Enquanto o Brasil vive seu pior momento na combate à pandemia do novo coronavírus, com o aumento no número de casos e mortes diárias, CBF, federações e clubes começam a discutir possibilidades de retomada do futebol. A confederação sugeriu a volta dos campeonatos estaduais a partir de 17 de maio, mas isso depende do cenário e das autoridades de saúde locais.
Para o infectologista Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e membro do Comitê de Enfrentamento à Epidemia da Covid-19 da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), esta ainda não é a hora para o retorno de treinos e torneios.
"Estamos vivendo um momento de aumento do pico no Brasil inteiro. Vamos estar jogando as pessoas para o campo quando o surto está em picos maiores, o que sugeriria uma incoerência. Quando a coisa está piorando, você libera o campeonato. Neste momento, é inadequado e tem que ser feito com a máxima segurança se ele for realizado. Se possível, não fazê-lo também, mas se fazê-lo, com todas as medidas de segurança", pondera o especialista.
Para a volta do futebol no cenário em que vivemos hoje, além de realizar jogos sem público e adotar medidas preventivas, como higienização e uso de máscaras por profissionais do entorno do campo de jogo, Urbano aponta duas situações que seriam se extrema importância: o confinamento dos atletas em competição e a testagem de todos periodicamente, entre 48h e 72h antes das partidas.
"Do ponto de vista ideal, você teria que unir as duas coisas, mantê-los confinados e a disponibilidade de teste, pelo menos, uma vez por semana para todos os jogadores, para garantir que nenhum deles esteja transmitindo internamente. O confinamento mais a testagem seria uma alternativa mais segura a meu ver", ressaltou.
O Brasil não tem ainda uma vasta rede consolidada para a testagem em massa da população, mas, para o infectologista, seria possível realizá-los com frequência em grupos de atletas.
A federação, os clubes, precisariam fazer contratos com os laboratório e garantir essa testagem. Isso tudo precisaria já estar organizado, com certeza de cumprimento, para se adequar a proposta, o contrário, não teria como se fazer um campeonato. Todas as garantias precisariam ser cumpridas para se pensar em fazer os jogos, isso, para começar a discutir. Do ponto de vista da quantidade de testes, eu acho que é viável, de 200 a 300 testes por semana seria possível conseguir logística pra isso. Se não conseguir, não tem jeito, na minha opinião", analisa.
Neste primeiro momento, a retomada do Campeonato Estadual é algo mais próximo de se avaliar. Um torneio nacional, como o Campeonato Brasileiro, ou mesmo, internacionais, como a Libertadores, seriam uma temeridade muito maior. " Neste momento, ainda é prematuro, principalmente por causa das viagens, dos deslocamentos de hotel e aeroporto, principalmente em locais de alta transmissão, como Rio e São Paulo. É uma exposição alta dos jogadores. Regionalmente você tem menos riscos. Você analisa o cenário de Belo Horizonte, que ainda é confortável, não que seja zero, mas é um risco menor", explica.
Em Minas, a Federação Mineira de Futebol (FMF) já vem discutindo a possibilidade de retomada do futebol com o Centro de Operações de Emergências em Saúde (Coes), estrutura criada pelo governo do Estado para dar respostas coordenadas às ações de combate à Covid-19. "Estamos discutindo a formatação de um possível protocolo. Nem estamos cogitando (a volta do futebol) nesse momento, é mais pra frente mesmo", explica o presidente da FMF, Adriano Ano.
Membro do Enfrentamento à Epidemia da Covid-19 da PBH, Estevão Urbano tem sua opinião formada como especialista na área, mas que ainda não há um consenso sobre no grupo de trabalho epidemiológico. Com outros pontos mais urgentes da pandemia a tratar, o prefeito Alexandre Kalil ainda não solicitou um parecer sobre a retomada ou não do futebol na capital.