"Hinos do Brasil"

Palácio da Liberdade: conduzido pela música e pelas belezas do palacete clássico

Exposição que será aberta nesta terça (27/4) é o mote para se conhecer um dos atrativos icônicos da praça homônima

Por Paulo Campos
Publicado em 26 de abril de 2022 | 08:00
 
 
 
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O palácio que tem liberdade no nome vai dar um motivo a mais para o belo-horizontino conhecê-lo por dentro. Será inaugurada nesta terça-feira (26)  a exposição "Já Raiou a Liberdade: Hinos do Brasil", com a coleção de manuscritos originais de hinos nacionais brasileiros trazidos no dia 19 da Biblioteca Alberto Nepomuceno da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro para o Arquivo Público Mineiro, na capital mineira.

O público poderá apreciar a exposição aos sábados e domingos, das 10h às 16h, mas precisa retirar antecipadamente os ingressos gratuitos na quinta e sexta, a partir das 8h, no site da Sympla. "A visita aos hinos vai ser incorporada ao programa educativo e receptivo do Palácio da Liberdade", informa Carolina Ribeiro, coordenadora do termo de parceria entre o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG) e a APPA Arte e Cultura.

"A exposição quer, por meio do turismo cívico e cultural, oferecer aos visitantes, a oportunidade inédita de conhecer mais de nossa história. O setor educativo do Palácio da Liberdade estará, a partir desta semana, disponível para oferecer essa bela experiência e mostrar a importância de Minas Gerais para o país. Foi aqui, nas mãos dos inconfidentes iluministas e de nossos artistas, que explodiu os ideias de liberdade na ação e na arte", afirma Leônidas Oliveira, secretário de Estado de Cultura e Turismo.

O belíssimo palácio de estilo eclético, erguido em uma colina na época da construção da capital mineira, em 1897, é hoje, sem dúvida, o maior ícone da praça homônima e uma testemunha das transformações pelas quais passou a cidade. Seu interior, no entanto, ainda é mistério para muitos moradores ­— as visitas guiadas foram retomadas a partir de outubro do ano passado, depois de terem sido suspensas em 2020 por causa da pandemia.

A exposição

Com curadoria de uma comissão formada por membros da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult-MG) e Arquivo Público Mineiro e coordenada pelo jornalista Sérgio Rodrigues, presidente da Empresa Mineira de Comunicação (EMC), o Salão de Banquete e seu destaque — a mesa de madeira de 50 lugares — será o cenário da exposição. "A gente optou por não incrementar o palácio, porque ele é em si magnífico", reconhece Rodrigues.

Duas flâmulas na entrada da avenida Cristovão Colombo sinalizarão a entrada para a mostra. Ao chegar ao palácio, o visitante será acolhido pela equipe da APPA, receberá uma pulseirinha e será conduzido ao torreão, onde receberá as informações sobre as regras de visitação. Serão disponibilizados cerca de 100 ingressos por dia — grupos de 20 pessoas a cada hora —, porque o palácio ainda mantém os protocolos de segurança sanitária.

A escolha do Salão de Banquete para a exposição "Já Raiou a Liberdade: Hinos do Brasil" deve-se a sua amplitude. Ele tem mais espaço, o que facilita a locomoção, e amplas portas que se comunicam com outras áreas, como a varanda posterior e a Sala do Almoço, aposento de ambientação mais sóbria e mesa com 12 lugares. A visita permitirá o acesso de 20 pessoas por vez para contemplar os manuscritos, que estarão protegidos por uma redoma de vidro. 

Em torno da mesa estarão nove QR Codes com passagens referentes à história do Brasil, aos personagens da família real e aos compositores que produziram as peças musicais, entre eles o lusitano Marco Portugal, que se tornou professor de música da família real e diretor de teatros da Corte, e o austríaco Sigismund Neukomm, que aproximou a música brasileira do estilo clássico vienense. A exposição revela ainda o gosto de dom Pedro I pela música — o imperador compôs hinos, como o da Carta Constitucional e o da Independência.

Um programa de rádio, produzido como antigamente produzido pela rádio Inconfidência, guiará o visitante pela história do Brasil, e os hinos serão tocados para inserir o visitante na atmosfera da exposição. Ela faz parte, segundo Rodrigues, de um projeto maior, permanecerá no palácio até 7 de setembro e seguirá depois para as cidades de Ouro Preto, Sabará, Caeté, Nova Lima e Santa Bárbara, escolhidas pela comissão por terem algum envolvimento com a Inconfidência Mineira.

"Essa é a primeira vez que os documentos originais dos hinos são exibidos em público, e justamente no ano em que se comemora o bicentenário da Independência do Brasil. Esse é um momento único ver os manuscritos da nação que falam de liberdade em um momento importante de nossa história. Liberdade essa que ficamos privados recentemente. É muito interessante quando fazemos um paralelo daquela época com a pandemia", destaca Sérgio Rodrigues.

