O brilho da Cidade da Luz está prestes a ficar ainda maior. Paris, a capital francesa, já é um dos destinos turísticos mais procurados do planeta, e agora volta a receber as maiores estrelas do esporte na atualidade. Após três anos, o mundo assiste com olhos atentos, mais uma vez, à magia olímpica, que celebra não só o bom desempenho nas quadras, campos, piscinas e ginásios, mas também a beleza, os valores e o impacto que o esporte tem na vida das pessoas.
Na sexta-feira, 26 de julho (14h30), a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Paris-2024 abre oficialmente o mês de competições do megaevento. Até o dia 11 de agosto, mais de 10 mil atletas entrarão na briga por medalhas em 45 modalidades e, mais do que isso, pela chance de escrever seus nomes na história.
A cada ciclo, o Brasil caminha na direção de ser considerado uma das grandes potências olímpicas. Em Paris, pode registrar sua melhor campanha, superando Tóquio-2020, que também foi recheada de recordes. Todo esse desenvolvimento da última década faz parte de um importante legado olímpico, deixado pela realização dos Jogo do Rio de Janeiro, em 2016, e mostram como o país, de proporções continentais, pode ser um verdadeiro celeiro de atletas de ponta.
Os resultados ao longo do ciclo animam os torcedores brasileiros e a delegação busca corresponder à altura.
Delegação brasileira quer brilhar na Cidade da Luz: histórias e curiosidades
274 brasileiros compõem a delegação olímpica em Paris, que participa do evento em 39 das 45 modalidades. Essa é a quarta maior equipe do Brasil em Jogos Olímpicos, ficando atrás de Rio-2016, Tóquio-2020 e Pequim-2008. E pela primeira vez na história, serão mais mulheres: são 153, 55% da delegação. Na última edição, a representatividade feminina foi de 47%. Os esportes coletivos foram cruciais para esse número, já que o país conquistou vaga no futebol, rugby e handebol somente com as seleções femininas.
"Existe sim uma chance real de termos mais medalhistas mulheres do que homens pela primeira vez em Jogos Olímpicos. No Pan de Santiago já tivemos mais medalhas de mulheres, foi a primeira vez em um evento multiesportivo que isso aconteceu. E a chance de acontecer isso em Paris também é grande, porque temos mais mulheres na delegação e temos muitas delas com histórico recente de grandes desempenhos em nível internacional", afirmou Rogério Sampaio, Diretor-geral do COB e Chefe da Missão Paris 2024.
A partir do dia 27 de julho, o Time Brasil entrará em ação em: Águas abertas, Atletismo, Badminton, Basquete (masculino), Boxe, Canoagem slalom, Canoagem velocidade, Ciclismo BMX Racing, Ciclismo BMX Freestyle, Ciclismo estrada, Ciclismo Mountain Bike, Esgrima, Futebol (feminino), Ginástica artística, Ginástica rítmica, Ginástica trampolim, Handebol (feminino), Hipismo Adestramento, Hipismo CCE, Hipismo Saltos, Judô, Levantamento de Pesos, Natação, Pentatlo moderno, Remo, Rúgbi (feminino), Saltos ornamentais, Skate, Surfe, Taekwondo, Tênis, Tênis de mesa, Tiro com arco, Tiro esportivo, Triatlo, Vela, Vôlei, Vôlei de praia e Wrestling (luta olímpica).
Curiosidades
Mais participações: um destaque nesta edição é a presença do cavaleiro Rodrigo Pessoa, que aos 51 anos estará em sua oitava Olimpíada, ultrapassando Robert Scheidt (vela) e Formiga (futebol), que disputaram sete cada. Em Paris, Pessoa empata o recorde de Jaqueline Mourão, que tem três participações em edições de verão e cinco de inverno.
Mais nova: medalhista olímpica mais jovem da história do país, aos 13, Rayssa Leal volta às Olimpíadas com ainda mais chance de ouro. Agora com 16 anos, a skatista fará sua segunda participação olímpica e chega em grande fase. Três meses atrás, a maranhense foi campeã da SLS, principal liga de State Street do mundo. Em Paris, será novamente a mais nova da delegação.
Participação dupla: a mesatenista Bruna Alexandre, de 29 anos, também fará história. Amputada do braço direito quando tinha apenas seis meses, ela irá competir tanto nos Jogos Olímpicos quanto nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024. Bruna já disputou outras duas edições de Jogos Paralímpicos (Rio-2016 e Tóquio-2020), nas quais conquistou três medalhas de bronze e uma de prata.
