laranjeiras no começo da década de 1950 e rapidamente subiu do juvenil para o profissional, sendo peça importante para o título Carioca de 1951. Por seu dinamismo e inteligência em campo, logo assumiu a titularidade do ataque tricolor e consolidou sua idolatria no Fluminense ao longo de 11 anos, classificados por Renê como uma "grande escola".
➡️ Telê Santana no Fluminense; estatísticas e jogos marcantes
➡️ Filhos de Castilho e Telê relembram Copa Rio de 1952 e destacam craques do Fluminense
Enquanto amadurecia e se desenvolvia em campo, aprendia também sobre as ideias do futebol. Espelhando-se em outros grandes nomes que o cercavam, tornou-se um líder com valores que carregaria em toda sua carreira.
— Ele não admitia a forma como tratavam a classe de jogadores, da qual ele fez também exemplarmente. Ele procurou ser um líder e foi, dando exemplos e lutando pelo clube. Ele era um jogador que mirava também nos bons exemplos, como Didi e Castilho, que era o goleiro e que recebeu uma estátua no Fluminense pela pressão do Telê Santana. Todos reconheciam a história dele, era merecedor de uma estátua. Ele era o primeiro jogador a chegar e o último a sair. Sujo de lama, suado, porque ele trabalhava, treinava muito todos os dias e foi um grande goleiro, jogou em duas Copas do Mundo. Então, ele foi um jogador digno, de orgulho, de todo jogador que hoje joga futebol pode ver a sua história e dar um passo adiante no futebol brasileiro a partir disso, porque foi uma pessoa que lutou pela sua classe, lutou pelo respeito que todos devem ter pelo jogador de futebol — contou Renê, orgulhoso.
A admiração por Didi, inclusive, moldou suas características de jogo, expandindo a área que ocupava no campo. Passou a se deslocar e correr mais, sendo descrito por Mário Filho como "ponteiro dos segundos", enquanto os demais jogadores eram o dos minutos.
— O papai olhava pra ele e falava: 'olha, eu nunca vou ser o artista da bola que esse cara é, mas eu vou ser tão importante ou mais importante do que ele pro time — recordou.
Depois de se aposentar, voltou ao Fluminense como treinador do time juventil em 1967, sendo novamente promovido para o profissional em pouco tempo. Em 1969, sua primeira temporada, protagonizou um episódio que reforça a luta pelo respeito aos jogadores, que em sua opinião eram marginalizados.
— Eu cresci acompanhando o Fluminense, a gente se orgulhava de ver, no fim da tarde, a reunião dos jogadores no hall de entrada do clube, que é uma construção muito nobre, uma arte arquitetônica. E iam também os principais jogadores de outros clubes que visitavam os do Fluminense e ali se fazia um encontro que todo mundo gostava de ver. Os jogadores que eram as principais estrelas do time e uma ordem de um dirigente colocou a margem, querendo que os jogadores entrassem e saíssem pelos fundos do clube.
Telê acatou a regra até que foi avisado que ela se aplicava apenas para os atletas. Inconformado, permaneceu ao do lado de seu elenco.
— Aí é a parte engraçada, porque o Telê não quis, não concordou, foi para os fundos depois dessa reunião com a diretoria e falou que queria sair por lá. Os dirigentes falaram não e ele insistiu. Disseram que o funcionário que estava com a chave já tinha ido embora. Então ele pulou o muro da Pinheiro Machado, que é nos fundos do estádio do Fluminense, caiu do outro lado e foi embora.
Vestindo verde, branco e grená, conquistou duas vezes o Campeonato Carioca (1951 e1959), o Torneio Rio-São Paulo (1957, invicto, e 1960), e a Copa Rio de 1952. Como treinador, venceu o Carioca juvenil em 1967. É o terceiro jogador com mais jogos oficiais pelo clube, somando 558.
São Paulo
Não se fala de São Paulo sem falar de Telê Santana. Técnico mais vitorioso da história tricolor, conquistou grandes títulos, entre eles os Mundiais e as Libertadores de 1992 e 1993, o Brasileiro de 1991, e os Paulistas de 1991 e 1992. Desde 2023, a porta do Morumbis onde a bola rola neste domingo (27) tem uma estátua de Telê que recepciona os torcedores.
Renê, ao relembrar do pai, disse algo que muitos torcedores concordam: falar do São Paulo é falar de Telê. Para ele, a maturidade profissional de Telê Santana foi com a camisa do Tricolor Paulista, vestindo vermelho, branco e preto. Não à toa que até hoje é ídolo e referência.
— Já como técnico, sua passagem pelo São Paulo foi o ponto máximo que se pode esperar de um treinador brasileiro em um Mundial. À época, a competição colocava frente a frente o campeão da Libertadores e o da Liga dos Campeões, considerados os maiores clubes dos dois continentes, para decidir o título em uma final única. E o São Paulo, sob comando de Telê, chegou a duas finais de Mundial, após disputar três finais consecutivas de Libertadores e conquistar duas — destacou Renê.
— É por isso que sempre voltamos ao tema Telê. Sua importância está eternizada na história do São Paulo — completou.
Os maiores clubes do mundo exaltam seus patrimônios. Telê Santana foi um patrimônio do São Paulo. De legado até inspiração de uniforme e um ônibus que leva seu apelido. Essa é a visão de René Santana, filho do eterno técnico tricolor, que propõe um projeto ambicioso: transformar a trajetória de Telê em um ponto de partida para a criação de uma verdadeira enciclopédia do futebol são-paulino. Muricy Ramalho, hoje na coordenação de futebol do clube, seria este elo entre passado, presente e futuro para o filho de Telê.
— Os maiores clubes do mundo preservam com zelo sua história, e o São Paulo poderia seguir esse caminho a partir do momento mais importante de sua trajetória: a era Telê. Esse seria o ponto de partida ideal para desenvolver, dentro do clube, um projeto que registre, valorize e eternize essa fase gloriosa, e há alguém que viveu tudo isso de perto e conhece profundamente essa história: Muricy Ramalho. Ele seria um aliado fundamental nessa proposta, que pode e deve sair do papel. Seria a oportunidade de criar, enfim, uma verdadeira enciclopédia do futebol são-paulino — lembrou com carinho.