Sul de Minas

Maria da Fé abre oficialmente a colheita do azeite na serra da Mantiqueira

Secretário Leônidas Oliveira colhe as primeiras azeitonas; expectativa é superar os 60 mil litros de azeite na safra 2024

Por Paulo Campos
Publicado em 12 de janeiro de 2024 | 09:42
 
 
 
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Conhecida como a cidade mais fria de Minas Gerais, Maria da Fé leva também a fama de ter as maiores plantações de oliveiras do Brasil. Nesta quinta-feira (11), a cidade abriu oficialmente a colheita da azeitona e a produção de azeites extra virgens da safra 2024. Depois da queda da produção no ano passado, devido às mudanças climáticas, a expectativa deste ano é superar os 60 mil litros de azeite.

Convidado para colher as primeiras azeitonas em oliveiras centenárias plantadas na principal praça da cidade, o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira, exaltou o turismo de experiência na região e as rotas de azeite que hoje atraem turistas de várias regiões do país. "Temos muitos produtos característicos nossos, como a mandioca, o ora-pro-nóbis, o café. Nos últimos anos, Minas Gerais se torna mais importante ainda quando agrega novos produtos", afirma.

Nessa região, a olivicultura movimenta o turismo e gastronomia há uma década e meia. Dos dez produtores locais, ao menos quatro ou cinco oferecem uma imersão na produção do azeite, incluindo visitas aos olivais para colher o fruto e conhecer o processo de extração e produção, degustações e harmonização com almoços ou jantares em restaurantes e comercialização de diversos produtos.

Números promissores

No ano passado, a safra produziu 60 mil litros de azeite

 

Na abertura da colheita, uma estrutura foi montada no prédio da antiga ferroviária, datada de 1891, hoje transformada em centro cultural, para os convidados conhecerem outros produtos derivados da olivicultura, como o artesanato da cooperativa Gente de Fibra, feito a partir dos troncos de árvores, e os cosméticos do Jardim Secreto, entre sabonetes, cremes, aromatizadores, saches, cremes hidrantes e protetores labiais.

Durante o evento, Pedro Moura, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), revelou os números promissores da olivicultura na região da Mantiqueira, que hoje engloba, além de Minas Gerais, os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. São ao menos cerca de 200 produtores em 80 municípios, 3.000 hectares plantados, 1 milhão e 200 mil pés e 35 agroindústrias.

“A olivicultura está muito associada ao turismo rural e gastronômico”, destacou o engenheiro agrônomo. Neste ano, a Epamig espera superar os 60 mil litros produzidos de 2023. O recorde de produção foi atingido em 2022, com a extração de 120 mil litros. “Não sabemos se vamos conseguir chegar novamente nesse recorde, mas a expectativa é muito boa”, enfatiza.

A história

A Fazenda Fio de Ouro cultiva as oliveiras nas encostas das montanhas

 

A história conspira a favor desde 29 de fevereiro de 2008, quando foi extraído em Maria da Fé o primeiro azeite extravirgem brasileiro. O município, até então conhecido pela produção de batata, viu as oliveiras ganharem espaço nas propriedades e movimentar outros setores da economia a partir dos anos 30, quando o português Emílio Ferreira dos Santos adquiriu um terreno na cidade, trazendo seis mudas da planta.

As primeiras azeitonas foram colhidas em 1960, e 14 anos depois, em 1974, foi criada a Epamig. Desde então, os pesquisadores se debruçam na missão de fazer o cultivo da planta em maior escala. Este ano, segundo Pedro Moura, a Epamig completa 50 aos de pesquisa e tecnologia. No ano passado, foi celebrado os 15 anos da primeira extração.

Em 2009, um grupo de produtores criaram a Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (Assoolive), que utiliza da tecnologia desenvolvida pela Epamig para produção de azeite. É o caso de Luís Antônio, um dos 38 associados da entidade que produz em sua propriedade no bairro rural Mata do Isidoro 800 pés de oliveiras que produzem o azeite João de Barro.

