Acessibilidade

Ibitipoca ganha juliettis: conheça história do casal que criou cadeira adaptada

Equipamento permite que pessoas com deficiência possam explorar parques e fazer montanhismo

Por Shirley Pacelli
Publicado em 28 de janeiro de 2020 | 03:00
 
 
 
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A chuva deu uma trégua, o céu abriu e o sol apareceu para que a estreia de Simara Silva no lago dos espelhos, no Parque Estadual do Ibitipoca, fosse inesquecível. E foi. “Assim que soube da possibilidade, ela ficou ansiosa. Só a prainha que ela conhecia”, conta o pai Edison Fernandes da Silva, o Edinho. A adolescente de 15 anos e outras duas pessoas que têm mobilidade reduzida foram os visitantes escolhidos para inaugurar na última semana as juliettis, cadeiras adaptadas para trilhas, que agora vão estar à disposição do público no parque. A novidade vai permitir que amantes de ecoturismo com algum tipo de dificuldade de locomoção também possam conhecer as belezas naturais da unidade. 

Acessível

Simara e os pais vivem na cidade de Lima Duarte, ao qual o distrito de Conceição do Ibitipoca – vila onde localiza-se o parque homônimo – pertence. Edinho conta que, sempre que tem uma folga do trabalho como garçom, vai ao parque com a família. “Levo a Simara na cadeira comum. Dá trabalho: o caminho é acidentado. No lago dos Espelhos, com essa cadeira dela, é sem chance de eu ir.

Mas, com a julietti, sim: agora consigo fazer a trilha do parque tranquilamente. Já estamos pensando em ir à Janela do Céu”, conta, referindo-se ao principal cartão-postal do destino. São 16 km de percurso no total. 

Se depender de Simara, o passeio sairá logo. “Quero conhecer tudo”, brincou a jovem, que destacou o conforto do equipamento. 
Além dela, Tauana do Nascimento, de 12 anos, e Lucas José dos Santos, de 27, testaram as juliettis. A aprovação foi unânime. 

Agenda

As duas cadeiras adaptadas para o ecoturismo estão disponíveis ao público na unidade mediante agendamento. É preciso a ajuda de voluntários para conduzi-las nas trilhas. 

História de determinação, adaptação e amizade

Juntos há 15 anos, Guilherme Cordeiro, de 34, e Juliana Tozzi, de 36, se aventuravam estrada afora praticando montanhismo e escalada. Aos 29, Juliana teve câncer de mama. Superada a doença, eles decidiram ter um filho. Durante a gestação, ela descobriu uma síndrome neurológica rara. Benjamin nasceu no sétimo mês. Juliana ficou com sua mobilidade reduzida. 

Nada disso, porém, foi empecilho para o trio encarar (e vencer) novos desafios. Em 2016, Juliana fez o primeiro teste com a julietti – uma cadeira adaptada para trilhas – no Parque Nacional do Itatiaia. O equipamento foi desenvolvido por Guilherme, que sabia das demandas para a prática de montanhismo. “No Brasil não tinha nenhum equipamento para acessibilidade. A cadeira na Europa ia chegar aqui por R$ 30 mil com frete e impostos”, lembra. 

A iniciativa de desbravar montanhas juntos acabou ganhando visibilidade, e o casal resolveu ir além. Assim, surgiu o instituto Montanha para Todos (montanhaparatodos.com.br): um projeto para realizar o sonho de mais pessoas com mobilidade reduzida. O instituto sobrevive de doações. Com a verba arrecadada, cadeiras são doadas aos parques brasileiros para o uso comum e gratuito do público. 

Hoje já são 40 juliettis espalhadas pelo Brasil. Futuramente, o casal quer lançar uma plataforma online que facilite o encontro de voluntários de condução com viajantes com deficiência. 
Neste ano, Guilherme e Juliana vão subir as dez maiores montanhas do Brasil, passando pelas serras do Caparaó e da Mantiqueira e terminando o ano no monte Roraima. “Hoje a gente depende muito de amigos. É determinação, adaptação e amigos”, observa Guilherme, explicando como se lançam em tantas aventuras.

 

Ibitipoca é o primeiro parque do IEF a oferecer cadeiras adaptadas

As duas unidades de juliettis do Parque Estadual do Ibitipoca foram adquiridas com fundos arrecadados em um jantar beneficente. Cada cadeira custou cerca de R$ 5.000. Interessados em usá-las devem fazer um agendamento pelo e-mail peibitipoca@meioambiente.mg.gov.br. O parque vai oferecer as duas unidades gratuitamente durante o horário de funcionamento, das 7h às 17h. 

A condução da cadeira fica por conta dos interessados em fazer a trilha. Cada tipo de circuito tem uma orientação exata do número de condutores. A Janela do Céu (16 km), por exemplo, precisa de oito pessoas. 

O parque Nacional da Serra do Cipó, no distrito mineiro de Santana do Riacho, tem o equipamento desde 2016. Reservas podem ser feitas pelo telefone (31) 3718-7484. 

 

ACESSIBILIDADE NOS PARQUES BRASILEIROS

Pq. Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO)

Tem uma trilha suspensa de madeira, de 230 m de extensão, com acessibilidade. Pessoas com mobilidade reduzida podem chegar até as corredeiras, um dos atrativos do parque. 

Pq. Nacional do Iguaçu (PR)

Cadeirantes podem fazer o passeio de barco Macuco Safari, que tem estruturas adaptadas.

Pq. Nacional Marinho de Fernando de Noronha (PE)

Conta com trilhas acessíveis para os principais pontos de visitação. São mais de 1.500 m. Destaque para a trilha do Golfinho e para o percurso até a praia do Sueste, que conta com rampa e cadeiras especiais para entrar na água. 

Pq. Nacional da Tijuca (RJ)

A trilha Caminho Dom Pedro Augusto, no setor A, foi reestruturada para se tornar acessível. É mais larga que os trajetos convencionais. 

 

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