“Meu irmão morreu fazendo o que ele amava. Vibrava com a profissão”. A frase é de Fernando Alves, irmão do policial penal Euler Pereira da Rochaa, de 42 anos, assassinado na madrugada deste domingo (3/8), dentro do Hospital Luxemburgo, em Belo Horizonte, por um detento que ele escoltava. O corpo do agente foi sepultado na manhã desta segunda (4/8), no Cemitério Municipal de Justinópolis, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de BH, sob forte comoção.

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Euler trabalhava há 15 anos na Polícia Penal e era conhecido entre familiares e colegas pelo compromisso com o trabalho. Para Fernando, que também atua na área da segurança - ele é bombeiro militar , a paixão do irmão pela profissão era evidente. “Ele fazia questão de demonstrar o orgulho que sentia. Quando ingressou na Polícia Penal, ele abraçou aquilo com tudo. Era vocação. E não foi só ele. Nosso pai também era da segurança, então isso sempre esteve no sangue”, contou, emocionado.

Segundo Fernando, Euler tratava os presos com humanidade, o que torna o crime ainda mais difícil de aceitar. “Ele já tinha acompanhado esse mesmo detento outras vezes ao hospital. Sempre tratou com respeito, como ser humano. Não via como bandido, e sim como alguém sob custódia do Estado. E foi justamente essa pessoa que tirou a vida dele de forma covarde. É duro”, desabafou.

“Entendemos que é uma profissão de risco. Toda profissão na segurança pública é. Mas a gente nunca está preparado pra perder alguém assim, de forma tão brutal. Meu irmão estava exercendo o dever dele, como sempre fez, e pagou com a vida”, acrescentou o bombeiro.

Apesar da dor, Fernando diz confiar na Justiça. “Acredito, sim. Confio que a justiça será feita. Em nome de Deus.”

“Perdi meu segundo filho”

A dor do assassinato também abalou profundamente Arlete Alves, irmã de Euler. Ela revelou que a mãe dos irmãos, já fragilizada após perder o neto mais velho há menos de dois anos, está internada com dengue e não pôde comparecer ao velório. “Ela não tem forças. Não conseguiu ficar em pé. A cabeça dela não suporta mais uma tragédia como essa”, disse.

Arlete se referiu ao irmão caçula como “um segundo filho”. “Sou quase 13 anos mais velha. Quando minha mãe saía pra trabalhar, eu que cuidava dele. Crescemos juntos, e ele sempre dizia que eu era a segunda mãe dele. Eu estou com o coração em pedaços. Nunca pensei em viver isso”, disse.

Segundo Arlete, Euler era presente na vida dos filhos e muito ligado à família. “Ele deixou três filhos: um de 18, um de 13 e um de apenas 5 anos. A gente tentava sempre reunir todo mundo. O pequenininho ainda não entende direito. Ele só disse: ‘Mataram meu pai’. É doloroso demais”, completou.

Golpe doloroso para a categoria

O presidente do Sindicato dos Policiais Penais de Minas Gerais, Jean Otoni, lamentou profundamente a morte de Euler e classificou o crime como um golpe doloroso para toda a categoria.

"É um dia triste para a Polícia Penal. O que aconteceu com o nosso irmão de farda pesa ainda mais porque somos uma classe que já enfrenta muitos desafios. Fazemos mais com menos. Mesmo assim, seguimos firmes”, afirmou.

Jean destacou que a paixão de Euler pela profissão era algo comum entre os servidores. “Quando fazemos o curso e colocamos a farda, é para garantir tranquilidade à sociedade e manter a ordem. Tenho certeza de que ele fazia isso com dedicação e paixão. É revoltante perder alguém assim, no exercício do dever”, completou.

O caso

Euler foi assassinado por um detento de 24 anos, que estava internado no hospital desde o dia 27 de julho, tratando de um quadro de tuberculose. Segundo o boletim da Polícia Militar, o preso entrou em luta corporal com o agente e conseguiu tomar sua arma, disparando duas vezes. Euler ainda foi socorrido por profissionais da própria unidade, mas não resistiu.

Após o crime, o detento fugiu usando o uniforme do policial penal e foi capturado pouco depois, em um carro de aplicativo. Com ele, foram apreendidas a arma usada no assassinato, outras duas pistolas, 65 munições e 41 carregadores pertencentes ao agente.

A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) lamentou a morte do servidor e instaurou procedimento administrativo para apurar o ocorrido. A investigação criminal está sendo conduzida pela Polícia Civil de Minas Gerais.