Imagina você levar sua família para aproveitar o fim de semana em um dos parques de Belo Horizonte, ir ao banheiro e se deparar com a falta de tampa no vaso sanitário? Ou então querer beber água e o bebedouro estar sem torneira? Infelizmente, essa é uma realidade que tem se tornado bastante frequente nessas áreas de lazer na capital mineira.
O que pode parecer algo pequeno, como uma simples torneira, acaba se tornando um grande prejuízo. Isso porque Belo Horizonte possui 81 parques espalhados pelas nove regionais da cidade.
A reportagem do Super Notícia foi a quatro desses parques, nas regionais Noroeste, Centro e Pampulha, ao longo de três dias, e confirmou que todos eles já foram alvos de criminosos. Na calada da madrugada, eles invadem os locais e furtam o que conseguem encontrar de valor, principalmente peças de metal. Funcionários relataram que é comum chegar no dia seguinte para trabalhar e dar falta de uma torneira no banheiro, de uma torneira no bebedouro, do acabamento de descargas e até mesmo de fios, lâmpadas e tampas de vasos sanitários.
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“Como não temos vigilante à noite, eles aproveitam esse período e a madrugada para invadir. Esses delitos já acontecem há muito tempo. Já roubaram todas as torneiras do parque, pia do banheiro, espelho, fechadura e até tentaram levar o bebedouro. No mês passado, em menos de 15 dias, furtaram duas vezes as torneiras. Deixa a gente chateado, um parque muito bom, frequentado por muitas famílias, mas tem gente que vem para prejudicar”, relata um funcionário do Parque Ecológico e de Lazer do Bairro Caiçara, na região Noroeste, sob condição de anonimato.
Os casos são tantos, que fizeram acender um alerta na Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e levou à adoção de diversas medidas, como aumento da vigilância, troca de materiais metálicos por plásticos e instalação de mais câmeras, na tentativa de minimizar as chances de furtos.
Uma onda de furtos nos parques municipais de Belo Horizonte tem causado preocupação para a Prefeitura de BH. Durante a madrugada, suspeitos invadem esses espaços de lazer e levam tudo o que acham de valor, desde torneiras de metal a cercas. pic.twitter.com/ACsoUSRUak
— O Tempo (@otempo) July 4, 2025“Depois que vimos que as peças de metal eram frequentemente furtadas, trocamos o que pudemos por plástico, como por exemplo as torneiras de banheiros e bebedouros. As tampas das privadas, a gente nem repõe mais, porque sabemos que serão furtadas", explica Clair Benfica, diretor de parques da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica.
Além disso, a PBH também tem reforçado o sistema de segurança nos parques da cidade. Clair Benfica comenta que há a preocupação de realizar um trabalho integrado entre diversas secretarias e órgãos, visando reforçar a segurança e coibir os crimes.
"Estamos ampliando o número de câmeras e também de vigilantes, além de ter mais guardas municipais. Mas temos que lembrar que são 81 parques, cada um com suas particularidades. Alguns possuem vigias 24 horas, outros não, por exemplo. Mas sim, sabemos que precisamos melhorar e estamos trabalhando para isso", diz Clair.
Um parque que passou por mudanças significativas no esquema de segurança foi o Parque Ecológico Vencesli Firmino da Silva, que fica no bairro Alípio de Melo, na região Noroeste de Belo Horizonte. Até o fim do ano passado, o local contava apenas com vigia durante o dia, mas passou a ter mais um durante a noite.
"Nos últimos quatro anos, os furtos cresceram muito. Era torneira do banheiro, do bebedouro, suporte de papel toalha. O último registro foi em setembro de 2024. Em janeiro deste ano, passamos a contar com vigias 24 horas, então não tivemos mais problemas. Ajudou bastante", comenta um funcionário, que pediu para não ser identificado.
Outro caso marcante de furto aconteceu no Parque Municipal Ursulina de Andrade Mello, que fica no bairro Castelo, na região da Pampulha. O local já foi três vezes alvo de criminosos, que chegaram a levar aproximadamente 200 metros da cerca de proteção.
"As pessoas precisam entender que tudo isso gera um custo significativo para a prefeitura. Mas o recurso não é nosso, ele é de toda a população, que contribui para o bom funcionamento da cidade. O dinheiro que usamos para substituir uma torneira furtada poderia ser investido na educação, comprando um lápis, por exemplo. Dinheiro é público, é de todos nós. Temos que cuidar para usufruirmos com conforto e segurança", conclui Clair.
Questionada pela reportagem sobre o número de furtos que aconteceram nos últimos anos e o consequente prejuízo financeiro, a Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica respondeu que não é possível mensurar esses números. A entidade informou que os itens furtados até 2024 foram integralmente repostos. Dos subtraídos em 2025, cerca de 90% já foram repostos, e os demais estão em processo de aquisição.
Visitantes
O aposentado Sérgio Barbosa, de 67 anos, frequentador assíduo do Parque Ecológico e de Lazer do Bairro Caiçara, conta que sabe dos problemas dos furtos no local, mas que os responsáveis pela conservação conseguem repor com agilidade.
"É mangueira, torneira. Quase todo dia a gente sabe que isso acontece. Mas a prefeitura, pelo menos aqui, consegue repor rápido, sem problema nenhum. Não somos prejudicados diretamente por conta disso", avalia.
Já no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, no centro de BH, a reportagem do Super Notícia ouviu muitas reclamações sobre a falta de segurança, até mesmo durante o dia. "É um local muito prazeroso, mas acho que falta um pouco mais de segurança. Quase não vejo guardas municipais fazendo rondas e poucas câmeras. Ainda mais que vêm (ao local) muitas famílias com crianças pequenas. Então acho que é muito importante eles terem esse cuidado maior", afirma Pâmela Teixeira, de 31 anos, cuidadora de idosos.
Alzira Nascimento, de 62 anos, acha que seria importante aumentar o efetivo de profissionais de segurança circulando pelo parque. "Em um local tão grande como esse, seria muito importante ter mais patrulha, aumento da segurança física mesmo, vigilantes e guardas circulando. Quem sabe até um posto policial próximo ao parque, para haver uma ação mais rápida, se necessário", pondera ela, que também é cuidadora de idosos.
Respostas
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que os parques da capital têm câmeras de segurança, porteiros e vigias (principalmente à noite). Além disso, equipes da Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte realizam patrulhamento preventivo contínuo. As medidas foram adotadas para aumentar a segurança e evitar os furtos, ainda segundo a administração municipal.
Em relação a quantos parques possuem vigilância 24h, a PBH não respondeu até a publicação desta matéria.
Questionada sobre o número de boletins de ocorrência registrados sobre crimes de furto, depredação e contra o patrimônio nos parques de Belo Horizonte, a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), não respondeu até a publicação desta matéria.
A corporação, por meio do Comando de Policiamento da Capital (CPC), disse que vem intensificando ações e operações preventivas e repressivas em Belo Horizonte com a mobilização de diversas modalidades de policiamento que integram o portfólio da Instituição, com o objetivo de coibir furtos e aumentar a sensação de segurança da população. Nesse contexto, foi destacado que o planejamento operacional da PMMG é constantemente revisado com base na análise criminal, priorizando locais e horários de maior incidência de delitos.
Denúncia
Denúncias e informações sobre situações suspeitas de furtos realizados dentro dos parques podem ser feitas, a qualquer momento, pelo telefone 153, da Guarda Municipal, ou pelo 190 da Polícia Militar.