Ídolo da torcida do Atlético, o ex-atacante Guilherme, que se destacou como goleador na década de 1990 e início dos anos 2000, afirmou, em entrevista exclusiva a O TEMPO Sports, estar preocupado com a carência de centroavantes vivida pelo futebol brasileiro, justamente quando faltam cerca de dez meses para a Copa do Mundo.
Hoje treinador do Noroeste, de São Paulo, Guilherme, de 51 anos, entende que a situação é crítica. "O mais difícil é achar um centroavante de ofício hoje em dia. É muito difícil. Vai sofrer um pouco agora. O problema é o nível dos atletas mesmo. O nível caiu? Caiu. E deve piorar ainda mais", afirmou.
"Na verdade, existem centroavantes, tem até bastante, mas, uma coisa que eu falo, não é ofendendo ninguém, mas a qualidade caiu. Ponto", acrescentou Guilherme durante a entrevista.
O ex-centroavante ressalva que, muitas vezes, o nível de cobrança é feito com base em atletas 'foras de série'. "O que acontece é que sempre se faz, principalmente na seleção brasileira, uma analogia com Ronaldo e Romário. Ah, depois que o Ronaldo parou, depois que o Romário parou... Aí fica difícil. Este tipo de comparação é surreal".
Na visão de Guilherme, um dos fatores que podem ter contribuído para a diminuição do número de grandes centroavantes no futebol brasileiro foi o fenômeno do uso do chamado 'falso 9'.
"É difícil. É uma discussão bem grande sobre isso. Sobre o falso 9, é uma coisa que começou com o Guardiola, usando o Messi desta forma no Barcelona. Tem umas coisas que viralizam no futebol. Mas não quer dizer que porque deu certo no Barcelona que dará certo em qualquer clube", destacou Guilherme.
Agora treinador, Guilherme afirma não ser adepto deste modelo de jogo. "Eu, por exemplo, como técnico, se tiver um centroavante de ofício à disposição, sempre prefiro utilizá-lo do que optar por um falso 9", cravou.
Questionado sobre o que seria preciso fazer para o futebol brasileiro voltar a ter grandes centroavantes, Guilherme foi direto: "Precisamos formar mais centroavantes. E onde se formam jogadores? Na base".
Entretanto, na visão de Guilherme, também há uma questão estrutural que tem atrapalhado o desenvolvimento destes novos valores. "Uma questão me preocupa no futebol brasileiro é limite elevado de número de estrangeiros por equipes. O clube, ao invés de dar oportunidade a um ativo seu, que é o garoto da base, faz um investimento em estrangeiro, o que, muitas vezes, diminui o espaço para os jovens no elenco profissional".
CONHECIMENTO DE CAUSA
Com 28 gols, Guilherme foi o artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1999, atuando ao lado de Marques, a quem considera como seu parceiro ideal de ataque na carreira.
Naquela temporada, o Galo chegou à final, mas perdeu o título para o Corinthians em uma melhor de três jogos. E muito pelo fato de Marques não poder atuar nos jogos decisivos, após sofrer uma lesão na coxa ainda na primeira partida.
De 1999 em diante, somente mais dois artilheiros de Brasileirão tiveram marcas superiores as de Guilherme: Dimba, que fez 31 gols pelo Goiás, em 2003, e Washington, que marcou 34 pelo Athlético-PR, em 2004.
Após deixar o Atlético em 2002, Guilherme ainda defendeu Corinthians, Al-Itthidad, Cruzeiro e Botafogo, onde encerrou a carreira em 2005.
Quem se habilita?
No momento, no elenco profissional do Atlético, o atacante com características mais próximas a de Guilherme é João Marcelo, de 20 anos, contratado nesta temporada após se destacar pelo Guarani.
Entretanto, o jovem teve poucas chances no Galo então sob o comando do técnico Cuca: foram apenas 11 partidas, nenhuma como titular. Nestes jogos, ele marcou um gol e deu uma assistência.
E no futebol brasileiro em geral, quem seriam os principais concorrentes a ocupar o posto de camisa 9? A reportagem de O TEMPO listou nove jogadores da posição.
Entre eles, quem já teve mais oportunidades pela seleção foi Richarlison, de 28 anos, que já marcou 20 gols em 50 partidas pela Amarelinha, tendo, inclusive, disputado o último Mundial.
Outros três nomes da lista são de jovens valores com 23 anos ou menos: Endrick (Real Madrid), Marcos Leonardo (Al-Hilal) e Kaio Jorge (Cruzeiro).
Na lista também estão dois jogadores já renomados no futebol brasileiro, como Pedro (Flamengo) e Yuri Alberto (Corinthians), além de nomes de 'menos peso' que já chegaram a ser convocados para a seleção, como Igor Jesus (Nottingham Forest) e Evanílson (Bournemouth). Confira abaixo o desempenho de cada um deles na temporada.
Alguns dos 'candidatos' a usar a camisa 9:
Endrick (Real Madrid) - 19 anos
Em 2025: 22 jogos*, 5 gols
Na seleção: 14 jogos, 3 gols
Marcos Leonardo (Al-Hilal) - 22 anos
Em 2025: 27 jogos, 21 gols
Na seleção: não estreou
Kaio Jorge (Cruzeiro) - 23 anos
Em 2025: 30 jogos, 18 gols
Na seleção: não estreou
Rodrigo Muniz (Fulham) - 24 anos
Em 2025: 20 jogos, 9 gols
Na seleção: não estreou
Igor Jesus (Nottingham Forest) - 24 anos
Em 2025: 30 jogos, 9 gols
Na seleção: 4 jogos, 1 gol
Yuri Alberto (Corinthians) - 24 anos
Em 2025: 39 jogos, 13 gols
Na seleção: 1 jogo, nenhum gol
Evanílson (Bournemouth) - 25 anos
Em 2025: 18 jogos, 7 gols
Na seleção: 2 jogos, nenhum gol
Richarlison (Tottenham) - 28 anos
Em 2025: 23 jogos, 7 gols
Na seleção: 50 jogos, 20 gols
Pedro (Flamengo) - 28 anos
Em 2025: 27 jogos, 13 gols
Na seleção: 6 jogos, 1 gol