O futebol brasileiro é pródigo em criar rótulos. Nas arquibancadas, na imprensa e até mesmo nos corredores dos clubes, as análises sobre profissionais de futebol raramente se sustentam em estudos aprofundados ou na compreensão da complexidade que envolve a função. Prevalece o julgamento apressado, moldado por percepções superficiais. Tal fato tem influência direta nos tomadores de decisões. Com isso, profissionais são escolhidos e descartados através de análises superficiais e informações pouco fidedignas.
O “teórico” é acusado de viver no mundo das ideias, distante do campo. Rebate, dizendo que nunca consegue aplicar o que estuda porque o tempo não lhe permite. Já o “prático” é cobrado por não se atualizar, e responde que não sobra espaço na rotina para registrar metodologias ou aprofundar-se em novas teorias. E assim seguimos: jovens são tachados de inexperientes; veteranos, de ultrapassados. Estrangeiros são criticados por não conhecerem a cultura local, enquanto os nacionais sofrem por supostamente não terem se modernizado. Ex atletas “não” estudaram e quem não jogou é incapaz de comandar.
Rótulo sobre o profissional de futebol é prejudicial
Dicotomias falsas, que mais atrapalham do que ajudam. Ao simplificar pessoas em estigmas, o futebol perde a chance de integrar saberes e experiências. Deixa-se de valorizar o diálogo entre teoria e prática, juventude e experiência, conhecimento local e visão global. Ao invés de potencializar o coletivo, preferimos alimentar antagonismos que servem apenas para justificar fracassos ou explicar vitórias.
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Nassim Nicholas Taleb, ao analisar o comportamento humano diante do excesso de informações, lembra que quanto mais dados recebemos, maior o número de hipóteses levantadas e, inevitavelmente, maior também a chance de erro dos formadores de opinião. O futebol é terreno fértil para esse fenômeno: relatórios, estatísticas, narrativas e rumores se multiplicam e, em vez de esclarecer, apenas aumentam a confusão.
Esse quadro se agrava no mundo irreal das mídias sociais. Ali, a velocidade com que um post nasce exige que respostas sejam dadas na mesma cadência. O debate perde profundidade, a análise se torna refém do imediatismo, e as reputações passam a ser julgadas pela viralização de cliques e curtidas, e não pela consistência de ideias ou resultados ao longo do tempo.
O problema é que, nesse ambiente polarizado, a única régua aceita continua sendo o placar. A vitória transforma o mesmo profissional em visionário, enquanto a derrota o reduz a incompetente, sem que nada relevante tenha mudado em sua trajetória.
O futebol exige mais do que rótulos: pede integração, maturidade e abertura para o aprendizado contínuo. Um departamento de futebol não pode ser laboratório de preconceitos, mas sim espaço de complementaridade. Enquanto não entendermos isso, seguiremos reféns do mesmo ciclo de lamentos e celebrações superficiais, medindo pessoas pela oscilação de noventa minutos.
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Felipe Ximenes escreve sua coluna no Lance! todas as quartas-feiras. Confira outras postagens do colunista:
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