Cerca de 3 milhões de pessoas participaram no domingo (2/6), em São Paulo, da maior parada LGBT do mundo. Parte do calendário oficial da cidade, a marcha é o evento que mais atrai turistas para a capital paulista, ultrapassando a Fórmula 1 e o Carnaval em número de pessoas. Ela acontece há 28 anos tradicionalmente em junho, o mês oficial do orgulho gay no mundo.
E por que junho? Em 28 de junho de 1969, gays de Nova York reagiram à violência das operações policiais no bar Stonewall Inn, em Manhattan, gerando uma revolta que durou dias e desencadeou o movimento pelos direitos civis. Desde então, desfiles prestam homenagem a Stonewall no mundo todo.
Paradas
Neste ano, mais de cem “pride parades” (“paradas do orgulho”) fazem parte do calendário mundial – a primeira ocorreu em 5 de abril, em Miami Beach, nos Estados Unidos, e a última deve acontecer em 15 de novembro, em Perth, na Austrália.
Com tema político-eleitoral, a parada deste ano pediu “um basta de negligência e retrocesso do Legislativo” e “o voto consciente por direitos da população LGBTI+”, propondo ainda uma reapropriação das cores da bandeira do Brasil.
“A parada gay de São Paulo trouxe a discussão das eleições porque as Casas legislativas estão se acovardando. Quando o Legislativo não assume seu papel, o Supremo Tribunal Federal (STF) tem que tomar decisões para cuidar dessa população. O Brasil é um país laico, e a religião não deveria guiar as Casas legislativas do país”, afirma Ricardo Gomes, presidente da Câmara de Turismo LGBT.
“Um destino só será bom para o turista LGBT se ele for bom para o LGBT que vive ali. Por isso é fundamental termos leis que protejam a comunidade e que o governante se manifeste positivamente em relação à causa LGBTI+” (Ricardo Gomes, presidente da Câmara de Turismo LGBT do Brasil)
Apesar dos avanços nos últimos anos – a criminalização dos casos de homofobia e o reconhecimento da união estável entre casais gays –, Gomes lamenta que as decisões do STF não tenham se transformado em lei.
Os mais inclusivos no Brasil
No Brasil, entre os destinos considerados mais inclusivos e acolhedores para o público LGBTI+, estão São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Recife (PE), Fortaleza (CE) e Belo Horizonte (MG). “A Bahia é o Estado que mais investe em inclusão e diversidade”, destaca Ricardo Gomes, presidente da Câmara de Turismo LGBT.
Um destino expoente é o Mato Grosso do Sul. “Bonito está inserida até a alma no turismo LGBT. O Estado tem realizado investimentos financeiros e estatísticos. Estão ainda surgindo os cruzeiros de água doce exclusivos para o público LGBTI+. O Mato Grosso do Sul se posiciona como destino acolhedor e tem até a bandeira da comunidade na logo da Fundação de Turismo”.
Para Gomes, o posicionamento do governante também faz muita diferença. “Quando o poder público se manifesta positivamente, as empresas o acompanham”.
Segurança
Cerca de 92% dos viajantes LGBTI+ relataram, em pesquisa realizada pela plataforma Booking.com no ano passado, considerar segurança e bem-estar do LGBT+ ao escolher o destino de uma viagem. Já 77% dos entrevistados dizem que notícias sobre discriminação e violência contra pessoas LGBTI+ tiveram um grande impacto na escolha de um destino turístico.
O levantamento da Travel Proud 2023 ainda destacou comportamentos, preocupações e preferências de viagens da comunidade LGBTI+ em 27 países, incluindo o Brasil.
Outra pesquisa interessante, desta vez realizada pela Associação Internacional de Turismo LGBTQIA+ (IGLTA) – referência mundial no desenvolvimento e na expansão do turismo LGBTI+ –, revelou, no auge da pandemia, que a maior preocupação dessa comunidade no Brasil não era com o vírus, mas com sua segurança. Quatro anos depois, a segurança nos destinos continua a ser a maior preocupação de brasileiros LGBTI+ que viajam no país e no exterior.
A pesquisa
60% sofreram discriminação ao viajar;
27% foram submetidos a estereótipos;
77% dão preferência a emprsas de turismo com políticas inclusivas;
76% preferem reservas viagens com marcas de pessoas LGBTI+;
16% receberam orientação específicacomo viajante LGBTI+ no check-in da acomodação;
38% gostariam de receber informaçõs sobre o status LGBTI+ do destino;
76% buscam atrações personalizadas para pessoas LGBTI+
77% pesquisas marcas antes de viajar para entender seu papel de apoio a pessoas LGBTI+.
Fonte: Booking.com
6 países mais LGBTQIA+ friendly:
• Canadá
Segundo o ranking de 2020, criado pelo Spartacus International Gay Guide que, anualmente, lista os países mais receptivos aos LGBT+, o Canadá foi o número um, contendo leis antidiscriminação, legalização de união conjugal, permissão para adoção, reconhecimento dos direitos trans, marketing LGBT – além de não ter, no geral, nenhum dos aspectos negativos, como restrições de viagens aos soropositivos, influência religiosa, intolerância e outros;
• Nova Zelândia
O país proíbe chamadas terapêuticas de conversão sexual. A nova lei criminaliza procedimentos que buscam alterar a orientação sexual, expressão ou identidade de membros da comunidade. Além disso, Além disso, homossexuais ocupam 9% dos 120 assentos do parlamento, de acordo com o site norte-americano Advocate;
• Espanha
A lei local espanhola proíbe a discriminação baseada em raça, gênero, incapacidade ou posição social e o governo geralmente cumpre. O país permite o casamento gay e a adoção conjunta, fazendo com que a Espanha um dos principais países do continente que mais respeitam os direitos humanos LGBT+;
• Malta
O país é considerado o mais LGBT+ friendly na Europa, segundo uma lista divulgada pela Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais (Ilga). O país também aprovou a lei do casamento homoafetivo, além de legislações de combate a LGBTfobia, punindo com prisão os médicos e profissionais de saúde que submetem pacientes a terapias de cura gay;
• Reino Unido
O país possui uma lei que encoraja juízes a dar uma sentença mais pesada em casos de agressão em que a orientação sexual da vítima é motivada.
