Reféns de um calendário impiedoso e longe de ter elencos com fartas opções, os clubes brasileiros serão sempre questionados quando optarem por poupar jogadores. Quando vencem mesmo com os reservas, serão aplaudidos pela estratégia. E, claro, serão muito criticados quando o resultado não vem.
O debate foi reacendido neste sábado, após a derrota do Atlético para o Bahia no Independência. De olho nas semifinais da Copa Sul-Americana, o Galo colocou em campo apenas dois titulares - coincidentemente, um deles, Igor Rabello, estava na marcação de Gilberto, que fez o gol do time baiano. As perguntas que ficam são as de sempre. Poupar ou não poupar jogadores no Campeonato Brasileiro? E, quando for poupar, qual a melhor maneira de fazer isso?
Na minha opinião, os clubes andam deixando o Brasileirão muito em segundo plano, o que pode ser um risco. Vale lembrar que, a partir desta edição, a classificação tem reflexos nos valores das cotas de TV recebidas. Isso sem contar o prêmio dado pela CBF. Além do aspecto financeiro, tem o técnico. Um eventual fracasso na competição priorizada pode causar um fracasso irreversível. Nem sempre vai ser possível se recuperar no Brasileiro a tempo de, por exemplo, resgatar uma vaga em uma competição continental.
Portanto, para mim, poupar uma equipe praticamente inteira, como fez o Atlético, é um erro. Nesse caso específico, pode custar ao Galo uma vaga no G-4 ou no G-6 no fim do Brasileiro. O jogo contra o Bahia era em casa e uma alternativa seria colocar mais titulares em campo ou, ao menos, deixar alguns desses titulares no banco de reservas. Um jogador como Cazares, por exemplo, pode fazer muita diferença mesmo jogando pouco tempo.
Os pontos perdidos no Brasileirão não voltam. Por mais importante que seja a Sul-Americana, dividir as atenções seria o ideal. Vencer a competição continental é mais do que importante, na minha opinião, diga-se de passagem. Deve ser valorizada e todos devem entender os benefícios de uma conquista internacional e seus reflexos. O que não significa correr o risco de abrir mão de pontos preciosos no torneio nacional.
Às vezes, a opção por poupar dá certo. O Grêmio se deu bem em 2017 ao vencer a Libertadores, mas administrou o Campeonato Brasileiro e garantiu uma vaga no G-4 - apesar de, na época, ter capacidade de disputar o título. O Cruzeiro arriscou no ano passado apostando as fichas nas copas. Ficou em oitavo no Brasileiro, mas levou a Copa do Brasil e se garantiu na Libertadores deste ano - assim como o Grêmio, se tivesse se dedicado ao Brasileirão, poderia brigar lá em cima. Nesses casos, como levantaram taças e/ou se garantiram na principal competição continental, a estratégia funcionou. Ainda me pergunto se vale sempre correr o risco e ficar no limite.