Em família: cinco pares de irmãos estão na delegação brasileira de Paris-2024. Entre os que vão competir juntos estão as gêmeas Thalia e Thalita Costa, da seleção de rugby de 7. Bruna e Giulia Takahashi vão disputar o tênis de mesa, e Alan e Darlan Souza ‘brigam por posição’ na seleção masculina de vôlei. Também no vôlei, mas separadamente, Julia e Lukas Bergmann também vestirão a camisa verde e amarela. Já na vela, Martine e Marco Grael competirão em classes diferentes.
Desfalques de última hora
277 foram convocados para os Jogos, mas o Brasil teve três desfalques a poucos dias do início da Olimpíada. Primeiro, o maratonista Danielzinho foi pego no doping e suspenso, perdendo a vaga olímpica. Na última terça-feira (23), Darlan Romani, do lançamento de peso e atleta do Praia Clube, pediu dispensa para tratar uma hérnia de disco e precisará passar por cirurgia. Ele foi 4º lugar em Tóquio-2020.
Na quarta-feira (24), Isaac Souza rompeu um tendão no tríceps em um treinamento, já na capital francesa, e também vai ficar de fora do evento.
Porta-bandeiras do Brasil celebram histórias de superação no esporte e na vida
Rachel Kochhann (rugby sevens) e Isaquias Queiroz (canoagem velocidade) foram os escolhidos para carregarem a bandeira brasileira na Cerimônia de Abertura. Nesta edição, a honraria veio para atletas com histórias de inspiração e superação que vão muito além do esporte.
Rachel, capitã das Yaras, seleção feminina de rugby, foi diagnosticada com dois cânceres, passou por cirurgia, quimioterapia e radioterapia e voltou a vestir a camisa verde e amarela neste ano. Nesse mesmo período, ainda fez a reconstrução cirúrgica do ligamento cruzado anterior no joelho. Uma verdadeira batalha pela sua saúde.
"Antes das Olimpíadas de Tóquio percebi um caroço na mama direita e conversei com o pessoal médico da Confederação, mas os exames estavam tranquilos. Seis meses depois, esse caroço duplicou de tamanho. Retirei e a biópsia apresentou células cancerígenas. Depois encontraram anormalidade no esterno e comecei a fazer radioterapia e quimioterapia para neutralizar esse câncer. Hoje ainda sigo com o tratamento de bloqueadores”, contou a porta-bandeira.
Sem desanimar, a capitã exerceu seu papel de liderança com as colegas de seleção e não deixou a situação adversa a abalar. Com a ajuda das Yaras, pôde manter vivo o sonho olímpico de Paris.
“Sempre estive no grupo de liderança e a primeira reação das meninas foi de baixarem a cabeça. Mas falei que não queria aquele clima, com energia daquela forma. Era uma doença séria, que precisava de atenção, mas não era o fim do mundo, era um processo. Como a gente lida com isso também muda a nossa energia, o nosso corpo. Até brinquei com as meninas que poderiam fazer piadas, não queria tornar aquilo algo pesado. Foi isso que me ajudou no processo”, analisou.
E se o rugby brasileiro ainda tenta achar seu espaço, Isaquias Queiroz, aos 30 anos, é um dos principais atletas do país. Com quatro medalhas na coleção, tem a chance de se tornar o maior medalhista olímpico do Brasil em Paris-2024.
“Fico muito feliz de poder representar minha Bahia, meu Nordeste, o Brasil inteiro. Vai ser uma cerimônia incrível. Principalmente por poder representar minha modalidade, ainda tímida no Brasil. Botar nossas ‘garrinhas’ para fora. Com certeza, depois de Paris, o pessoal vai ter mais conhecimento sobre essa grande modalidade”, afirmou Isaquias.
Único brasileiro a conquistar três medalhas em uma única edição dos Jogos, Isaquias também viveu um drama de saúde quando criança. Aos 10 anos, caiu de uma árvore e, com a pancada, teve hemorragia interna e precisou remover um dos rins, ficando entre a vida e a morte. Até hoje, vive com apenas um rim e mostra que isso em nada atrapalha sua desempenho em alto nível.
“É uma experiência incrível poder representar o seu país. Eu tive a oportunidade no Rio de fazer o fechamento. Mas agora, ser o porta-bandeira na abertura, vai ser uma coisa muita especial”.
