Belém está às margens de uma baía com 39 ilhas, entre as quais a maior é a de Marajó. Só que Marajó é outra viagem. Na capital paraense, a travessia mais rápida leva à ilha do Combu (Instagram / @ilhadecombu_oficial), que pode ser avistada do outro lado do Guamá. O turista deve ir à praça Princesa Isabel e pegar a balsa no Terminal Hidroviário Ruy Barata. O preço da travessia é R$ 20 (ida e volta) e dura 15 minutos.

Barcos e balsas partem de um terminal para a ilha de Combu, com saídas a partir de 8h30 - Foto: Paulo Campos

Combu é salpicada de restaurantes que oferecem desde a gastronomia típica até banhos refrescantes no rio Guamá e imersão na floresta. O mais antigo é o Saldosa (com L mesmo) Maloca (Instagram / @saldosamaloca), onde a propriedade de Izete dos Santos Costa, a Dona Nena, nativa da ilha, oferece experiências gastronômicas e turísticas aos visitantes. 

"Minha família está aqui desde 1914, somos extrativistas e nos mantínhamos com a produção do sítio: cacau, açaí, frutas e sementes in natura e para extração de óleo”, conta. Em 1979, o pai e um tio abriram um espaço para receber os amigos e, devido ao sucesso, em 1982 foi inaugurado o Saldosa Maloca, referência à música de Adoniran Barbosa de que o tio boêmio gostava muito. 

“Saldosa Maloca nunca foi apenas um restaurante, é um espaço para você ter experiências e conexão com a floresta”, destaca. Esse foi o primeiro espaço turístico da ilha do Combu, numa época em que ainda não existia rede elétrica na ilha – a energia chegou há apenas 13 anos –, e hoje existem mais de 60 restaurantes. Sobre morar na ilha há tanto tempo, Dona Nena poetiza e lembra os versos do compositor paraense Nilson Chaves na canção “Doce Veneno”: “Os rios da minha aldeia são maiores do que os de Fernando Pessoa”. 

A pioneira Dona Nena é nativa de Combu e abriu o primeiro restaurante na ilha - Foto: Paulo Campos 

Um dos atrativos do local é uma sumaumeira no quintal de Dona Nena. “Você anda 50 m e se depara com uma sumaumeira de 400 anos. Para as pessoas que vêm de fora e da Europa, isso é encantador”, comenta. A trilha da sumaúma é um dos passeios oferecidos no Saldosa Maloca, conduzido pelo guia Vinícius Sodré. Com 60 m de altura e um tronco gigante, a sumaúma transmite uma energia incrível ao ser tocada, revela nossa pequenez e a conexão da natureza com o divino. 

Dona Nena conta que a sumaúma (foto acima) anda triste e, depois que perdeu a “irmã”, não produziu mais frutos. A “irmã” tombou há pouco tempo, levada pela erosão do rio. A nativa de Combu lamenta que a ilha passa por um processo contínuo de erosão e pode desparecer no futuro. Para diminuir o impacto ambiental, Dona Nena faz o tratamento de todo o lixo produzido no sítio, levando o Sebrae Pará a elevar o Saldosa Maloca à categoria de ecorrestaurante. 

Os chocolates orgânicos Saudoso Cacau podem ser comprados na lojinha - Foto: Paulo Campos

O carro-chefe do espaço é tambaqui de brasa, servido com arroz de jambu, farofa molhada e vinagrete (R$ 125 para duas pessoas) e a caldeirada paraense, com postas de peixe e camarão no tucupi, servida com arroz e pirão (R$ 194 para até três pessoas). Como sobremesa, experimente as barras de chocolate, a partir de R$ 18, e o brigadeiro da floresta, a R$ 9,50). 

Dona Nena ainda oferece três experiências gastronômicas em seu sítio. Peixes Amazônicos que convida os visitantes a cozinhar um prato ao seu lado (R$ 300 por pessoa), e Açaituíra, na qual fala sobre a cadeia produtiva do açaí, promove degustação do açaí com peixe frito (R$ 85 por pessoa). 

Combu ficou famoso internacionalmente depois que os presidentes Lula e Emmanuel Macron, da França, visitaram a Casa de Chocolate, em março deste ano. A fábrica faz parte da Trilha do Chocolate, outra experiência oferecida por Dona Nena aos turistas, a R$ 70 por pessoa.

Na lojinha, o visitante pode comprar açaí brigadeiros da floresta, doces de cupuaçu, nibs de chocolate orgânico, licores (foto acima), peças de artesanato em cerâmica e produzidas com fibras de miriti e em cerâmica, gel, óleos, pomadas e sabonetes produzidos com os insumos da Amazônia.