Dia das mães

Mãe de Daniel Jr., do Cruzeiro: "Só a gente sabe da barra que enfrentou"

Mãe de meia-atacante do Cruzeiro abre o Coração e fala sobre a vida e a carreira do filho jogador

Por Frederico Teixeira
Publicado em 08 de maio de 2022 | 05:00
 
 
 
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"Ser mãe de jogador de futebol é sofrer um mini infarto quase todos os dias". Assim resume, de forma bem humorada, Miriam Santos Melo, de 38 anos, mãe do meia-atacante Daniel Jr, do Cruzeiro. A pressão por resultados, o medo das contusões e as cobranças excessivas (e muitas vezes 'desonestas') seriam alguns dos motivos de tamanha preocupação.

"Recentemente, o Júnior teve um problema pessoal e mesmo assim foi para o jogo contra o Bahia e não foi bem. Nas redes sociais, muitas críticas. Nessas horas, o coração de mãe fica apertado. Dá vontade de criar um perfil fake só pra detonar esse povo", afirma.

Os caminhos de uma mãe de jogador de futebol geralmente são tortuosos, afinal, é uma minoria que consegue realizar o 'sonho de criança'. "A gente sabe que é um em um milhão que consegue virar profissional. Não imaginava, nem passava pela cabeça (que ele seria jogador profissional). Quando ele tinha quatro anos, o pai até comentava: 'esse menino chuta bem'. Um vizinho nosso já falou: 'esse menino vai ser jogador'. Mas era algo muito distante", diz Miriam.

Só com o passar do tempo que a mãe foi entendendo a dimensão que o futebol passaria a ter para o filho. "Daniel Jr nunca gostou de carrinho, boneco. Para ele, brinquedo era bola. Se não tivesse uma, ele fazia uma bola. Em aniversário ele não brincava com as crianças, não ia em pula pula... Já chegava chutando tampinha de garrafa", conta. O caminho parecia bem trilhado.
 
Mas, no "mundo real", a realidade muitas vezes costuma 'atravessar' os sonhos. "Eu era manicure e o Daniel pai trabalhava com serigrafia. Chegamos a viver momentos em que a situação financeira era muito ruim mesmo. A gente só tinha dinheiro pra comprar uma refeição. E a gente deixava para o Daniel. Eu mandava a Eduarda, minha filha mais nova, almoçar na casa da tia, o Daniel pai almoçava no serviço, eu ia pra casa de minha mãe", revela Miriam, emocionada.

E os obstáculos quase fizeram Daniel Jr desistir. Mas a mãe não deixou.  "Quando ele tinha 14 anos, vendo a situação de dificuldade financeira que a gente estava passando, falou que ia desistir do futebol para ajudar a família: 'Vou trabalhar na padaria do pai de um amigo, para ganhar R$ 1 mil'. Passei dois meses chorando. A situação era mesmo muito difícil, mas a gente não deixou. Já tinha chegado até ali, tinha que seguir com o sonho", relembra Miriam.

E a perseverança deu resultado e Daniel Jr começou a se destacar no time júnior do Palmeiras. Foi quando apareceu o primeiro 'fantasma' das lesões. O jogador teve uma lesão grave e perdeu praticamente um ano inteiro. Quando voltou, acabou perdendo espaço e chegou a treinar com o sub-16.
"Várias vezes deu vontade de falar para ele chutar o balde. Mas a gente não o deixava desistir. E fazia ele ir treinar. Mas era um ódio por dentro", revela Miriam. "A gente nunca deixou ele desistir. A gente sabia do seu potencial. Sempre trabalhou muito, sempre foi muito esforçado", acrescenta.

Quando Daniel se transferiu para o Cruzeiro - "no dia 15 de março de 2021", faz questão de destacar, a ideia era que ele ficasse morando na 'Toquinha', alojamento dos jogadores da base da Raposa. Mas a distância da mãe e da família falou mais alto. "Passados 15, 20 dias, ele ligou e falou: não vou ficar aqui sozinho", diz Miriam.

"Para investir no sonho dele, deixamos tudo para trás. A gente tinha nossas raízes em São Paulo. No início foi muito difícil. Até tentava não deixar que ele percebesse, mas eu não tinha nem como disfaçar, pois ficava sempre com os olhos inchados. Ele vinha e me perguntava: 'Mãe, porque você chora tanto?' Eu respondia que era saudade dos meus sobrinhos"...

Se valeu a pena? Miriam não tem dúvidas: "Daniel Jr sempre foi um filho muito bom. Claro que teve alguns momentos, coisa de adolescente mesmo. Mas mesmo quando a gente 'brigava' com ele, abaixava a cabeça, deixava a lágrima cair, mas nunca se revoltou, nunca alterou a voz com a gente. É gratificante. Só a gente sabe da barra que enfrentou".

Questionada sobre o presente que gostaria de receber neste Dia das Mães, Miriam foi direta: "Quem sabe um golaço? Ou talvez a renovação do contrato? Seria, sem dúvidas um presentão!", finaliza. A torcida celeste torce para que ela seja atendida em seu 'pedido'.

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