A Keeta, braço internacional da Meituan, maior empresa de delivery de restaurantes do mundo, começará a operar no Brasil em novembro de 2025. A companhia chinesa iniciará suas atividades com a abertura de um escritório em São Paulo, seguida pelo lançamento dos serviços de entrega na capital paulista antes do final do ano.

O Brasil representa um mercado estratégico na expansão global da Keeta, que já opera em Hong Kong e na Arábia Saudita. A empresa planeja investir cerca de US$ 1 bilhão para estabelecer sua presença no país.

Planos ambiciosos para o mercado brasileiro

A Keeta estabeleceu metas de expansão acelerada para o território brasileiro. A empresa pretende alcançar 15 regiões metropolitanas até junho de 2026 e ampliar sua cobertura para mil municípios brasileiros até 2030.

O investimento bilionário anunciado pela companhia visa não apenas criar a infraestrutura necessária para as operações, mas também formar uma rede com 100 mil entregadores nos próximos anos. Essa estratégia posiciona a Keeta como um novo competidor de peso no mercado atualmente dominado por iFood e Rappi.

O executivo Tony Qiu lidera a operação brasileira da Keeta. Qiu possui experiência relevante no mercado nacional e internacional, tendo atuado como CEO da 99 em São Paulo e como líder da divisão internacional da Kwai, plataforma concorrente do TikTok. O executivo também foi responsável pela estruturação das operações da Keeta em Hong Kong e na Arábia Saudita.

A empresa já iniciou seu processo de recrutamento no Brasil, com mais de 100 vagas abertas em diversos departamentos, incluindo jurídico, recursos humanos, desenvolvimento de produto e vendas. Essa movimentação indica o compromisso da Keeta em estabelecer uma estrutura sólida para sua atuação no mercado brasileiro.

Keeta avalia uso de drones para entregas no Brasil

A gigante chinesa avalia implementar tecnologias inovadoras em sua operação brasileira, incluindo drones e veículos autônomos para entregas. Tony Qiu, vice-presidente do grupo Meituan, revelou em entrevista à Folha de S. Paulo que a companhia já realizou mais de um milhão de entregas com essa tecnologia na China e "planeja trazê-la ao Brasil". 

O executivo, no entanto, condicionou o uso da tecnologia à regulamentação. Segundo ele, a empresa ainda não pode usar os equipamentos no país porque as regras atuais não comportam uma operação em larga escala. Na China, "você já pode pedir comida por drones da Grande Muralha", afirmou Qiu.

Desafios regulatórios para o delivery aéreo

O principal obstáculo para a implementação do delivery aéreo em larga escala, segundo a Keeta, é a regulamentação brasileira. Atualmente, uma operação comercial com drones precisa de autorizações de pelo menos três órgãos diferentes: Anac (aviação civil), Departamento de Controle do Espaço Aéreo e Anatel.

As normas vigentes exigem que os drones sejam registrados e tenham seguro contra danos a terceiros. Para voos em áreas urbanas em rotas além da vista do piloto (BVLOS), modalidade necessária para o delivery aéreo, as exigências são ainda mais rigorosas, incluindo análise de risco e autorizações especiais para cada rota.

Essa situação pode mudar em breve, já que a Anac prepara novas regras para o setor. Em junho de 2025, a agência abriu uma consulta pública para uma nova proposta de regulamentação (RBAC nº 100), visando modernizar as normas para operações de drones. A proposta, que recebeu sugestões da sociedade civil até 18 de julho, substitui a rigidez dos procedimentos atuais por mais flexibilidade, permitindo que empresas que demonstrem compreensão e mitigação de riscos possam inovar em seus modelos operacionais.

Concorrência já testou a tecnologia

O iFood, atual líder do mercado de delivery de comida no Brasil, já realizou testes com drones em duas ocasiões, em parceria com a Speedbird Aero. A primeira experiência ocorreu em 2020, em Campinas, com uma rota curta de 400 metros ligando a praça de alimentação de um shopping a um "droneport", onde um entregador completava o percurso por terra.

Em 2022, a empresa obteve a primeira autorização da Anac para realizar entregas comerciais com drones, permitindo voos em rotas de até 3 km, inclusive em áreas urbanas. Os testes foram realizados em Aracaju, onde um drone atravessou o rio Sergipe, conectando um shopping à cidade vizinha de Barra dos Coqueiros. O trajeto, que por terra levaria até 55 minutos, foi concluído em pouco mais de cinco minutos pelo ar. Apesar do sucesso dos testes, o modelo não foi expandido e ainda não se tornou um método de entrega padrão da plataforma.