Desde que a bola rolou para Seleção Mineira 1x0 River Plate-ARG, amistoso inaugural do Mineirão, em 5 de setembro de 1965, o estádio nunca ficou tanto tempo sem receber jogos por opção dos clubes. Neste domingo (19), o palco principal do futebol no estado completa 3 meses sem abrir os portões para torcedores.
Períodos maiores foram registrados com o Gigante da Pampulha fechado para o esporte, mas por motivos que independiam de Atlético e Cruzeiro, como obras e o calendário do futebol. Jamais por uma escolha de celestes e alvinegros, como agora.
A partida mais recente no Mineirão foi em 19 de novembro do ano passado, quando Galo e Raposa disputaram a final do Campeonato Mineiro Feminino, vencida nos pênaltis pelas atleticanas.
No futebol masculino, a última aparição azul na arena foi no triunfo por 3 a 2 sobre o CSA, em 6 de novembro, no chamado "jogo da taça" do Campeonato Brasileiro da Série B. O Atlético foi a campo quatro dias depois, na vitória por 3 a 0 sobre o Cuiabá, pela penúltima rodada do Brasileirão, e ainda não voltou.
A equipe alvinegra optou por mandar quase toda a primeira fase do Campeonato Mineiro 2023 no estádio Independência. A exceção será o clássico contra o América, no próximo dia 25, marcado para o Gigante da Pampulha. Até lá, o estádio terá amargado 98 dias de jejum de futebol.
O Cruzeiro, por outro lado, não tem data para voltar ao Mineirão. Há cerca de um mês, o clube anunciou o rompimento de relações com a Minas Arena, empresa administradora do estádio, alegando condições ruins de contrato.
Outros hiatos
Em 2020, o Mineirão ficou sem jogos de 11 de março a 26 de julho, devido à pausa nas competições de futebol por causa da pandemia.
Em 2010, o estádio foi fechado para reformas para sediar jogos da Copa do Mundo de 2014. O último jogo naquele ano foi em 6 de junho, e a reinauguração, em 3 de fevereiro de 2013.
Em 2004, ao contrário do que uma falsa memória possa sugerir, a colocação das cadeiras vermelhas não atrapalhou o mando de duelos no Gigante da Pampulha.
Em 2002, o estádio ficou sem futebol de 30 de maio a 11 de agosto. Primeiro, o calendário do futebol nacional parou para a Copa do Mundo. Depois, houve a disputa da Copa dos Campeões, com todos os jogos no Nordeste.
Em 1996, o Gigante da Pampulha passou por reformas, como a troca do gramado, e recebeu o primeiro jogo da temporada em 26 de maio.
Em 1986, o Mineirão ficou sem jogos de 8 de maio a 31 de agosto, por causa do calendário do futebol. Entre o fim do Campeonato Mineiro e o início do Brasileiro, houve um vácuo de quase 4 meses. Atlético e Cruzeiro aproveitaram para fazer amistosos no interior de Minas e em outros estados e países.
Cruzeiro x Minas Arena: entenda
No último 23 de janeiro, o dono da SAF do Cruzeiro, Ronaldo Fenômeno, anunciou o fim da parceria do clube com a Minas Arena. A Raposa fechou acordo com o América, gestor do Independência, para mandar ao menos 18 partidas no Horto.
"As condições [no Mineirão] sempre foram horríveis para o Cruzeiro. A Minas Arena tem um contrato com o governo estadual muito confortável, em que tem praticamente todas as armas na mão para fazer uma negociação boa para ela e nunca boa para a gente. Neste ano, damos como rompida nossa relação com a Minas Arena e não jogaremos no Mineirão. É um problema importante que o governo estadual vai precisar resolver", afirmou Ronaldo à época.
Na mesma data, o diretor comercial da Minas Arena, Samuel Lloyd, disse ter sido pego de surpresa com a declaração do dirigente. "Precisamos do Cruzeiro lá, queremos trazer o Cruzeiro de volta, mas tem que ser em condições mínimas aceitáveis para que a gente consiga pagar as contas", declarou, na ocasião, ao podcast "Bora Pra Resenha".
Comitê para datas
Dias antes, a Minas Arena já era alvo de críticas por outro motivo: o choque do calendário do futebol com o de outros eventos. Inicialmente, o Gigante da Pampulha não poderá receber o jogo de ida da final do Mineiro, previsto para 1º de abril, porque bateria na agenda com um show do cantor Gusttavo Lima, marcado antes do anúncio das datas do Estadual.
Lloyd argumentou que, "normalmente, os grandes eventos internacionais são combinados com um ano de antecedência, e o calendário [das competições] sai de repente, por volta de três, quatro meses antes. Sempre vamos tentar fazer o máximo para equilibrar. A ideia é sempre equacionar esse calendário."
Entretanto, o governo estadual – proprietário do estádio, concedido à Minas Arena até 2037 – só se pronunciou após a reclamação de Ronaldo. Não para abordar os questionamentos do dirigente celeste, mas para se posicionar sobre o problemas das datas.
Em 24 de janeiro, o então secretário estadual de Infraestrutura e Mobilidade, Fernando Marcatto, afirmou que, como previsto em contrato, seria criado um grupo para discutir o calendário de eventos no Mineirão. Trata-se do Comitê de Esporte, Cultura e Lazer, formado por Governo de Minas, Minas Arena, Atlético, Cruzeiro, América, Fifa, CBF, Federação Mineira de Futebol e sociedade civil.
"O objetivo é receber a programação dos próximos 12 meses do Mineirão e fazer questionamentos e comentários e pedir esclarecimentos, para harmonizar eventuais interesses comerciais, de shows e de outras atividades com o futebol", explicou o secretário à época.
Quase um mês depois, o comitê ainda não iniciou os trabalhos. "Neste momento, está sendo realizada a conciliação de agendas dos participantes para que a data da reunião seja marcada o mais breve possível", afirma a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade.