É do meio das montanhas de Ouro Preto, a cerca de 100km de Belo Horizonte, que são formados alguns dos maiores talentos da ginástica de trampolim do Brasil.

O maior nome que saiu do Instituto Trampolim é Alice Hellen, ginasta do Minas e integrante permanente da seleção feminina do Brasil nos últimos anos. Alice segue na briga por uma vaga na Olimpíada de Tóquio e suas chances de estar nos Jogos seriam ainda maiores caso o evento contasse com a disputa por equipes, ao lado de Camilla Gomes. 

Alice é um dos maiores prêmios do Instituto, gerido por Estácio Fonseca da Costa e que atende um total de 200 jovens. O projeto na cidade existe há 17 anos, mas o instituto só foi formado em 2017, para facilitar na captação de apoio de projetos da Lei de incentivo ao esporte a nível federal e estadual. Outro nome que saiu de lá para vestir a camisa do Brasil é de Lucas Tobias, que teve a chance de integrar a seleção na Missão Europa, em 2020, ao lado de Alice. 

"A Alice é uma referência pra mim e para muitos atletas. A gente começou junto em Ouro Preto, ela será sempre minha parceira. O trabalho do Instituto Trampolim é muito bem feito, sou grato a tudo que fizeram por mim até hoje. Tudo o que conquistei é mérito do Estácio. Fico feliz de saber que, assim como a Alice, eu também já sirvo de inspiração pra muitos jovens. Sempre foi meu sonho representar meu país e sabemos como viramos um espelho quando somos convocados", comenta Lucas, que foi chamado para a seleção em 2016 para a disputa do Pan da modalidade. 

Entre as principais conquistas, estão o de campeão mundial em 2017 e vice-campeão mundial em 2018 no duplo mini, 3º lugar no individual do Sul- Americano de 2017 e 2º no sincronizado, em 2018, no Pré Pan-Americano. O sonho de Lucas não poderia ser outro a não ser chegar a uma Olimpíada. 

Se Lucas é grato a Estácio, a palavra que define o que ele fez por Alice é algo maior ainda. Alice foi acolhida pelo treinador nos seus primeiros anos na modalidade. Estácio a levou para dentro de sua casa, algo que nunca havia feito nem se repetiu com nenhum outro atleta. 

"Ela já era uma menina muito especial e talentosa e precisou de muito apoio devido à ausência de uma figura paterna. Demos um suporte para ela segurar essa barra e imaginava que, se ela ficasse em Ouro Preto, ela poderia não evoluir bem. Fiz contato com o Minas e foi a partir dali que ela se desenvolveu ainda mais", destaca Estácio.

O local é referência na modalidade no Brasil, tendo conquistado cinco medalhas em Mundiais (uma de ouro, duas de prata e duas de bronze). Por ser um centro de treinamento reconhecido pela Confederação Brasileira de Ginástica, o instituto conta com equipamentos de alto nível, que contribuem bastante na formação dos atletas. 

"Isso deixa nossos atletas mais competitivos e os técnicos mais motivados. A outra importância é que a Secretaria de Esportes, representada pela prefeitura, continua a manter o projeto vivo com este destaque.

Assim, temos uma melhor condição de manter os nossos profissionais", pontua. O bom trabalho serve também para formar novos profissionais para orientar e capacitar os alunos e atletas por meio de parceria da Federação Mineira de Ginástica (FMG) com a Escola de Educação da Universidade Federal de Ouro Preto (EEFUFOP). Lá, é desenvolvido o projeto Trampolim de Ouro, com aulas sendo ministradas por alunos estagiários do curso de Educação Física. "É difícil encontrar profissionais especializados na modalidade", lembra Estácio. 

Além do alto rendimento

O gestor reconhece que o espaço físico ainda não é o ideal, tirando 'leite de pedra' da estrutura que possui. Mesmo com todas as limitações, ele segue fomentando a modalidade e fazendo alguns atletas chegarem ao nível internacional. Um dos pontos positivos do local é contar com equipamentos de ponta. 

"O instituto tem um grande potencial mas, infelizmente, fica em um local afastado, isso impossibilita de alguns pais levarem os filhos para treinar. Somos um celeiro de jovens talentos e, hoje, conseguimos manter os atletas aqui por mais tempo. A ausência de uma equipe multidisciplinar faz com que a gente ceda atletas para outros clubes para eles alçarem voos mais altos. Conseguimos formar ali uma família, acolhemos os meninos e transformamos suas vidas. Fico satisfeito com essa imagem positiva que temos na comunidade da ginástica e da própria cidade", revela. 

Além de pensar no alto rendimento, o Instituto Trampolim também serve como opção para apresentar a jovens e crianças um caminho positivo dentro do esporte, os afastando do cenário de criminalidade, violência e baixa presença escolar. 

"Esta ideia surgiu em 2003, em um programa chamado Programa Medalha de Ouro. Foi uma iniciativa da juíza da Infância e Adolescência da comarca de Ouro Preto para atender principalmente crianças e adolescentes de alta vulnerabilidade social. Foi apresentado ao programa o projeto de ginástica de trampolim, que foi aceito e hoje é administrado pelo instituto Trampolim", explica Estácio.  

Crescimento 'em casa'

Alice espera que Lucas consiga se desenvolver no Instituto, sem precisar sair da cidade e do local que o formou, contribuindo para o crescimento do projeto. "O mais importante nele é ser dedicado e objetivo. O projeto vem crescendo cada vez mais, espero que ele tenha mais apoio daqui para frente, desejo sempre tudo de melhor na vida dele. É meu amigo, um irmão. Fico muito feliz de poder ser referência para as crianças, acredito que deixei uma história marcada no Instituto e sou sempre muito grata ao professor Estácio e todos que me ajudaram. Eles sempre me motivaram a continuar e buscar novas oportunidades, o trabalho que realizam é incrível. Além de ajudar crianças carentes a praticarem esportes, dão oportunidade de serem pessoas melhores e ajudam as famílias. Por ser um projeto social, eles conseguem fazer ajustes e lapidar talentos. Hoje, o centro de treinamento de Minas Gerais fica em Ouro Preto, isso permitiu uma melhor infraestrutura", analisa Alice.