Brasília não é uma cidade que se mostra à primeira vista. Pelo menos, não se mostra por inteiro. Você vai descobrindo aos poucos e se apaixonando. Comigo foi assim. Morei lá por 12 anos e sou completamente encantada pela capital federal – por vários motivos que trago aqui, nesta semana em que a cidade completa de 63 anos, no dia 21 de abril.
 
O primeiro impacto é uma mistura do céu mais incrível que conheço e as exuberantes obras de Oscar Niemeyer. Elas imperam sozinhas, sem interferência na paisagem. De perto – com seus espelhos-d’água –, Congresso Nacional, Palácio do Planalto, Itamaraty, Palácio da Alvorada e Catedral são muito mais impactantes do que a TV ou as fotos conseguem mostrar.
 
E, sim, o céu de Brasília, “traço do arquiteto”, é, de fato, algo que nos surpreende o tempo todo. Com o horizonte aberto de uma cidade plana, é possível enxergar chuva e sol ao mesmo tempo com uma amplitude singular. Logo que me mudei de Belo Horizonte para Brasília, sempre me impressionava a quantidade de arco-íris que surgem no Planalto Central. Poucos prédios altos e vias largas são um convite para se admirar o pôr do sol e o nascer da lua nos deslocamentos triviais do dia a dia. Eu sempre digo que, quando você se abre para Brasília, Brasília se abre para você.
 
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Prática de esporte no lago Paranoá, perto da Ponte JK
 

Lago Paranoá

 
O gigante lago Paranoá abraça boa parte do Plano Piloto e oferece diversos programas para quem curte água, sol e esporte. São comuns as práticas de stand-up paddle, canoa havaiana, caiaque ou mesmo passeios de barco. Tudo a poucos minutos da praça dos Três Poderes.
 
Essa proximidade da área de lazer com a área de trabalho conta pontos para Brasília. No entorno do lago, há lugares interessantes para se apreciar a natureza e o pôr-do-sol. Um desses pontos é bem perto da Ponte JK, que liga o Plano Piloto aos bairros de mansões e condomínios fechados. A ponte tem três arcos intercalados que representam o movimento de uma pedra quicando sobre a água. É belíssima, mas não é de Niemeyer.
 
Na beira do lago Paranoá, também tem um complexo de restaurantes, o Pontão, que permite uma vista maravilhosa a qualquer hora do dia. E mesmo que a proposta do passeio não seja gastronômica, é possível caminhar na beira do lago em um lugar seguro ou apenas tomar um açaí, que cai muito bem no clima quente e seco de Brasília.
 
Com suas palmeiras, restaurantes e estruturas de lazer, o Pontão Lago Sul é a melhor vista para o lago Paranoá
 
Com a diversidade de pessoas de todas as partes do Brasil, especialmente mineiros e nordestinos, e, também, com a presença de moradores de diferentes partes do mundo, devido às Embaixadas, Brasília oferece possibilidades incríveis de restaurantes e bares. Desde os mais sofisticados aos mais simples. Esse circuito gastronômico está espalhado pelos diferentes pontos da cidade. É só querer descobrir.
 
São muitas Brasílias dentro de uma só, além, obviamente, do turismo político com visitas guiadas ao Congresso Nacional e a outros espaços e prédios públicos. Eu sempre digo que quando você se abre para Brasília, Brasília se abre para você. É uma cidade diversa, com esse peso do poder, que também é interessante de se ver de perto, mas que oferece muito além de tudo disso.
 
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Jaqueira no Parque da Cidade, onde é possível praticar diversos esportes
 

Quadras e espaços amplos

 
Eu disse que Brasília é uma cidade a ser descoberta, e a mistura céu e arquitetura é só o primeiro impacto. Gosto de Brasília porque ela me traz paz, porque é diferente de tudo que conheço. Os espaços são amplos. De carro – e é uma cidade voltada para o carro – parece tudo igual.  Mas ao colocar o pé no chão e com boa vontade para descobrir, há muito para se surpreender.
 
Um passeio a pé pelas quadras residenciais e comerciais da Asa Sul e Asa Norte é bem curioso. Vale a pena observar a arquitetura dos prédios baixos com pilotis livres, passar pelas mangueiras e jaqueiras que estão por todo lugar. Há muito verde em Brasília. Muito sol e ciclovias.
 
Brasília ferve à noite e tem opções para todos os gostos e todas as idades
 

Cultura e diversão

 
Brasília também encanta pela diversidade de programas culturais para diferentes gostos. O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), por exemplo, fica em uma área ampla, extremamente tranquila, com gramado e espaço para crianças e adultos. Nem parece que você está tão perto do Palácio da Alvorada, onde mora o presidente da República, e da praça dos Três Poderes.
 
Para quem curte um circuito alternativo e underground, vale a pena conhecer o Conic, um conjunto de edifícios colados um ao outro, bem no centro urbano do Plano Piloto. É muita programação interessante para ficar ligado e não perder, em diferentes pontos da cidade, na Esplanada, nas quadras comerciais, nas festas particulares.
 
Catedral de Brasília e Esplanada dos Ministérios: Brasília é uma cidade muito peculiar
 

Capital inventada

 
Se você é curioso e gosta de conhecer os lugares pelo mapa, possivelmente vai achar o Plano Piloto fascinante – assim que conseguir enxergar o mapa nos caminhos por onde passar, o que requer certa dedicação inicial.
 
Sempre brinco que o meu melhor amigo, ao chegar a Brasília, foi o mapa do “avião”. É instigante entender e aprender a andar nessa apaixonante e estranha cidade, sem nome de rua, sem gente na rua, com siglas sem fim, indicando endereços e com divisões para coisas que você nem imaginava que seriam divididas.
 
É rua das farmácias, quadra comercial, quadra residencial, setor hoteleiro, setor de autarquia, setor de diversões, e assim vai.  Tem gente que ama e gente que odeia tanta organização diferente. De fato, demora para captar. Mas é um delicioso desafio compreender a invenção de Lúcio Costa, com suas superquadras e entrequadras, tão parecidas e tão diferentes. E é também fascinante aprender a andar sem ter que pedir ajuda.
 
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Quadra 403, na Asa Sul, onde ficam os prédios residenciais, com o arco-íris em destaque
 
 
Morei na 403 Sul e na 410 Norte. Dizer somente isso e o bloco (A, B, C etc) é suficiente para que alguém que nunca esteve no endereço, mas que entende o Plano Piloto, consiga chegar, sem perguntar absolutamente nada a ninguém nem pedir socorro ao Waze. Não é fascinante?
 
E ainda, o cruzamento das principais vias, em forma de uma cruz, que nos remete ao formato de um avião. Eixo Monumental, com o centro administrativo (onde ficam os ministérios, tendo ao fundo a praça dos Três Poderes) cruzando com o Eixo Rodoviário Norte e Sul, ou Eixão (onde ficam os prédios residenciais e quadras comerciais). Eu me apaixonei pelos mínimos detalhes da cidade inventada por Lúcio Costa.