Com cinquenta anos completados em 3 de abril, o Parque Nacional da Serra da Canastra ainda não é centenário, mas vem sendo estudado e visitado há séculos por naturalistas, como o francês Auguste de Saint-Hilaire, que deixou como legado o livro "Viagens às Nascentes do Rio São Francisco e pela Província de Goiás", hoje a principal referência de estudo do Cerrado.
Pode-se dizer, sem erro, que o naturalista francês é o pioneiro do turismo ecológico no país. Ele chegou ao Brasil em 1816 e permaneceu até 1822. A caminho da então província de Goiás, desviou-se do roteiro inicial só para ver uma belíssima cachoeira de que ouviu falar, a Casca D’Anta, a primeira grande queda-d'água do rio São Francisco na serra da Canastra.
“Vou descrevê-la tal como apareceu aos meus olhos (...). Acima dela vê-se uma larga fenda na rocha. No ponto onde caem as águas, as pedras formam uma concavidade (...) ela não precipita das rochas com violência, exibindo, pelo contrário, um belo lençol de água branca e espumosa que se expande lentamente e parece formado por grandes flocos de neve", descreveu.
Casca d'Anta
Hoje, boa parte dos turistas que visitam Vargem Bonita tem como endereço a serra da Canastra e seu cartão-postal, a Casca d'Anta. Pode-se explorá-la na parte baixa, por meio do centro de visitante com passarelas e trilha, que fica a 25 km do município, ou na parte alta, usufruindo das piscinas naturais formadas antes da queda, um refresco no verão.
Visitar o parque administrado pelo ICMBio, por sinal, é um dos principais programas de ecoturismo empreendidos a partir de Vargem Bonita, uma das portas de entrada para a serra da Canastra. São, pelo menos, sete roteiros para visitar as principais atrações.
Uma dica é contratar a agência Caipirão da Canastra, de Claudimar Osvaldo Duarte. Oferecem-se passeios para grupos de quatro a sete pessoas com diferentes combinações de roteiros: garagem de Pedras com a cachoeira do Fundão (R$ 200); cachoeiras da Chinela e Casca d'Anta, mirante Capela Azul e praias do São Francisco (R$ 150); serra da Babilônia, mirante do Morro do Carvão e cachoeiras do Sileno e do Quilombo (R$ 170). Os preços são por pessoa.
Em toda a extensão de seu cume, a serra apresenta um vasto planalto irregular que os habitantes da região chamam de 'Chapadão'. Dali pude descortinar a mais vasta extensão de terras que os meus olhos já viram desde que nasci", afirmava Saint-Hilaire em seus relatos. Portanto, um dos pontos obrigatórios de passagem é o belíssimo Chapadão.
No percurso clássico do Chapadão, um veículo com tração 4x4 percorre a nascente do São Francisco, o Curral de Pedras, as cachoeiras de Rasga Canga, Alto da Cachoeira Rolinho e Casca d'Anta (R$ 150). O tour mais demorado circunda o Chapadão ao norte, percorrendo as cachoeiras do Jota e dos Bandeirantes e o vilarejo São João Batista da Canastra (R$ 200).
Cachoeira do Fundão
O percurso que escolhi para fazer foi o maior desafiador: a cachoeira do Fundão, uma espécie de versão miniatura da Casca d'Anta, a 80 km de distância de Vargem Bonita. Nossa primeira parada é na nascente do rio São Francisco, onde uma placa de pedra indica o lugar onde o Velho Chico começa a longa viagem de 2.800 km até desaguar no oceano Atlântico.
A próxima parada é no Curral de Pedras, o local onde as comitivas de tropeiros oriundas de outras regiões colocam o gado para pouso. Os muros de pedras sem argamassa estão em bom estado de conservação e, se visitados no final da tarde, são um ótimo local para o pôr do sol. No caminho, a garagem de pedra, hoje um mirante, facilitava o acesso à fazenda.
Na travessia no Chapadão, pode-se deparar com um tamanduá-bandeira, como foi o nosso caso, ou com lobo-guará. De um lado, campos limpos; do outro, campos rupestres. Os relatos de Saint-Hilaire já alertavam para a riqueza da flora: "À exceção da serra Negra (Sabará), não vi em nenhuma outra parte uma variedade tão grande de plantas quanto na serra da Canastra".
O Fundão é, depois de Casca d'Anta, a cachoeira mais bonita da região. O percurso de 60 km até a sede de uma antiga fazenda abandonada. De lá, são mais de 1.500 m até a queda-d'água. Por sinal, os piores metros já percorri na vida, paralelo ao curso d'água, subindo e descendo rochas de diferentes formatos e tamanhos, em um grande nível de dificuldade.
O deslumbre proporcionado pela queda-d'água faz esquecer o perrengue. As águas límpidas do rio Santo Antônio despencam de uma altura de 80 m numa piscina profunda e refrescante. Os ousados podem nadar e passar por trás da cortina d’água. Um detalhe: é recomendável um guia. Em muitas quedas, paga-se uma taxa que varia de R$ 20 a R$ 40.
Desde que reabriu após a pandemia, o Parque Nacional da Serra da Canastra não cobra taxa de entrada. Segundo o vigilante Jairo da Costa Pereira, em julho a unidade de conservação recebeu cerca de 120 visitantes por dia. Uma recomendação é levar protetor solar, óculos de sol, garrafinha de água ou algum lanche, porque não há nenhuma estrutura no parque.
Serviço
Onde contratar os passeios
Caipirão da Canastra Ecoturismo: Instagram / @caipirão_da_canastra, Facebook / Caipirão da Canastra ou (37) 98806-2010 (WhatsApp) ou (37) 99987-2653.