Segundo maior bioma brasileiro, o Cerrado é uma região com características peculiares: o verão é quente e úmido, e o inverno, ameno e seco. Tem ainda ótima altitude, clima ameno, topografia plana e solo fértil, elementos que corroboram para o plantio de café e uma colheita de qualidade. Desde 2006, um novo item deu gabarito ao café do Cerrado: a bebida foi a primeira a ganhar o selo de Denominação de Origem (DO) no país, homologado junto ao Instituto Nacional de Produtividade Industrial (INPI).

O café do Cerrado é mais achocolatado, possui aroma intenso, notas frutadas, cítricas, corpo suave, acidez moderada e doçura natural, o que dispensa o uso de açúcar e lhe confere um sabor inigualável. “É uma bebida fina, muito apreciada mundo afora”, garante o superintendente da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocaccer), Simão Pedro de Lima, 57, dos quais 40 lidando com cafés. Desde 1993, quando foi criada, a associação reúne cerca de 650 associados, em sua maioria pequenos e médios produtores.

Composta por 55 municípios localizados entre o Triângulo Mineiro, o Alto Paranaíba e o Noroeste de Minas, a chamada Região do Cerrado Mineiro (RCM) reúne, segundo Lima, uma cafeicultura nova, de jovens produtores, curiosamente 80 deles mulheres. “Eles não entendem o café apenas como um negócio, mas como um jeito de ser”, diz.

"Com a certificação do Cerrado Mineiro, outras regiões de Minas Gerais receberam, a partir de 2019, Denominações de Origem (DO), entre elas Mantiqueira de Minas e Campo das Vertentes"

Patrocínio

Gabriel Alves Nunes, 32, engenheiro agrônomo, por exemplo, assumiu os negócios da família em 2013 e hoje gerencia a empresa Nunes Coffee, que produz cerca de 28 variedades de cafés especiais tipo arábica. Em 2017, o café bourbon, cultivado a 935 m de altitude, ganhou o concurso Cup of Excellence na categoria Pulped Naturals.

Nos 480 hectares da Fazenda Bom jardim, em Patrocínio, Nunes produz cerca de 15 mil a 20 mil sacas por ano, sendo 85% dessa produção destinada a exportação. Ele considera que, assim como o vinho, o café está ganhando personalidade e qualidade. “Denominação de Origem traz técnica e rastreabilidade, agrega valor ao produto e ganha a confiabilidade do cliente”, salienta. 

A Região do Cerrado Mineiro produz cerca de 7 milhões de sacas de grãos por ano, mas neste ano excepcionalmente, por causa das geadas e do pouco volume de chuvas, deve colocar no mercado cerca de 6 milhões de sacas.

Castelo do Café

O projeto da família Charbel era criar um conceito único em cafés especiais e assim nasceram as marcas Café Salomão e Rei Davi. Em seguida, veio a necessidade de construir uma área de armazenamento.

Aperfeiçoada pelo arquiteto João Previeiro, o armazém adquiriu a forma de um castelo medieval, inspirado em similares europeus. Hoje, ele abriga os processos de produção do café, da produção ao empacotamento e uma cafeteria.

A partir de 2022, a edificação deverá ganhar uma nova destinação: será criado o Museu do Café. Desde que foi inaugurado, em 2018, o castelo tem recebido cerca de mil pessoas, em média, nos finais de semana. 

“Será o primeiro museu dedicado inteiramente ao café no mundo”, comemora Davi Charbel. A proposta, segundo ele, é narrar toda a história do café no mundo e também a dos produtores de várias regiões de Minas.

Localizado a 3 km de Manhuaçu, na Zona da Mata mineira, uma região com a economia toda voltada para a produção cafeeira, o castelo tem o cenário perfeito: está cercado de plantações de café.

Outras metas da família Charbel é tornar suas duas marcas referências em cafés especiais e implantar sinalização turística na região, essa última com apoio do vereador Administrador Rodrigo. “A ideia também é colocar Manhuaçu no mapa turístico de Minas”, conclui.

Serviço:

O castelo pode ser visitado nos finais de semana e feriados, das 10h às 18h. O ingresso custa R$ 5.

 

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