Tour pelo palacete

Para Tatiana Correia, gerente de promoção do Palácio da Liberdade, a exposição será um mote para as pessoas conhecerem o palacete. "O público geralmente fica encantado com a escadaria, a vista da praça do parlatório e o Salão do Banquete", conta a historiadora.

Logo após a entrada no hall principal, o visitante seguirá o tapete vermelho que leva à magnífica escadaria de ferro batido em art nouveau, com ornamentação floral, produzida na Bélgica. No segundo pavimento, o principal cômodo é o Salão de Honra, posicionado antes da varanda parlatório, que oferece uma bela vista da praça da Liberdade. Os destaques são cinco telas pintadas no teto pelo artista Antônio Parreiras em 1925, retratando o deus grego Apolo, e painéis junto às paredes com representações femininas das artes (poesia, escultura, pintura e música).

Desse salão se visualiza duas áreas laterais: o Salão Dourado, decorado em tons de rosa e dourado, com vidraças em cristal ornadas por Frederico Steckel, lustre em bronze e cristal, peças de porcelana e esculturas em mármore de carrara, e a Sala de Música, com pinturas com flores típicas de Minas, teto com representações de instrumentos musicais e um piano de calda Bernstein de 1920. Em várias salas, estão pisos de parquet e móveis estilo Luís XVI.

A Sala da Rainha ficou conhecida assim por ter sido usada para os chás da tarde por ocasião da visita dos reis belgas à cidade em 1920. Ele também hospedou a rainha Elizabeth I. Há móveis dourados e um belo lustre. Enfim, o Salão de Banquete, na área central do palácio, possui possui pilastras com pinturas que simulam mármore, arrematadas em base dourada, uma mesa retrátil de madeira de 50 lugares e quatro painéis atribuídos a Frederico Steckel.

De volta ao hall da escadaria, a surpresa é o lustre em bacarat em dourado e cristal com 40 tulipas e uma cúpula quadrada onde se destacam quatro painéis alegóricos que personificam a liberdade, a fraternidade, a ordem e o progresso. Sobre a cúpula, uma curiosidade: a inscrição do lema dos inconfidentes, "Libertas quae sera tamem" (na tradução, "liberdade ainda que tardia"), depois adotado na bandeira de Minas Gerais. 

De hall, pode-se admirar um dos últimos espaço do tour, o Salão do Couro, mobiliado com estofados em couro e teto ornado com caixotões em relevo feitos de papel machê.

Jardins

De volta ao primeiro andar, descendo mais uma vez a imponente escadaria, o tour passa pelo gabinete, pela sala de exposições temporárias — a mostra "Leituras Negras" evidencia o protagonismo da população negra na construção da capital mineira —, pela Sala de Retratos, com reunião de retratos de todos os governadores de Minas Gerais, e pela Sala de Cinema, que abriga antigos projetores com lanterna a carvão, datados de 1948.

O tour se encerra nos jardins do palácio — há, inclusive,  a opção de ingressos para apenas visitar esse espaço. Eles passaram por modificações e intervenções ao longo dos anos, que alteraram o uso de seus espaços e reformularam seu paisagismo. Em 1997, em comemoração ao centenário da capital mineira, os jardins ganharam um novo projeto paisagístico feito por Júnia Lobo, com um traçado mais geométrico e a inclusão de plantas tropicais.

Nos jardins, elementos do projeto original permanecem até hoje, como o quiosque —construído com utilização da técnica das rocailles, ornamentos feitos em cimento armado simulando formas e texturas de cipós, troncos de árvores e rochas —, a gruta que reproduz estalactites e estalagmites, o orquidário com fontes e bancos projetados por Paul Villon e um conjunto de estátuas de mármore. Dois edifícios modernistas também foram construídos no fundo do palácio: a capela de Santana (1958) e o Palácio dos Despachos (1967).

Visitas mediadas

Nas últimas semanas, ações da APPA Cultura e Arte têm incentivado a visitação aos jardins. São oferecidas visitas mediadas e brincadeiras, como Caça aos Detalhes, para motivar o público a explorar a área. Também uma série de vídeos curtos de até um minuto foram lançados em seu no Youtube para revelar o acervo e detalhes da construção da edificação. Quem visitar o palácio todo primeiro domingo do mês também pode assistir a troca de guarda.

Serviço

O quê: exposição "Já Raiou a Liberdade: Hinos do Brasil"

Onde: Palácio da Liberdade

Quando: A partir de 30/4 a 7/7

Visitação: Sábados e domingos, das 10h às 16h

Ingressos: Gratuitos mediante retirada antecipada às quintas e sextas-feiras, a partir das 8h, no site da Sympla

 

Assista abaixo ao vídeo com a história da construção da capital mineira e do Palácio da Liberdade e um tour virtual pelos aposentos da edificação.

 

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