Maior templo do futebol mineiro, o Mineirão recebeu, em 2022, 156 eventos além das partidas do esporte mais popular do Brasil. Do total de 211 eventos realizados no local no ano passado, “apenas” 55 foram jogos de futebol, com mandos principalmente de Atlético e Cruzeiro (também tiveram mando Athletic, Caldense, seleção brasileira, a federação e a final única do Mineiro, além de dois jogos de futebol feminino). Apesar de ter praticamente um terço a menos de jogos do que de eventos, as partidas de futebol responderam por nada menos do que 80% da receita da Minas Arena, gestora do estádio, que optou, porém, por não divulgar os valores.
O ano de 2022, inclusive, foi o ano com o melhor resultado financeiro do estádio, desde a chegada da gestão da Minas Arena, com recorde de jogos e um retorno 60% maior do que 2019, a temporada que tinha até então o recorde - naquele ano, inclusive, o estádio recebeu jogos da Copa América. Em 2019, de acordo com o estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (IPEAD), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Mineirão injetou na economia R$ 662 milhões, sendo que R$ 442 milhões vieram por meio dos jogos. “O Mineirão é um multiplicador de receita. Sempre gera receita para os clubes”, disse o diretor comercial da Minas Arena, Samuel Llyod, em evento realizado nesta quinta (19), no próprio estádio.
Segundo os gestores, são diversos os motivos da diferença de lucro nos dois tipos de eventos. Para shows e festivais, por exemplo, o Mineirão recebe somente pelo aluguel do espaço. Em jogos, a conta é muito mais diversificada. Os clubes não pagam para locar o ambiente, mas o estádio recebe uma parcela da venda de ingressos, de camarotes, do lucro dos bares, estacionamento e publicidade. Por isso, o Mineirão deixou claro que quer manter os times mineiros mandando jogos por lá, propondo até acordos como a realização de eventos e jogos simultaneamente.
Um problema com o qual a Minas Arena vai ter que conviver é em relação aos conflitos da agenda do futebol com os outros eventos, que ocorrem pela falta de contrato dos clubes com o Gigante da Pampulha. Sem acordo firmado, o estádio não consegue reservar datas, que são preenchidas pelos eventos com bastante antecedência. Quando o calendário do futebol é publicado, os dias que já estão com eventos marcados - na maior parte das vezes - não podem ser utilizados pelos clubes. Isso sem contar as mudanças de datas dos torneios de futebol e os jogos que ainda não têm como saber a data, como os de mata-mata de várias competições. A falta de previsibilidade das datas do futebol, a grande oferta de eventos no período pós-pandemia e o fato de os clubes não terem contratos e, consequentemente, não bloquearem a agenda, resultam, hoje, em dias de jogos com eventos marcados.
Atrativos
“Em um ano bom, com Atlético e Cruzeiro jogando todas as partidas no estádio, são cerca de 60 datas com jogos. Mas o ano tem 365 dias e é preciso preencher essa agenda com eventos corporativos, shows, etc. Mas o Mineirão precisa de jogos. Se não, tem que repensar”, disse Samuel Lloyd. E, exatamente pela soma desses fatores, o diretor disse estar aberto para receber jogos de todos os clubes. Na prática, a Minas Arena precisa dos jogos. “Não planejamos outro conteúdo para preencher a agenda”, reforçou Lloyd.
Para atrair os clubes, a Minas Arena propõe remanejamento de datas, a possibilidade de realizar eventos simultâneos aos jogos e também a chance de bloquear alguns setores do estádio, de acordo com a previsão de público, o que geraria menos custos. Importante ressaltar, mais uma vez, que clubes sem contrato não bloqueiam a agenda e não tem vantagem na fidelização, fato que poderá ser observado na data prevista para o jogo de ida do Campeonato Mineiro, que pode ser dia 1º de abril, data em que o estádio já tem um evento contratado há mais de três anos. Por outro lado, a data da finalíssima, 8 de abril, está bloqueada no estádio.
Além disso, a Minas Arena permite que os clubes usem a área VIP do Mineirão, coloca à venda ingressos em locais antes destinados apenas à própria concessionária, no setor vermelho inferior e em espaços como o Mineirão Tribuna. Os clubes também podem promover eventos prévios aos jogos na Esplanada e arrecadar com a programação no local.
Situação dos clubes
O Atlético, que vai inaugurar seu estádio até o meio do ano, tende a jogar menos vezes no Mineirão em 2023 e, em relação ao Cruzeiro, a concessionária ainda aguarda uma decisão do clube, que, segundo Lloyd, estuda uma redução dos custos para continuar a atuar no local. Lloyd lembrou também que ainda existe uma pendência com o clube celeste, que deve cerca de R$ 30 milhões.