Ciclo olímpico de sucesso traz esperança de resultados ainda melhores
Nos Jogos de Tóquio, o Brasil conseguiu a melhor campanha, com 21 medalhas (7 de ouro, 6 de prata e 8 de bronze), três a mais que o no Rio-2016. Com um ciclo olímpico menor, o grande desafio dos brasileiros vai ser tentar melhorar a marca, mas com os bons resultados nos últimos três anos, as expectativas são as melhores possíveis.
Atletas brasileiros conseguiram resultados expressivos em esportes como ginástica (artística, rítmica e de trampolim), skate, surfe, tiro com arco, vôlei de praia e atletismo, e alguns, como Rebeca Andrade e Rayssa Leal, conquistaram status de superestrelas e chegam como fortes favoritas para subirem ao pódio novamente.
Andrade, inclusive, chega em Paris como o principal nome da delegação brasileira. Na ginástica artística de Tóquio, fez história ao conquistar a prata no individual geral e o ouro no salto. Na sequência, fez um ciclo de destaque, com o título no individual geral do Campeonato Mundial, em Liverpool 2022, e uma campanha de cinco medalhas no Mundial da Antuérpia 2023.
Em Paris, Rebeca afirma estar mais madura e pronta para resultados ainda mais expressivos.
“Eu acho que estou mais madura. Mas o coração e o pensamento são os mesmos. O foco, a vontade de vencer, de estar ali e fazer o melhor… é a mesma Rebequinha (risos). Mas, claro, mais madura. Hoje, para mim, é um orgulho ter o reconhecimento do nosso trabalho em conjunto. Você pisar nos ginásios e as pessoas quererem falar com você, fazer uma foto, são fãs. É sobre o nosso trabalho. É uma honra estar nesse lugar. E, a cada ano, fico cultivando, conquistando e firmando cada vez mais. Deixando esse legado que vai ser muito importante para mim e para o esporte. Ninguém vai poder tirar de mim”, afirmou Rebeca.
Com certeza, as chances de medalha em Paris são muito reais, e a ginasta está pronta para arriscar.
“O planejamento foi bem parecido com o de Tóquio, mas a gente sempre tem as coisas novas. Vai depender muito de como vou estar me sentindo no dia. Por isso é tão importante treinar. Se eu estiver me sentindo muito bem, vou virar para o Chico (Porath, treinador) e falar. E ele não vai ter medo, vai olhar nos meus olhos e confiar que tenho a capacidade de fazer. Algumas mudanças as pessoas já viram. Outras, não. Espero estar me sentindo bem e que todas as minhas apresentações sejam boas, porque quero muito dar orgulho”, concluiu.
Mais modalidades com chances de medalha
Até os Jogos Olímpicos de Atenas 2004, o Brasil havia conquistado medalhas em 11 modalidades diferentes. Desde então, a cada nova edição, subiu ao pódio em uma inédita: Taekwondo em Pequim 2008; ginástica artística e pentatlo moderno em Londres 2012; águas abertas e canoagem velocidade na Rio 2016 e em Tóquio 2020, skate, surfe e tênis. Agora, o país já teve medalhistas em 19 modalidades ao longo de 20 participações.
Com os resultados internacionais recentes, mais uma vez o país está na briga para adicionar mais um esporte na lista. Alguns fortes candidatos são a ginástica rítmica, que teve medalha inédita em etapa de Copa do Mundo no ano passado. Marcus D’Almeida, do tiro com arco, chegou a liderar o ranking do mundo e foi medalhista de prata no Mundial 2021 e bronze em 2023.
“Não só os estudos e pesquisas do COB, mas também especialistas em esportes olímpicos citam algumas modalidades que ainda não têm medalhas em Jogos, mas que se colocaram nessa briga pelos resultados recentes. Podemos citar a canoagem slalom, o ciclismo BMX, a ginástica rítmica, o tênis de mesa, o tiro com arco, dentre outras. O nosso crescimento é sustentado e o trabalho agora é oferecer toda a estrutura e as melhores condições possíveis para que esses atletas e equipes possam realizar seu trabalho e chegar na tão sonhada medalha olímpica”, comentou Sebastian Pereira, gerente-executivo de Alto Rendimento do COB.
Agenda olímpica de Paris-2024
Veja a agenda completa da Olimpíada de Paris, com calendário diário de disputas.