Dados do Censo 2022 do IBGE revelam que a população negra (composta por pretos e pardos) corresponde a 55,5% do total de habitantes do Brasil, com os pardos sendo 45,3% e os pretos 10,2% da população, respectivamente. Essa é a  primeira vez desde o início dos censos que a população parda e negra supera a branca e amarela. Esse aumento reflete um maior reconhecimento racial e mudanças sociais, além de declínio na população branca e amarela. 

Nos últimos anos, o crescimento do afroturismo no Brasil foi impulsionado pela valorização da cultura afro-brasileira, com um aumento da demanda por experiências temáticas e o lançamento de políticas públicas focadas na criação de roteiros, apoio a afroempreendedores e capacitação profissional. O setor busca fortalecer a economia das comunidades negras, combater o racismo estrutural e gerar renda, posicionando a herança cultural africana. 

O Afroturismo é uma modalidade de turismo cultural que valoriza e evidencia a história, a cultura e a identidade das comunidades afro-brasileiras, focando no protagonismo negro e no combate ao racismo no setor. Ele promove a exploração de patrimônios materiais e imateriais afro-brasileiros, como terreiros, quilombos, festas tradicionais e a culinária africana, além de impulsionar a economia e a representatividade de pessoas negras no turismo.

Nesse sentido, a Embratur, em parceria com o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF), lançou nesta terça-feira (9/7), durante o workshop Trilhas do Afroturismo Internacional, em Salvador (BA), o Guia Prático sobre Igualdade Racial no Turismo, definindo o afroturismo como um segmento que valoriza e promove a cultura, a história, a identidade e a ancestralidade negra e propondo experiências conduzidas por negros.

O guia

O manual surge como resposta direta a um cenário de exclusão. Diante dessa realidade, o afroturismo é apresentado como vetor de transformação social alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, como erradicação da pobreza, igualdade de gênero e redução das desigualdades. 

"Ao criarmos ambientes verdadeiramente inclusivos e seguros, estamos qualificando nossos destinos e posicionando o Brasil como um líder global no afroturismo, segmento com enorme potencial de crescimento que valoriza nossa maior riqueza, que é a diversidade cultural", disse Marcelo Freixo, presidente da Embratur. 
 
A Coordenadora de Afroturismo, Diversidade e Povos Indígenas da Embratur, Tania Neres, enfatizou que o guia é uma ferramenta para orientar o mercado: "Essa publicação materializa nosso compromisso em fornecer diretrizes claras. É um passo decisivo para construir um setor que reflita a diversidade do Brasil e que acolha a todos de forma justa e respeitosa", completou. 

Para Eddi Marcelin, diretor de Diversidade da CAF, o afroturismo é a valorização da cultura, da história e da identidade brasileira. "Com esse guia, seguimos fortalecendo o ecossistema que tem como protagonistas as pessoas negras, gerando impacto econômico ao mesmo tempo em que se celebra a memória e o orgulho".

Integrante da equipe responsável pela confecção do Guia, a consultora da Embratur/CAF Natália Oliveira destaca o ineditismo do material. “Lançar um documento que traz diretrizes para a acolhida do turista negro é um avanço importante na construção de um turismo antirracista”, ressalta.

Antirracismo

O guia propõe uma postura ativa de antirracismo, definida como o enfrentamento contínuo a doutrinas e práticas racistas. O documento oferece um roteiro detalhado para empresas, sugerindo ações como a revisão de vagas para evitar linguagem excludente, a ampliação da divulgação em redes comunitárias negras e a criação de painéis de entrevistadores diversificados. 

A publicação recomenda ainda a formação contínua da equipe em letramento racial, conceito que se refere à capacidade de reconhecer as diferentes formas de racismo, e a criação de materiais de divulgação que representem positivamente a diversidade.