“Não é só um esporte”. Essa expressão vem sendo utilizada com frequência nos últimos anos, mostrando como, para muitas pessoas, algumas modalidades têm enorme importância em suas vidas por motivos que vão muito além dos esportivos. 

Uma dessas pessoas é Rafael Reis, de 26 anos, ‘voleifã’ de carteirinha que, há mais de duas décadas, é apaixonado pelo vôlei do Minas Tênis Clube. Ele é natural de Cruzília, município de pouco mais de 15 mil habitantes no Sul de Minas, mas mora na capital há duas décadas. Nas arquibancadas da Arena Minas, Rafael se acostumou a empurrar o time em busca de títulos, e, do outro lado, o time o ajudou em um momento delicado na vida: em 2019, foi diagnosticado com um tumor na coxa direita, e a paixão pelo vôlei foi fundamental para sua recuperação.

Influenciado pela mãe, Myrian Reis, o amor pelo voleibol começou para Rafael por volta dos anos 2000, assistindo a seleção brasileira masculina, que só no início da década conquistou dois ouros no Campeonato Mundial (2002 e 2006) e um nos Jogos Olímpicos (2004). Na época, o Brasil tinha uma seleção considerada, por muitos, a melhor de todos os tempos.

“Aprendi a gostar de vôlei com a minha mãe no início dos anos 2000, na época assistindo, principalmente, jogos da seleção masculina, que era um absurdo. No elenco tinha Giba, Ricardinho, André Nascimento, etc. Depois, comecei a acompanhar também a Superliga e, sendo de BH, virei torcedor do Minas”, contou Reis.

Ligado no voleibol mineiro, o jovem lembra com carinho da primeira vez que pisou na Arena Minas, tradicional ginásio na Rua da Bahia, em Belo Horizonte, para um clássico contra o Sada Cruzeiro. 

“A primeira vez que fui no ginásio foi um Minas x Sada Cruzeiro na temporada 2009/2010, em que o Minas estava fazendo uma temporada um pouco decepcionante. Só que, naquele jogo, nós ganhamos por 3 a 2”, relembrou o torcedor, que virou figurinha carimbada nas arquibancadas. “Desde então, já perdi as contas de quantas vezes fui à arena", disse.

Sem condições de voltar a assistir uma partida de voleibol devido a uma doença grave que o impediu, por um ano, de andar, Rafael conta que, nos dias em que passava no hospital para o tratamento, a possibilidade de voltar à Arena Minas, com as próprias pernas, era o que o empurrava.

“Eu tive um tumor na coxa direita em 2019, o que foi um choque e um momento muito difícil. Precisei fazer uma cirurgia complicada e grande para retirar esse tumor. Eu me lembro muito bem de um dia em que eu estava no hospital em que passava um jogo do Minas masculino na TV. O Minas jogava em casa. Eu comecei a chorar, minha mãe me perguntou o porquê e eu disse ‘mãe, eu queria estar lá, mas eu não tenho condições de sair dessa cama agora’”, contou Reis

O desejo foi um impulsionador na recuperação, e o amor pelo vôlei - e pelo Minas - assumiu papel central. “Uma das coisas que mais me ajudou a ter forças na minha recuperação para voltar a andar foi pensar que eu precisava voltar pra Arena andando. E eu estou quase lá! Ainda estou me reabilitando, mas já estou ótimo”, contou o minastenista. 

Hoje, Rafael ainda passa por sessões de fisioterapia e hidroterapia, mas já consegue se locomover de forma independente dentro de casa. Acompanhando de longe, celebrou a conquista do tricampeonato do Itambé Minas.

“Fiquei muito, muito feliz, porque o time passou por diversas dificuldades durante a temporada, com muitas lesões de jogadoras chave, como Thaísa e Neri. Foi extremamente gratificante ver o Minas conquistar o título da competição mais importante do ano", contou Reis.

Já pensando na próxima temporada, ele celebra que já riscou da lista quase todos os marcos de seu tratamento. Está faltando apenas um. “Dos meus objetivos na minha recuperação, eu diria que já cumpri todos, exceto um: voltar a ir em um jogo na Arena! Inclusive, queria deixar um agradecimento à minha mãe Myrian e aos meus fisioterapeutas Rodrigo, André e Michelle, por literalmente terem me colocado de pé de novo”, desabafou.

E como bom torcedor minastenista, segue confiante na possibilidade do tetracampeonato feminino, mesmo com a perda de peças importantes no elenco. No masculino, a boa sequência de temporadas empolga, e a expectativa para a próxima é alta.

“Acho que temos totais chances de brigar pelos títulos novamente e tenho confiança nas meninas para fazer isso. O trio que ficou (Thaísa, Gattaz e Pri Daroit) todos sabem como ajudam muito e tenho certeza que vão continuar produzindo muito bem. O time masculino vem a cada temporada jogando melhor, e nessa última mostraram toda sua qualidade com o título da Copa Brasil e o vice da Superliga. É claro que temos um grande rival no Sada Cruzeiro e outros times fortes, mas confio no meu time e vamos disputar lá nas cabeças de novo", concluiu Reis.