“Roxy Dinner Show” estreou em outubro de 2024, reabrindo o antigo Cinema Roxy, em Copacabana, inaugurado em 1938. A sala de cinema de rua mais imponente do país tem muita história e merecia ser preservada e construir uma nova trajetória. Com uma belíssima arquitetura art déco, os detalhes começam pela fachada, que remete à época de ouro dos cinemas de Hollywood, continua no foyer, revitalizado, e no interior, completamente renovado: as poltronas deram lugar às mesas, mas a tela permanece lá, dimensionada, para não esquecer a origem do espaço. A nova sala preserva as colunas em granito preto, os elementos artísticos e a belíssima cúpula luminosa, uma de suas marcas. De novo, vêm alguns elementos que lhe conferem modernidade com muito bom gosto.

O Roxy Dinner Show: cinema de Copacabana é revitalizado e dá espaço a uma casa de espetáculos - Foto:Tomas Rangel / Divulgação

Mas a pergunta que não cala: o show “Aquele Abraço” é um programa típico para turista estrangeiro ver um Brasil carnavalesco e colorido? Não é bem assim! Lembro que, anos 1970, o radialista Sargentelli, sobrinho de Lamartine Babo, encantava os estrangeiros com as famosas Mulatas do Sargentelli, mulheres lindas e bronzeadas, com muito samba no pé, que se apresentavam na Casa Oba-Oba, no bairro Humaitá. Esqueça o desbunde “tropicalista” de Sargentelli. O espetáculo também não deixa nada a dever ao show “Féerie”, do Moulin Rouge, em Paris.  No palco, cerca de 120 artistas – com A maiúsculo – dançam e cobrem diversos ritmos das cinco regiões do país – do coro dos espectadores do boi-bumbá de Parintins, na Amazônia, à música folclórica gaúcha. 

O folclore do boi-bumbá de Parintins representa a Amazônia e a região Norte no espetáculo musical - Foto: Tomas Rangel / Divulgação

Faltou Minas, uai! Faltava, Depois de muitos pedidos, um quadro será incluído em “Aquele Abraço”. Ao fim do número musical da Bahia, um trem chega na estação. De um lado, está Bahia; de outro lado, Minas Gerais. O viajante fica na dúvida, mas embarca rumo a Minas. As duas músicas a seguir são cantadas com ele “embarcado” no trem, com utilização de um efeito do telão. Eco “Encontros e Despedidas – nesta hora o trem depara com “uma pedra no meio do caminho” uma ao poema “No Meio do Camimho”, de Carlos Drummond de Andrade – e “Travessia””, ambas de Miton Nascimento e Fernando Brant. Quando chega a Minas, o som da maria-fumaça é interrompido pela música “Para Lennon e McCartney”. Surgem no telão imagens das igrejas barrocas de Ouro Preto e das obras de Aleijadinho. Tudo termina com as mulheres reunidas e cantando junto “Maria Maria”.

A noite se inicia às 19h em ponto com um jantar em três tempos, em que a comida é tão protagonista quanto o enredo. O espectador pode escolher o mix de folhas e ervas e tomates assados com pesto de plantas da Amazônia e castanha-do-pará ou o crudo de atum acompanhado de uma cremosa coalhada de queijo de cabra, picles de erva-doce e minitomates como entrada; ou peixe grelhado ao molho de limão-cravo com palmito assado e vinagrete de feijão; ou uma moqueca de banana-da-terra, combinada com palmito e arroz de coco; ou ainda frango caipira de Minas recheado com taioba, servido com creme de queijo Canastra, quiabo grelhado e purê de batatas como prato principal. É comida de chef! 

O jantar antes do show passeia por diversas culinárias regionais, inclusive a mineira - Foto: Tomas Rangel / Divulgação

 O rega-bofe vem acompanhado de água, suco, cerveja, drinks, caipirinha ou espumante. Mas tudo isso depende do pacote que você compra e do lugar reservado (plateia ou mezanino): os preços variam de R$ 396 a R$ 869. Os pacotes são identificados por um adesivo prata ou ouro. O espetáculo começa pontualmente às 21h, quando se encerra o jantar. Enquanto beberica um drink, o espectador vê desfilar esquetes que homenageiam as regiões – da marchinha, samba, funk, do teatro musical e das músicas carnavalescas do Rio de Janeiro à axé-music baiana, transitando por Carmen Miranda, gênero sertanejo, Olodum, forró, baião e xote do sertão nordestino, “Garota de Ipanema” e outras variações. 

