O perigo para os motociclistas que trafegam em Belo Horizonte está cada vez maior. De janeiro a maio deste ano, o número de roubos de moto quase dobrou em relação ao mesmo período de 2024. Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp-MG) mostram que 220 motos foram levadas por criminosos na capital, ante 113 no ano anterior, uma alta de 94,7%. A média diária subiu de 0,75 para 1,47, o que dá três crimes a cada dois dias.
Os números assustam e também acendem o alerta das autoridades. Na última segunda-feira (7), uma reunião da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) abordou formas de prevenção e combate a esses roubos. O evento reuniu representantes do grupo SOS Motos, criado em abril para compartilhar questões de segurança e cobrar atitudes dos órgãos responsáveis, outros motociclistas e comandantes das polícias Militar, Civil e Rodoviária Federal.
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“Há cerca de 30 dias, recebemos um grupo enorme de motociclistas no nosso gabinete. Eles nos procuraram para alertar sobre o aumento de furtos e roubos de motocicletas, e isso passa pela política de segurança pública do estado. Antes que isso aqui vire Rio de Janeiro ou São Paulo, onde esse crime já tomou proporções muito maiores, é melhor que nossas forças policiais possam atuar e acender esse alerta”, afirmou o deputado Delegado Rodrigues (PL), presidente da comissão, durante a reunião.
Em entrevista ao Super Notícia, o empresário Marcelo Alvarenga do Carmo, de 53 anos, que integra o SOS Motos, explicou que a reunião foi solicitada pelos motociclistas entenderem que ainda há como controlar a situação, mas que isso precisa ser feito com urgência. Caso contrário, o estado não conseguirá mais reverter o cenário.
“É um pedido de socorro. A gente quer que as pessoas tenham segurança ao andar nas ruas. Imagina uma pessoa que tem a moto como instrumento de trabalho e de uma hora para outra perde o veículo! Ele fica sem ter de onde tirar o sustento de casa, sem conseguir alimentar os filhos. Muitas pessoas estão ficando revoltadas e a ponto de começar a fazer justiça com as próprias mãos. Não queremos que isso vire uma guerra entre o bem e o mal”, desabafou.
Roubado às 9h da manhã, na Raja
Em 6 de abril deste ano, às 9h16, o empresário Bruno Brugnara, de 51 anos, parou com sua moto em um sinal da Avenida Raja Gabaglia, na altura do bairro Santa Lúcia, na região Centro-Sul da capital. Em uma ação que durou menos de 20 segundos, dois homens em outro veículo o fecharam e apontaram um revólver, levando a motocicleta dele. Com o auxílio de um rastreador, o veículo foi localizado pouco mais de uma hora depois da ação.
Andar de motocicleta em Belo Horizonte tem se tornado cada vez mais inseguro. Em um ano, o número de roubos a este tipo de veículo praticamente dobrou. De janeiro a maio deste ano, foram registrados 220 crimes deste tipo na capital mineira, 94,7% mais que os 113 do mesmo período… pic.twitter.com/HZJ913XoQ6
— O Tempo (@otempo) July 11, 2025“É uma sensação muito ruim, uma sensação de impotência e raiva, tudo junto. Na hora, passa um milhão de coisas na cabeça. Até hoje eu ainda tenho um pouco de trauma pelo que aconteceu, mas continuo andando de moto porque é uma coisa que eu gosto muito, então eu decidi não parar. Mas ainda fico com medo de sofrer outro assalto”, desabafou Bruno Brugnara.
Escalada de crimes assusta
Fundador do movimento SOS Motos, o engenheiro de produção civil Fred Nerys, de 45 anos, relatou que casos de furtos já eram comuns em Belo Horizonte e Minas Gerais, mas os de roubos, com o uso de armas de fogo e violência, se tornaram mais frequentes em 2025, como confirmam os dados da Sejusp-MG.
“Desde que eu me conheço por gente, acontecem furtos. Mas estamos vendo cada vez mais casos de roubos. Quatro dias depois que o Bruno foi roubado, houve outro caso. As pessoas estão assustadas com a escalada desse crime na nossa capital. A gente quer que os bandidos que são presos sejam punidos da forma correta. Vemos muitos deles sendo detidos e liberados rapidamente. Eles precisam ficar na cadeia, até para servir como exemplo para outros”, afirmou Fred Nerys.
Situação parecida no estado
Quando os números de roubos de motocicletas são analisados em todo o estado, também é verificado aumento nos casos. De janeiro a maio de 2024, foram 528 registros, contra 657 em 2025, elevação de 24,4% nas ocorrências registradas no mesmo período.
Já em relação aos furtos, no mesmo período, houve crescimento de 7,51% nos registros em Minas Gerais, passando de 4.583 para 4.927. Na capital, o número foi de 1.830 para 2.192, elevação de 19,78%.
Em 12 dias, alvo do crime por duas vezes
Uma das vítimas do crime é Warlen Simão, de 49 anos, que trabalha como motoboy e passou por duas situações de furto em um intervalo de 12 dias. Em 19 de abril deste ano, o morador de Contagem, na Grande BH, foi a uma consulta no Hospital Metropolitano Odilon Behrens, no bairro São Cristóvão, na região Noroeste da capital, e deixou a moto estacionada na rua. Ao retornar, o veículo não estava mais lá.
Ele comprou uma moto nova e, em 1º de maio, parou em um shopping no Barreiro para realizar uma entrega. Ao retornar, criminosos tinham levado a motocicleta, modelo 2024/2025.
“No total, tive prejuízo de R$ 36 mil com os furtos das motos, fora o trauma. É uma sensação de revolta e impotência. Lembro que eu chorei bastante na segunda vez. Agora eu alugo uma motocicleta pelo valor de R$ 260 por semana e faço meus serviços. Tenho quatro filhos e uma casa para sustentar, então não dá para ficar parado”, contou.
O que dizem as autoridades
Questionada pela reportagem sobre o que é feito para coibir roubos e furtos de motocicletas em BH, a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) respondeu que conta com o Núcleo de Prevenção aos Furtos e Roubos de Veículos, que tem por finalidade estabelecer estratégia para atuação efetiva na redução dos indicadores de crimes violentos contra o patrimônio, furtos e roubos de veículos. “Somam-se as ações gerenciais, os contatos realizados com a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) como forma de compartilhar informações de Segurança Pública e aumentar a capilaridade de ação efetiva, eficaz e eficiente”, informa a nota da corporação, assinada pelo Comando de Policiamento da Capital.
Já a PCMG foi questionada pela reportagem sobre operações realizadas para combater receptação, desmanche e adulteração de motos roubadas, além do número de prisões relacionadas a este tipo de crime e veículos recuperados, e esclareceu apenas que não há campos parametrizados que permitam estratificar os dados solicitados.