Ao longo dos últimos 15 anos, a olivicultura se expandiu para vários outros municípios da serra da Mantiqueira, ganhou a adesão de novos produtores, associação e marcas que já despertam o interesse dos consumidores. Hoje, cultivam-se as variedades Arbequina, Arbosana, Koroneiki, duas linhagens de Grappolo, além do fruto desenvolvido pela Epam que resulta em um azeite encorpado, com mais picância e amargor moderado.

Colheita uma vez por ano

O produtor Luís Antônio, da Assoolive, e a degustaçao com dez marcas produzidas em Maria da Fé

 

Segundo Antônio, o investimento leva de três a quatro anos para a primeira colheita. Para florescer, as oliveiras dependem de condições climáticas (mais de 300 horas de frio e temperaturas abaixo de 12°C) e altitudes acima de 1.000 m. A florada é nos meses de agosto e setembro, quando não há incidência de chuvas. Já a colheita acontece uma única vez por ano, de janeiro a março.

Os esforços no desenvolvimento de novas tecnologias de propagação e manejo das oliveiras têm dado bons resultados. Os azeites da Mantiqueira têm conquistado prêmios em concursos internacionais. Em 2022, a “Forbes Brasil” elegeu oito produtores brasileiros no Ranking Mundial do Azeite, entre eles o Monasto, da Fazenda Santa Helena, de Maria da Fé, e Orfeu, da Fazenda Sertãozinho, de Poços de Caldas. O que é produzido, no entanto, não corresponde a 3% do que o país consome.

Dia de campo

O Azeitech acontece no dia 2 de fevereiro em Maria da Fé

 

Toda essa história será revivida no dia 2 de fevereiro, quando a Epamig promove mais uma edição da Azeitech, com a realização do 19º Dia de Campo e da 9ª Mostra Tecnológica no Campo Experimental de Maria da Fé, além de uma feira gastronômica. O evento reúne produtores, técnicos, pesquisadores e estudantes para debater a cadeia produtiva.

As palestras de abertura versarão sobre as projeções climáticas para a olivicultura, os aspectos gerais de manejo e cultivo, as cigarrinhas como inseto vetor da xylella fastidiosa e as doenças causadas por fungos. Também será reinaugurada a nova agroindústria da Epamig, com investimento de R$ 2 milhões do governo de Minas, através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sede).

Vinhos

Os parreirais da Vinícola Lorenzo, na Mantiqueira: produção de vinhos é recente

 

Além de ser conhecida como a “cidade das oliveiras”, Maria da Fé também começa a produzir vinhos. Leonardo Lorenzo, da Vinícola Lorenzo, é um exemplo. O empreendedor começou a produzir vinhos em 2019 e já está na quarta safra. “A região é perfeita para vinhos por causa do clima e da altitude”, explica. Hoje, produz a bebida com diversas castas, entre elas a Pinot Noir. A perspectiva deste ano é produzir cerca de 5.000 garrafas.

Em época de Vindima (colheita da uva), Lorenzo abre à vinícola aos visitantes para participar da colheita, conhecer o processo de produção e fazer a degustação. “Aqui vai ser um polo importante de vinho”, sublinha. A vinícola não cobra visitação, apenas pela degustação. O visitante experimenta três rótulos da bebida, harmonizados com os queijos, os pães e os azeites produzidos na própria região.

Segundo Janilton Prado, presidente da IGR Caminhos da Mantiqueira e secretário de Cultura, Esportes, Lazer e Turismo de Santa Rita de Sapucaí, o turismo de experiência é oferecido na região Mantiqueira sob o tripé café, azeite e vinho. “O turismo de experiência foi impulsionado pós-pandemia e se consolidou. Nossa região é formada por 16 municípios e já está bem-estruturada com novos receptivos para receber os visitantes”, enfatiza.

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