Círculo Dourado

Confira quais são os atrativos islandeses na ausência da aurora boreal

Grande passeio cobre alguns dos pontos turísticas mais próximas de Rykjavík: Pingvellir Park, os gêiseres, a cachoeira Gullfoss e o vulcão Hekla

Por Paulo Campos
Publicado em 10 de novembro de 2018 | 04:00
 
 
 
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O que a Islândia tem de sobra? Água! É o bem mais precioso e abundante do país – 99,99% (pasmem!) da energia elétrica vem de fontes renováveis. Os rios têm – e quase tudo lá – nomes impronunciáveis, geralmente os das geleiras que o formaram. E cruza-se a todo momento com um deles; em sua maioria, esses cursos d’água límpidos formam quedas, das modestas às estrondosas, cujo som se propaga à distância. Toda essa água é potável e pode ser bebericada da torneira.

As cachoeiras são o esplendor do turismo islandês. Na ausência da aurora boreal, que colore o céu de verde no inverno, de setembro a março, são as cachoeiras o espetáculo do verão islandês. Gratuitos, os atrativos naturais contam com pouca infraestrutura de visitação, no máximo uma passarela, um mirante, uma delimitação por cercas. O turista pode se aproximar ao máximo dessas belezas naturais. Com a exceção da Glymur, a mais alta da Islândia, as cachoeiras têm o sufixo “foss” – a maior da Europa é Detifoss, a mais popular; Gullfoss; a que me encantou, Godafoss, com suas incríveis águas azuladas.

Ao sul

Como viajei pelo oeste e pelo norte da Islândia, caminho inverso ao da maioria dos turistas que deslocam para o sul, o tempo curto não permitiu visitar outros três cartões-postais: Seljalandsfoss, onde você pode passar por trás do paredão de água, Skógafoss, cenário da série “Game of Thrones”, e Kirkjufellsfoss, na península de Snaefellsnes – foto nesta página– que forma um belo conjunto com montanha ao fundo.

Enxofre

Uma das coisas que você também vai perceber em uma viagem à Islândia é um cheiro de enxofre no ar. Explicando: pelo fato de o país ter muitas usinas geotérmicas e um solo vulcânico, as rochas que servem de filtro para água são aquecidas com enxofre e levadas diretamente para as torneiras. No banho, percebe-se isso claramente: é preciso deixar a água correr por 15 segundos para o cheiro desaparecer e a fervura baixar, com o risco de chamuscar a pele.

 

Golden Circle

O Círculo Dourado é o passeio mais próximo a Reykjavík. Estão nessa região os principais atrativos da Islândia – o Pingvellir National Park, o gêiser Strokkur, a cachoeira Gullfoss e o vulcão Hekla. As mudanças climáticas repentinas na Islândia recomendam capa de chuva, calçados e roupas impermeáveis. Guarda-chuva não resiste aos ventos.

No Circulo Dourado. Nossa primeira parada é em Skálholt, antigo bispado onde funcionou a capital da Islândia de 1058 a 1795, período em que o país se converteu à região luterana – hoje são 90% de cristãos. Ali está também, segundo a guia, “um elefantinho branco”, uma réplica milionária de uma antiga casa islandesa, considerado um monumento à corrupção

 

Cachoeira dourada e o espetáculo de Strokkur

Até o gêiser Strokkur, vamos ver fumaças brotando do solo. Estamos a caminho de Gullfoss, a chamada “Cachoeira Dourada”, que deságua em um penhasco em forma da letra V e pode ser admirada de mirantes em diversos níveis, o mais alto a 107 m. É talvez a única em nosso roteiro que oferece uma modesta estrutura para receber os turistas, com centro de visitantes com cafeteria, lojinha de suvenires, estacionamento e trilha de acesso.

Para nós, brasileiros, que temos as cataratas de Iguaçu, a Cascata Dourada impressiona menos, mas essa é apenas uma das inúmeras quedas-d’água que você vai contemplar em um período de tempo na Islândia. Gullfoss está a menos de dez minutos de carro do Vale Geotérmico Haukadalur, com afloramentos aquíferos termais muito próximos um do outro, a maioria deles adormecidas. Essas poças fervem água à temperatura de 90ºC.

Confesso que a região dos gêiseres não é tão linda como se observa nas imagens da internet. A maior curiosidade islandesa é um círculo delimitado de gêiseres, num lugar que é quase um lamaçal. Strokkur, o único em atividade, explode em intervalos de cinco a dez minutos – a emoção está, em parte, na espera –, formando uma bolha azulada e esguichando água a 30 m de altura. Se você não quer se molhar todinho, recomendo distanciar-se ao máximo.

 

Para tocar em dois continentes

A menos de 60 km de Strokkur, Pingvellir National Park é uma instituição para os islandeses e Patrimônio Natural da Humanidade. O nome do parque significa, literalmente, “lugar de reunião popular”, e foi lá que ocorreu o primeiro parlamento do mundo, no ano de 930. À beira do lago Pingvallavatn, o maior de água doce da Islândia, trata-se de um parque rochoso, sem árvores. Uma piada local diz que para você sair de uma mata, basta ficar de pé.

O parque ainda oferece uma experiência única – atravessar um cânion e tocar com as mãos duas placas tectônicas, a norte-americana e a Eurásia, que se distanciam cerca de 2,5 cm uma da outra a cada ano. A distância mínima hoje é de 40 m e a máxima, de 4.000 km.

O desafio é percorrer 11 km no cânion até onde os pés aguentam – estacionamentos estrategicamente posicionados são um alívio para quem desiste. O parque está pontuado por fraturas, hoje rios de águas cristalinas, com pequenas quedas-d’água, como Öxarárfoss, que pode ser contemplada de pertinho.

Para mergulhadores experientes, o desafio é descer 24 m, à temperatura de 4ºC, em uma fenda entre placas tectônicas, uma paisagem submersa de vales, falhas e fontes de lava formados pelo afastamento gradual entre ela.

 

Para percorrer a Islândia

Locomoção. O transporte na Islândia é único: o carro. Não há ferrovias nem é bom contar com o transporte marítimo. Uma única rodovia, a Número 1 (ou Ring Road), corta o país de sul a norte, às vezes margeando o litoral. É a partir dela que você pega as estradas vicinais até os atrativos.

Estradas. Detalhe que chama atenção são as estacas amarelas nas estradas, que indicam até onde vai o volume de neve no inverno. Outro é a falta de acostamento e as poucas placas de sinalização. A paisagem é tão vasta que, de repente, só sua van estará na estrada, mais nada.

Estações. O período lotado é o verão (abril a agosto). Nessa época, são poucas as acomodações, e recomenda-se reservar passeios com antecedência; no inverno (setembro a março), as estradas são fechadas por conta da neve. Para os amantes da direção, o aplicativo 112 é uma mão na roda

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