Uma comissão de frente de escola de samba abre o espetáculo colorido e alto-astral. No telão gigantesco, imagens de cenários turísticos do Brasil, de norte a sul do país, em uma colagem muito semelhante à abertura da novela “Vale Tudo”. Uma dupla de apresentadores costura os números com muito humor, invadindo o espaço da plateia e sugerindo uma interação. Na noite em que assisti ao show, eles pegaram uma turista argentina e levaram ao palco. Já a tecnologia é uma aliada do espetáculo, funcionando como cenário para os números musicais – personagens saltam da tela para o palco. As imagens se encaixam perfeitamente nas temáticas, como o movimento dos personagens da literatura de cordel. 

A atriz, cantora e bailarina Daruã Goés, quebrilha como Carmen Miranda no musical, canta "Eu Sei Que Vou Te Amar" - Foto: Tomas Rangel / Divulgação

 No repertório, música muitos conhecidas do público e de diferentes épocas, “Festa do Interior” “País Tropical”, “Aquele Abraço”, “Brasil Pandeiro”, “Asa Branca”, “Clima de Rodeio”, “Vermelho”, “Deixa a Vida Me Levar”, “Rio 40 Graus”, “Vou Festejar” e “Festa de Rodeio”, além dos clássicos na voz de Carmen Miranda, “Pra Você Gostar de Mim”, “Mamãe Eu Quero”, “Chica Chica Boom Chic”, “O que é que a Bahiana Tem”?. Pena que quando o musical passeia por São Paulo, não inclui dois de seus maiores compositores, Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini. Mas inclui ainda a duas músicas brasileiras mais conhecidas no exterior: “Aquarela do Brasil” e “Garota de Ipanema”. Faltou muita coisa? Claro que faltou, mas não é possível incluir tantas músicas em show de uma hora e 40 minutos.

A ficha técnica reúne os melhores dos melhores – roteiro de Leonardo Bruno (autor de livros de Zeca Pagodinho, do Salgueiro e da Vila Isabel); direção musical de Pretinho da Serrinha, cantor, compositor e instrumentista; iluminação de Maneco Quinderé, que assina várias obras-primas do teatro e de shows de artistas famosos; direção de Abel Gomes, cenógrafo dos grandes eventos cariocas (leia Frank Sinatra no Maracanã, Festa da Virada em Copacabana, Jornada Mundial da Juventude e Jogos Olímpicos de 2016, entre muitos outros) e que orquestra toda a encenação como uma “ópera tropicalista”; e coreografias de Priscilla Motta e Rodrigo Negri, o “Casal Segredo” da Viradouro. Os figurinos são um desbunde à parte. 

O espetáculo também poderia ser legendado para melhor compreensão do público estrangeiro – a irmã argentina ria o tempo todo. Para a memória do Roxy, a experiência é de cinema. Vê-se cada centavo dos R$ 67 milhões investidos pelo empresário Alexandre Accioly no espetáculo. A cidade mais turística do país merecia um espetáculo à altura de seus atrativos, todos monumentais. O “Roxy Dinner Show” insere o Rio de Janeiro no circuito dos grandes espetáculos internacionais. E dá, pelas imagens, uma dimensão do que é o Brasil em termos de paisagens e diversidade cultural. Somos, enfim, um espetáculo para o turista, com ou sem clichês. 

Serviço: 

O quê: “Roxy Dinner Show” 
Onde: Rua Bolívar, 45, Copacabana – Rio de Janeiro 
Quando: Quarta a domingo, das 19h30 às 23h45
Preços Espaços Plateia e mezanino: Pacote Copacabana / Pacote Rio de Janeiro / Pacote Aquele Abraço a partir de R$ 396 a R$ R$ 869 
Informações e reservas: Na bilheteria ou acesse Roxy Dinner Show
Ingressos: Acesse Roxy Dinner Show