Em 2022, o mundo voltará seus olhares para o Catar. O país será palco da primeira Copa no Oriente Médio, e os altíssimos investimentos no torneio são sempre destacados. Estádios tecnológicos, luxuosos e verdadeiras obras de arte da engenharia e também arquitetura, comprovando o toque de Midas dos xeques e magnatas do petróleo, que não sabem mais onde armazenar seus lucros. Um ambiente que também está envolto em denúncias de corrupção e fraude na escolha do Catar como sede da próxima Copa. A balança em um meio tão duvidoso sempre pesa para o lado mais fraco, o dos trabalhadores. É isso que o documentário “The Worker’s Cup”, em português, “A Copa dos Trabalhadores”, lançado em 2017 e dirigido por Adam Sobel, retrata. A realidade que aflige milhares de operários, alguns deles iludidos com promessas enganosas no Catar, principalmente africanos e asiáticos.

A produção está disponível aos assinantes dos canais “ESPN” por meio da plataforma “Watch ESPN”. O filme tem a duração de 1 hora e meia e apresenta situações estarrecedoras dos quase 1,6 milhões de trabalhadores que estão no Catar construindo a infraestrutura necessária para o próximo Mundial. Estima-se que, atualmente, 60% da população do Catar é formada por operários vindos da Índia, Nepal, Bangladesh, Filipinas e, principalmente, da África, alguns dos países mais pobres do mundo. Gente simples que recebe um salário irrisório por longas horas de trabalho e ainda mora em assentamentos que, pela lei, são estrategicamente construídos fora dos limites das grandes cidades do país.

O absurdo é tão grande que, em determinada parte do documentário, um operário relata seu trabalho na construção de um shopping no Catar onde os trabalhadores são proibidos de compartilhar o mesmo espaço dos consumidores abonados do local. Algumas histórias relatam também o drama de africanos que tiveram como promessa uma carreira no futebol do país, mas quando chegaram ao Catar se depararam com o trabalho braçal e pesado dos canteiros de obra da Copa de 2022.

O documentário se passa durante uma competição de futebol para os operários, chamada de a “Copa dos Trabalhadores”, em que times de diferentes companhias responsáveis pelas obras no Catar se enfrentaram. E nesse enredo os personagens vão de heróis em campo à base mais frágil da pirâmide social que os cerca. Há o confronto com a triste realidade de pessoas esgotadas da esperança que as motivou a ir ao Catar. A próxima Copa, sem dúvidas, pode impressionar o observador, mas possui uma ferida impossível de ser curada.