Manter o equilíbrio em cima de um touro de mais de 800 kg com precisão é uma tarefa para poucos profissionais. Mais do que coragem, é necessário ter a cabeça no lugar durante preciosos segundos sobre um animal que passa a impressão de ser indomável. Bem mais do que um evento de montaria, a Professional Bull Riders (PBR) desembarca no Mineirinho, em Belo Horizonte, no dia 15 de dezembro. Será a última etapa do campeonato organizado pela maior liga da modalidade no mundo. Justamente por decidir os 35 competidores que vão para o Mundial no ano que vem, a disputa em terras mineiras valerá mais pontos.
Com boas chances de desbancar os dois títulos seguidos dos norte-americanos, os brasileiros querem aproveitar o fator casa para recolocar o país no lugar mais alto do pódio. Quem busca melhorar sua posição no ranking é Fernando Henrique Novais, número 56 do mundo. O tempo de montar bezerro escondido na roça ficou para trás e deu lugar a um esporte que o faz ter a certeza de que realiza um sonho.
“Quando criança, ia com amigos em pista de laço, passávamos o dia ajudando no trabalho do curral, e a paixão foi crescendo. Sempre imaginava estar neste lugar”, afirma. Depois de o irmão e um amigo o levarem para as montarias, ele acabou tomando gosto pela coisa. “A virada aconteceu quando participei de um evento e fui bem. Recebi um convite pra montar em Barretos, o sonho de qualquer peão. Não podia deixar a oportunidade escapar”, conta. O trabalho como eletricista de automóveis foi deixado de lado para dar lugar a um modo de vida com chapéu, bota e laço na mão.
No dia 1º de dezembro, Goiânia recebe a penúltima etapa, e as vendas de ingressos já acontecem pelo site tudus.com.br. Com a presença da IMM, empresa especializada em entretenimento, a ideia é desvincular o evento dos festivais de música. “Temos uma grande base de fãs em Minas. A tradição também contou. O público vai ver o mesmo espetáculo que acontece em Las Vegas ou no Madison Square Garden, em Nova York”, garante Phillipe Menezes, diretor da IMM, que estará a cargo da organização. Dos dez primeiros colocados no ranking, seis são brasileiros.
Referências. Adriano Alves deixou seu nome gravado no PBR. Ele não só foi o primeiro campeão, no ano de 1994, como conquistou três títulos, ajudando a colocar o nome do Brasil em evidência na modalidade. Além de Adriano, apenas Silvano Alves levou o título por três vezes.
A capacidade de domar touros em menos de dez segundos foi preponderante para Adriano Alves se tornar diretor técnico da entidade logo após abandonar as provas e se aposentar das competições.
Milhões no bolso. Os prêmios pagos para os grandes campeões deixam claro como a atividade pode ser lucrativa. “A quantia que um cara como Silvano já embolsou na carreira (cerca de US$ 7 milhões) mostra o tamanho desse esporte e aonde os montadores podem chegar. Eles podem se tornar rockstars”, afirma Sean Gleason, CEO da PBR. “Cowboys são os mesmos em qualquer lugar do mundo, com integridade e código de honra. Mas vejo os brasileiros
com algo a mais”, pontua.
Montadores e touros são as grandes estrelas
A pontuação dividida entre a performance dos montadores e a dos touros mostra o grau de importância dos animais para o evento. A capacidade de pular é o que define a presença dentro da arena. O avanço da tecnologia foi um dos grandes aliados para o desenvolvimento de animais com maiores chances de ter esse dom.
“São raros os touros com essa aptidão. Hoje, trabalhamos com uma ferramenta de melhoramento genético. Isso encurta o tempo de produção, e conseguimos acasalar animais que possuem essa aptidão de pulo. Antes, perdia-se um tempo enorme, em muitas situações. O que fazemos atualmente é utilizar um conhecimento que já aparece nos Estados Unidos há muitos anos”, comenta o veterinário César Fabiano Vilela.
A preocupação com os animais começa em sua retirada da propriedade de origem, sendo transportados em veículos próprios, com detalhes que fazem a diferença, como piso de borracha e ambiente climatizado. Tratamentos como podologia para os cascos e acupuntura estão entre os cuidados alternativos de saúde empregados nos animais.
Cabeça boa. Cada touro que participa dos eventos da PBR pesa cerca de 800 kg, desafiando os montadores diante de um animal potente e agressivo. “Nossa performance vai além da coragem e condição física. A mente conta muito, a cabeça faz toda a diferença”, destaca Fernando Henrique Novais, atual líder do ranking nacional. Alguns passam de uma tonelada e possuem alto preço no mercado. “O valor de um animal desses é imensurável, é como um atleta precioso, uma pedra única. Cada um tem uma característica diferente. Já vi alguns chegarem aos R$ 320 mil”, detalha Vilela.