Lembranças

Cuca: superstições, histórias e polêmicas na passagem pela Toca

Treinador deixou o Cruzeiro com apenas um título, o Mineiro de 2011

Por Josias Pereira
Publicado em 15 de agosto de 2018 | 15:46
 
 
 
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Cuca, apesar de ter uma ligação muito mais profunda com a torcida do Atlético, fruto da conquista da Libertadores de 2013, o título mais importante da carreira do treinador, esteve no Cruzeiro entre 2010 e 2011. Chegou ao clube como substituto de Adilson Batista e quase levou a Raposa ao título brasileiro de 2010, uma campanha que ficará marcada pelo icônico jogo contra o Corinthians, no Pacaembu, e o questionável pênalti dado por Sandro Meira Ricci em Ronaldo Fenômeno. A reação de Cuca na entrevista coletiva pós-jogo também está na memória do torcedor, um pouco da mostra da característica sanguínea do comandante. 

No Cruzeiro, Cuca viveu altos e baixos. Foi campeão mineiro em 2011, revertendo uma vantagem que era do arquirrival Atlético, e quando todos apontavam para um caminho feliz na Libertadores, a eliminação para o Once Caldas, nas oitavas de final, veio como um pesadelo. Uma cena repetida na vida do treinador, que à época era sempre questionado pela ausência de grandes títulos, e que sofreu nas mãos dos colombianos em 2004, quando o São Paulo, sob seu comando, deu adeus ao torneio continental justamente em um mata-mata contra o Once Caldas. 

"Ele nunca gostou do Once Caldas e fez de tudo para eliminá-los quando estava aqui", recorda Rodrigo Genta, ex-funcionário da TV Cruzeiro. 

Essa fixação pode ter sacramentado o fim do time apontado como o "Barcelona das Américas", apelido que aquele elenco nunca quis como marca. E por tanto idealizar passar a qualquer custo, Cuca falhou. Teve até agressão ao atacante Rentería à beira do gramado.

Cuca Deixou o Cruzeiro com certos desentendimentos com o grupo e um péssimo posicionamento no Campeonato Brasileiro.  

"A passagem dele por aqui teve algumas poêmicas, algumas situações e tal, mas é um treinador de muita experiência, tático, que arma bem suas equipes, tem variações de jogada. É um treinador que observa bastante o adversário. Vamos tentar buscar vencer essas questões", analisa o zagueiro Léo, um dos jogadores que, em 2011, não gostaram nada das declarações de Cuca sobre o elenco do Cruzeiro e uma falta de sintonia com o comando. "O problema não era o grupo", salientou Léo, à época. "Ele sempre colocava o cargo dele à disposição a cada partida", completou o defensor. 

Um capítulo turbulento em uma relação que tinha tudo para ser vitoriosa. "Andávamos sempre com um banner que tinha um carro do corpo de bombeiros. A cada jogo, a gente diminuía a contagem em relação ao título brasileiro de 2010. Teve uma vez que esqueci esse banner e foi uma confusão danada", conta Rodrigo Genta. Superstições que sempre acompanharam Cuca por onde ele passou. 

"Fomos jogar em Teófilo Otoni e o ônibus encontrou um problema para estacionar. A solução apontada era entrar de ré. O Cuca, ao saber disso, já pulou da poltrona e falou que não ia dar ré de jeito nenhum. Tivemos que descer onde estávamos e passar no meio da torcida. Após a partida, quando o ônibus já estava pronto, precisamos dar uma ré. Todo mundo já olhou para o Cuca e ele disse que agora podia.  Ele jamais entrou em um estádio de ré. Dá má sorte", complementa Genta. 

Cuca também sempre foi um brincalhão e faz até hoje dos CTs dos clubes por onde passa a sua própria residência. "Ele tinha um apartamento alugado ali no prédio que as pessoas chamam da "Cemig", atrás do Diamond Mall, mas quase todo dia dormia na Toca da Raposa. Antes de subir para o quarto, passava por nós com uma caixa de bombons e dizia que ia ver filme", relata Guilherme Mendes, ex-diretor de comunicação do Cruzeiro. 

Guilherme que sofreu com as peripécias de Cuca. "Pendurou uma pedra de gelo no bagageiro do avião. Eu estava dormindo em um voo de madrugada. Acordei com a água pingando na minha cabeça". Uma das várias histórias do treinador. "Quando alguém levantava da mesa no refeitório para pegar um suco ou qualquer coisa e deixava o prato lá, era o momento do Cuca aterrorizar. Jogava tudo o que tinha na comida da pessoa", diz Rodrigo Genta.

Um treinador que na Raposa mostrava o lado estratégico. "Ele subia para os quartos do hotel da Toca na quinta com várias anotações dos adversários e saía na sexta com tudo na ponta da língua. Virava e falava que era o caminho da vitória e executava nos treinamentos tudo que tinha estudado", explica Guilhemre Mendes. 

Mas Cuca, sanguíneo como sempre foi, também não aliviava. "Tinha uma salinha na Toca que quando ele chamava um atleta era só para dar bronca. E ele não perdoava mesmo. Era um sabão daqueles", define Genta, que também ressalta o espírito carinhoso do comandante. "Ele ajudava muitos funcionários do clube com cestas básicas e mostrou todo o carinho com o Montillo, quando da situação da internação do filho do argentino, o Santino", destaca o ex-funcionário celeste.

Histórias de um dos mais folclóricos comandantes do futebol e que hoje volta a encontrar o Cruzeiro, no Mineirão, pelo jogo de volta das quartas de final da Copa do Brasil. Quando a bola rolar, a amizade estará de lado. Um novo capítulo nesta relação, que possui até um 6 a 1 histórico na conta de Cuca, será revelado. 

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