Países em que pessoas LGBTI+ precisam tomar cuidado ou evitar:
• Rússia: Desde 2013, a Rússia tem uma lei que proíbe a “propaganda gay” para menores. Isso torna qualquer manifestação pública de afeto entre pessoas do mesmo sexo ou a defesa dos direitos LGBTQIA+ um ato ilegal. Em 2017, relatos de perseguição, detenção e tortura de homens gays na Chechênia, uma república da Rússia, chocaram o mundo.
• Irã: A homossexualidade é ilegal e pode resultar em punições severas, incluindo a pena de morte.
• Uganda: Em 2014, Uganda ganhou as manchetes internacionais ao tentar introduzir a chamada “Lei Anti-Homossexualidade”, que propunha a pena de morte para certos atos homossexuais.
• Arábia Saudita: A homossexualidade é estritamente proibida e pode resultar em punições severas, incluindo chicotadas, prisão e, em alguns casos, execução.
• Emirados Árabes Unidos: Atos homossexuais são ilegais e podem resultar em prisão, multas, deportação e, em casos extremos, pena de morte.
• Catar: A homossexualidade é ilegal e pode levar a penas de prisão. Antes da Copa do Mundo de 2022, houve discussões sobre como os torcedores LGBTQIA+ seriam tratados, mas durante o evento qualquer manifestação nesse sentido foi proibida. Houve um caso, inclusive de um turista brasileiro, que ao levar uma bandeira do Estado de Pernambuco foi detido e obrigado a entregar a bandeira. Depois de alguma conversa, conseguiu provar que não fazia nenhuma manifestação ou apologia à causa LGBTQIA+.
• Brunei: Em 2019, Brunei atraiu condenação global ao introduzir leis que tornariam a homossexualidade punível com a morte por apedrejamento. Embora tenham recuado após a reação internacional, a homossexualidade ainda é ilegal.
• Egito: A homossexualidade não é explicitamente ilegal, mas indivíduos são frequentemente presos e acusados sob leis de “devassidão” ou “imoralidade”. Em 2017, após um concerto onde a bandeira do arco-íris foi levantada, várias pessoas foram presas.
• Turquia: A homossexualidade foi descriminalizada em 1858, mas a comunidade LGBTQIA+ enfrenta discriminação, violência e perseguição. Paradas do orgulho em Istambul foram proibidas nos últimos anos, e aqueles que tentaram marchar foram dispersos à força.
• Malaui: Embora tenha havido uma moratória sobre as prisões relacionadas à homossexualidade, a prática ainda é tecnicamente ilegal e pode resultar em prisão.
• Líbia: Desde a queda de Gaddafi, a situação para a comunidade LGBTQIA+ tem sido incerta. A homossexualidade é ilegal e pode resultar em punições severas.
• Malásia: A homossexualidade é ilegal e pode resultar em prisão, multas e chicotadas. A comunidade LGBTQIA+ enfrenta discriminação e estigmatização significativas.
• Kuwait: Atos homossexuais são ilegais e podem resultar em prisão. Além disso, o país tem leis que permitem a discriminação com base na orientação sexual.
• Tanzânia: A homossexualidade é ilegal e pode resultar em longas penas de prisão. Em 2018, houve uma repressão significativa contra a comunidade LGBTQIA+, com muitos sendo presos.
• Tunísia: A homossexualidade é ilegal e pode resultar em até três anos de prisão. Testes anais forçados, condenados por grupos de direitos humanos, ainda são usados para “provar” a homossexualidade.
• Nigéria: A homossexualidade é ilegal e pode resultar em longas penas de prisão. Em algumas regiões do norte da Nigéria, onde a lei da Sharia é aplicada, pode até resultar em pena de morte.
• Jamaica: Conhecida por sua cultura homofóbica, a homossexualidade é ilegal e pode resultar em prisão. A comunidade LGBTQIA+ enfrenta violência e discriminação significativas.
• Omã: A homossexualidade é ilegal e pode resultar em prisão. No entanto, a aplicação desta lei varia.
• Mianmar: A homossexualidade é ilegal e pode resultar em prisão. A comunidade LGBTQIA+ enfrenta discriminação e estigmatização.
• Iêmen: A homossexualidade é ilegal e pode resultar em punições severas, incluindo a pena de morte em algumas regiões.
• Zâmbia: A homossexualidade é ilegal e pode resultar em longas penas de prisão.
• Maldivas: A homossexualidade é ilegal e pode resultar em prisão. O país, predominantemente muçulmano, segue uma interpretação estrita da Sharia.
• Marrocos: A homossexualidade é ilegal e pode resultar em prisão. Embora o Marrocos seja um destino turístico popular, é essencial ser discreto.
• Argélia: A homossexualidade é ilegal e pode resultar em prisão. A comunidade LGBTQIA+ enfrenta discriminação e estigmatização.
Para saber mais sobre as paradas LGBTI+ no undo, acesse o site Mister B&B.