A Justiça mineira decidiu que a delegada Monah Zein não será levada a julgamento por tentativa de homicídio. A juíza Ana Carolina Rauen entendeu que não ficou comprovado que a delegada teve a intenção de matar os policiais civis envolvidos na ocorrência — relembre o caso abaixo.
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O caso ocorreu em novembro de 2023, quando Monah se trancou em casa e fez uma transmissão ao vivo mostrando a negociação com agentes das forças de segurança no bairro Ouro Preto, na região da Pampulha, em Belo Horizonte.
Monah foi denunciada por quatro tentativas de homicídio, após atirar contra policiais civis durante uma intervenção em sua residência. No entanto, ao analisar o caso, a juíza concluiu que não houve intenção clara de matar e que os disparos não foram direcionados de forma certeira contra os agentes.
A magistrada também destacou que a delegada estava em estado emocional abalado e que reagiu por impulso após ser atingida por uma arma de choque.
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"Analisando todo o acervo probatório, especialmente a prova oral colhida na Audiência de Instrução e as imagens afetas ao presente caso, verifico que, na verdade, uma situação delicada, que demandaria uma atenção especial da Instituição, acabou tomando proporções que fugiram do controle", afirmou a juíza.
Na decisão, ela revogou as medidas cautelares impostas anteriormente, como a proibição de contato com as vítimas e o porte de arma. Um dos disparos será analisado por uma vara criminal comum, e o caso será encaminhado para outro juiz, que ficará responsável pela nova acusação.
Relembre o caso
A confusão envolvendo a delegada Monah Zein teve início na manhã do dia 21 de novembro, mas se tornou público na tarde do mesmo dia, após a policial fazer uma live em seu Instagram mostrando o interior de seu apartamento enquanto negociava com outros agentes, que estavam do lado de fora. Nas imagens, a mulher aparecia, inclusive, portando uma arma que, em dado momento, foi jogada para fora de casa por ela em frente às câmeras.
Monah relatou ainda, durante a transmissão ao vivo, que, às 9h30, colegas teriam ido até a casa dela depois dela enviar mensagens em um grupo dizendo que não retornaria ao trabalho. Depois de conversar com os policiais, ela teria então retirado o interfone da casa do gancho, o que os levou a chamar o Corpo de Bombeiros e a polícia. “Eles não querem me ajudar, eles querem fazer o cenário onde eu estou louca, doente, armada, perigosa, sendo que não existe isso", disse a delegada durante a live.
A mulher também admitiu ter atirado contra colegas de profissão. “Quatro homens armados, com escudo, para tirar minha arma? Sendo que eu estou trabalhando normal, eu só avisei que não vou para a delegacia e eles vêm aqui fazer esse transtorno? Fazer eu dar seis tiros na escada de incêndio?", falou Monah. A informação de disparos dentro da casa foi confirmada no primeiro dia pela Polícia Civil, por nota.
A denúncia
Em agosto de 2024, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) ofereceu denúncia contra a delegada Monah Zein. Durante a tentativa de negociação, a delegada atirou contra a porta, motivo pelo qual o MP pediu a condenação por quatro tentativas de homicídio contra policiais civis.
“A denunciada, agindo com dolo homicida, tentou matar os policiais civis no exercício da função e em decorrência dela, somente não consumando o crime por circunstâncias alheias a sua vontade”, cita o MP. Conforme o promotor Gustavo Augusto Pereira de Carvalho Rolla, a delegada se opôs à execução de ato legal, praticado pelos policiais civis, além de outros agentes públicos que os auxiliavam, mediante violência e grave ameaça, inclusive com o emprego de arma de fogo.
Segundo a denúncia, equipes especializadas da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros foram até o endereço da mulher, em 21 de novembro do ano passado, para conversar e garantir a saúde física e mental da servidora, já que ela não foi trabalhar e realizou postagens suicidas em grupo corporativo de WhatsApp. O promotor alega que “desde o início da abordagem, a denunciada insistia que não precisava de ajuda, porém demonstrava grande excitação e agressividade em seu comportamento, o que revelava, para as equipes atuantes, a necessidade de continuidade da ação”.
A denúncia aponta ainda que “diante do estado de animosidade da denunciada, associado ao fato de a denunciada estar na posse de arma de fogo”, foi necessário o empenho da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil (Core). Na parte da tarde, a delegada saiu do apartamento com uma arma de fogo em mãos, passou pelo hall do elevador, pela porta do tipo “corta-fogo” e entrou na sala onde estavam os policiais civis. Ela teria apontado a arma para os colegas e ameaçou atirar caso eles não fossem embora.
“Consta que, naquele momento, a denunciada se aproximou de uma das vítimas e bateu com o armamento no escudo balístico operado por ele, momento em que outra vítima, utilizando-se de dispositivo eletrônico denominado spark, efetuou um disparo contra a denunciada, porém essa medida não foi eficaz. Consta que, na sequência, a denunciada efetuou disparo com a arma de fogo que portava na direção da primeira vítima, que, naquele momento, na condição de negociador, encontrava-se desarmado, não atingindo a referida vítima por erro de pontaria, já que o disparo acertou a parede próxima à qual se encontrava a vítima e a poucos centímetros da região de sua cabeça”, detalha o promotor.
Depois disso, um policial teria atirado com bala de borracha, mas sem acertar a delegada. Ela retorna para o apartamento e atira outros disparos em relação à equipe, também sem acertar ninguém. O Ministério Público pediu que a delegada responda a quatro tentativas de homicídio qualificado, por ser cometido contra agente de segurança pública.