Quinta capital planejada no país e a primeira do século XX, Goiânia tem chamado a atenção nos últimos meses por aparecer em rankings de qualidade de vida e preservação ambiental. Em março, a capital de Goiás recebeu o título de uma das Cidades Arborizadas do Mundo, uma parceria entre a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Fundação Arboy Day. São mais de 1 milhão de árvores em 205 áreas verdes e 60 parques.

Bosque dos Buritis, em plena área central da cidade - Foto: Jackson Rodrigues / Divulgação

Mais recentemente, a cidade apareceu na honrosa quarta posição no Índice de Progresso Social (IPS Brasil), segundo um relatório elaborado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), realizado em parceria com a Fundación Avina, Amazônia 2030, Anattá Pesquisa e Desenvolvimento e o Centro de Empreendedorismo da Amazônia e Social Progress Imperative. Os títulos têm servido para atrair atenção para metrópole do Centro-Oeste.

O viaduto João Alves de Queiroz, no Setor Bueno: Goiânia é uma cidade planejada - Foto: Jackson Rodrigues / Divulgação

Com pouco mais de 1,4 milhão de pessoas, Goiânia é, em síntese, uma grande cidade do interior – nesse aspecto, se assemelha muito com a capital mineira – com vocação para o turismo corporativo e ainda pouco procurada para o lazer. Engana-se, no entanto, quem pensa assim. O visitante pode fazer roteiros de dois a cinco dias na cidade e descobrir muitos atrativos, como parques, artes de rua, culinária, vistas exuberantes, feiras e monumentos. 

A Torre do Relógio, na avenida Goiás, um dos monumentos com influência art decó na cidade - Foto: Jackson Rodrigues / Divulgação

Antes da viagem, no entanto, é interessante o turista descobrir um pouco de sua história. Goiânia nasceu da chamada “Marcha para o Oeste”, uma política desenvolvida pelo governo Getúlio Vargas nos anos 1930 e 1940 para incentivar a ocupação do Centro-Oeste brasileiro. Desde seu início, sua arquitetura teve influência do art déco, um estilo artístico e decorativo vanguardista surgido nos anos 1920 na França, após a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, em Paris, em 1925.

Art déco

O Palácio das Esmeraldas, na Praça Cívica, todo revestido em pó de pedra verde - Foto: Jackson Rodrigues / Divulgação

O visitante pode fazer um passeio pela arquitetura art decó, marcada pelo uso de formas geométricas, linhas verticais e ornamentos. É um conjunto significativo de 22 construções tombadas pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), boa parte delas concentrada na praça Doutor Pedro Ludovico Teixeira, conhecida como “praça Cívica”, onde estão o Palácio das Esmeraldas, sede do governo estadual, todo revestido em pó de pedra verde, imitando a cor da esmeralda, o coreto, a Procuradoria Geral do Estado, o Centro Cultural Marieta Telles Machado, o Tribunal Regional Eleitoral e o obelisco.

O Museu Goiano Zoroastro Artiaga conta boa parte da história do Estado, com arte indígena, artesanato de diversas regiões, fósseis e fauna. Outras edificações em estilo art déco estão espalhadas pela cidade – vale ainda conhecer a Torre do Relógio, na avenida Goiás, próxima do coreto; o Teatro Goiânia, na confluência das avenidas Anhanguera e Tocantins; e a estação ferroviária, na praça do Trabalhador, um belíssimo prédio em amarelo com afrescos do padre Nazareno Confaloni, considerado o introdutor do modernismo em Goiás, e uma antiga maria-fumaça.

Caminhada

O Monumento às Três Raças é uma estrutura fundida com 300 kg de bronze e possui 7 metros de altura - Foto: Jackson Rodrigues / Divulgação

A praça Cívica é o ponto de partida para uma caminhada na cidade. No marco zero de Goiânia, depara-se com o Monumento às Três Raças, criado pela artista Neusa Moraes em 1968, simbolizando as raças que formaram a identidade do povo goiano (o bandeirante, o escravizado e o indígena), e com outro mais moderno, assinado pelo artista plástico Siron Franco, todo criado com espelhos e estrutura de aço, cruzando passado e futuro. Poucos metros à frente, pegando a rua Dona Gercina Borges Teixeira, chega-se ao Bosque dos Buritis, uma área verde com lago, orquidário e o Museu Pedro Ludovico. 

A antiga casa do fundador de Goiânia foi construída entre 1935 e 1937, em estilo art déco, com dois pavimentos. No museu-casa assinado por Attilio Corrêa Lima, urbanista que projetou Goiânia, o visitante vê o tempo em que viveu o casal Pedro e Gercina se mostrar em todos os detalhes em um passeio pelos aposentos – salas, banheiro, quartos, biblioteca e escritório –, tudo decorado com objetos originais da época. Entre as curiosidades, uma fotografia de Goiânia na época de sua fundação ocupa toda a parede do escritório e a biblioteca. Atualmente, o museu-casa é destinado a eventos artístico-culturais.

Museus

A Estação Ferroviária de Goiâni foi inaugurada em 1950 e funcionou até o início dos anos 1980 - Foto: Jackson Rodrigues / Divulgação

O turista que não encontrar tempo para visitar os seis principais museus da capital goiana tem disponibilizado no site da Secretaria de Educação de Goiás (Seduc) – tours virtuais ao Museu de Arte Contemporânea de Goiás (ou Centro Cultural Oscar Niemeyer), projetado pelo arquiteto, ao Palácio Conde dos Arcos, primeira sede dos governadores da Província de Goiás; ao Museu Pedro Ludovico, ao Museu Ferroviário Pires do Rio, um galpão que funcionou como oficina mecânica das locomotivas a vapor; ao Museu Goiano Zoroastro Artiaga e ao Museu da Imagem e do Som, esse último com acervo de discos, fitas cassetes e magnéticas de áudio e vídeo, fotografias e documentos textuais e bibliográficos.

Depois de visitar o Museu Pedro Ludovico e atravessar o bosque, o visitante pode seguir a rua 6 e chegar ao Parque Lago das Rosas. Uma das curiosidades do local é uma mureta e um trampolim mais antigos do que o próprio parque, de estilo art déco. O parque também abriga o Jardim Zoológico da cidade. Mais afastadas, a cidade tem outras áreas verdes, como o Parque Flamboyant, próximo ao Estádio Serra Dourada, ao Jardim Botânico, ao Parque Areião e ao Parque Vaca Brava. Do Parque Lago das Rosas, pegue a rua 8ª em direção à Praça do Sol, no setor Oeste, para usufruir de um espaço instagramável – o letreiro “Eu amo Goiânia”.